segunda-feira, 8 de novembro de 2021

 

 

ALTO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.609






Talvez o amigo já tenha tido dúvidas com esse negócio de Sertão, Alto Sertão e Sertão do São Francisco, em Alagoas. Pois bem, vamos tentar explicar esse caso, uma vez que os órgãos noticiosos usam com frequência essas denominações, mas não explicam, principalmente sobre os investimentos estaduais.  Tudo é Sertão mais existe essa divisória. Vamos esclarecer sobre o segundo caso, futuramente falaremos sobre os outros. Quando estamos nos referindo ao Alto Sertão, para quem vem de Maceió pela BR-316, passando em Santana do Ipanema, poderemos iniciar com Canapi, Inhapi, Mata Grande, Água Branca, Pariconha, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado e Piranhas. Para quem vem da capital por Arapiraca, Olho d’Água das Flores, a relação, sem detalhes, tem início com o último que será o primeiro, Piranhas e a sequência ao contrário. Este é o Alto Sertão composto por nove municípios.

E se você pretende conhecer o Alto Sertão Alagoano, pode iniciar tanto por Canapi quanto por Piranhas, pelo menos sai da rotina  litorânea e vem se deslumbrar com as características do interior longe da capital. Em Piranhas, Olho d’Água do Casado e Delmiro Gouveia (município), pode se deliciar com o rio São Francisco, seus cânions, suas barragens hidrelétricas, culinária, histórias de Lampião, a história de Delmiro Gouveia e sua fábrica de linhas, além de gozar de cidades ensolaradas e típicas sertanejas. Subindo o Maciço de Mata Grande, quer dizer que sobe para as partes montanhosas do Alto Sertão com Mata Grande, Água Branca, Pariconha e Inhapi. Poderá conhecer o cenário de Mata Grande, uma visão diferente entre montanhas, suas histórias cangaceiras e de mando em Alagoas no início do século vinte. Conhecer a igreja de ouro nas alturas de Água Branca e do alto avistar terras da Bahia, o Casarão da Baronesa e episódios do cangaço. Em Pariconha sobre as invasões de Virgulino Ferreira e em Inhapi fábrica de carros de boi. Isso fora tantas outras coisas que podem agradar.

Nas planuras de Canapi, culinária, fábricas de queijo e muitas histórias de luta para o progresso além do morro do Carié, o mais famoso inselberg de Alagoas, no Entroncamento Carié (hoje povoado e posto da PRF). Para que viajar por outros estados se você tem um mundo sertanejo a desbravar na sua terra, juntamente com sua família?! Aproveite o agora e o depois das duplicações rodoviárias. Como bem sabemos, as cidades de uma mesma região não representam unanimidade em tudo. Cada uma com suas características onde o visitante curioso vai se empanturrar de conhecimentos para o resto da vida.

Quantas coisas valiosas não foram ditas por conta da conta de uma crônica!

Meu, nosso, Alto Sertão Alagoano!

Salve.

OLHO d’ÁGUA DO CASADO (NIDE LINS)

 


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domingo, 7 de novembro de 2021

 

ENGRAXANDO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.608



Os homens gostavam de andar elegantes e cuidavam dos sapatos. Isso fez com que surgisse na frente do “sobrado do meio da rua”, um profissional com estilo diferente: uma cadeira de balanço, de ferro, trepada em alguma coisa e que ficava alta onde o cliente se sentava e parecia um rei. Ali João Engraxate, passou muitos anos engraxando sapatos entre a “Casa Triunfante” (miudezas) de José e Manoel Constantino e a “Autopeças” de Arquimedes. João Engraxate era pai do famoso cantor Cícero de Mariquinha e morava à Rua Antônio Tavares. Não sei se ele foi o primeiro engraxate da cidade, mas após sua instalação surgiram inúmeros outros profissionais, cujo ponto central era a Praça Manoel Rodrigues da Rocha, defronte a Matriz de Senhora Santana.

Essa humilde profissão, conseguiu retirar muitos adolescentes e mesmo adultos da marginalidade e da fome. Havia tantos engraxates no centro da praça que era difícil escolher. Porém, um deles destacou-se com o passar dos anos, e passou a ser o preferido da clientela desde que tivesse disponível. Chegou a colocar um trono parecido com o do João Engraxate, porém mais modesto. Era o primeiro a ser procurado e referência profissional em Santana do Ipanema. É que Zequinha adquiriu uma técnica em que fazia o sapato brilhar muito mais do que nas mãos dos seus companheiros. Foi o primeiro a usar tic-tac, um líquido para sapatos brancos e bicolores, moda dos boêmios da época. As mulheres também mandavam seus sapatos para a praça, principalmente para o falado Tic-Tac.

Muita gente boa ajudava o adolescente a comprar a caixa de engraxar com seu respectivo material: graxas, escovas, tintas, flanelas e papelões para não melar as meias do cliente.  A concorrência na praça obrigava aos rapazes tentar ruas e avenidas de maior movimento. Certa vez, Zequinha, a liderança, deixou a profissão e surgiu depois de camisa branca e gravata preta como motorista de ônibus, só não lembro se era da Progresso. Daí em diante os engraxates foram rareando e sumiram de vez. O próprio tênis chegou para ficar... E sem engraxador. Certa vez surgiu um camaleão na árvore que abrigava os profissionais, de outra feita foi um macaco prego que passaram a ser a diversão da Praça e cuidados pelos engraxates, mas desapareceram tão misteriosamente quanto chegaram.

Ah! Sertão em marcha.

ENGRAXATE ( crédito: DURVAL MOREIRA. COM).

 


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