domingo, 7 de novembro de 2021

 

ENGRAXANDO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.608



Os homens gostavam de andar elegantes e cuidavam dos sapatos. Isso fez com que surgisse na frente do “sobrado do meio da rua”, um profissional com estilo diferente: uma cadeira de balanço, de ferro, trepada em alguma coisa e que ficava alta onde o cliente se sentava e parecia um rei. Ali João Engraxate, passou muitos anos engraxando sapatos entre a “Casa Triunfante” (miudezas) de José e Manoel Constantino e a “Autopeças” de Arquimedes. João Engraxate era pai do famoso cantor Cícero de Mariquinha e morava à Rua Antônio Tavares. Não sei se ele foi o primeiro engraxate da cidade, mas após sua instalação surgiram inúmeros outros profissionais, cujo ponto central era a Praça Manoel Rodrigues da Rocha, defronte a Matriz de Senhora Santana.

Essa humilde profissão, conseguiu retirar muitos adolescentes e mesmo adultos da marginalidade e da fome. Havia tantos engraxates no centro da praça que era difícil escolher. Porém, um deles destacou-se com o passar dos anos, e passou a ser o preferido da clientela desde que tivesse disponível. Chegou a colocar um trono parecido com o do João Engraxate, porém mais modesto. Era o primeiro a ser procurado e referência profissional em Santana do Ipanema. É que Zequinha adquiriu uma técnica em que fazia o sapato brilhar muito mais do que nas mãos dos seus companheiros. Foi o primeiro a usar tic-tac, um líquido para sapatos brancos e bicolores, moda dos boêmios da época. As mulheres também mandavam seus sapatos para a praça, principalmente para o falado Tic-Tac.

Muita gente boa ajudava o adolescente a comprar a caixa de engraxar com seu respectivo material: graxas, escovas, tintas, flanelas e papelões para não melar as meias do cliente.  A concorrência na praça obrigava aos rapazes tentar ruas e avenidas de maior movimento. Certa vez, Zequinha, a liderança, deixou a profissão e surgiu depois de camisa branca e gravata preta como motorista de ônibus, só não lembro se era da Progresso. Daí em diante os engraxates foram rareando e sumiram de vez. O próprio tênis chegou para ficar... E sem engraxador. Certa vez surgiu um camaleão na árvore que abrigava os profissionais, de outra feita foi um macaco prego que passaram a ser a diversão da Praça e cuidados pelos engraxates, mas desapareceram tão misteriosamente quanto chegaram.

Ah! Sertão em marcha.

ENGRAXATE ( crédito: DURVAL MOREIRA. COM).

 


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