ENGRAXANDO
Clerisvaldo
B. Chagas, 8 de novembro de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.608
Os homens gostavam de andar elegantes e cuidavam dos sapatos. Isso fez com que surgisse na frente do “sobrado do meio da rua”, um profissional com estilo diferente: uma cadeira de balanço, de ferro, trepada em alguma coisa e que ficava alta onde o cliente se sentava e parecia um rei. Ali João Engraxate, passou muitos anos engraxando sapatos entre a “Casa Triunfante” (miudezas) de José e Manoel Constantino e a “Autopeças” de Arquimedes. João Engraxate era pai do famoso cantor Cícero de Mariquinha e morava à Rua Antônio Tavares. Não sei se ele foi o primeiro engraxate da cidade, mas após sua instalação surgiram inúmeros outros profissionais, cujo ponto central era a Praça Manoel Rodrigues da Rocha, defronte a Matriz de Senhora Santana.
Essa
humilde profissão, conseguiu retirar muitos adolescentes e mesmo adultos da
marginalidade e da fome. Havia tantos engraxates no centro da praça que era
difícil escolher. Porém, um deles destacou-se com o passar dos anos, e passou a
ser o preferido da clientela desde que tivesse disponível. Chegou a colocar um
trono parecido com o do João Engraxate, porém mais modesto. Era o primeiro a
ser procurado e referência profissional em Santana do Ipanema. É que Zequinha
adquiriu uma técnica em que fazia o sapato brilhar muito mais do que nas mãos
dos seus companheiros. Foi o primeiro a usar tic-tac, um líquido para sapatos
brancos e bicolores, moda dos boêmios da época. As mulheres também mandavam
seus sapatos para a praça, principalmente para o falado Tic-Tac.
Muita
gente boa ajudava o adolescente a comprar a caixa de engraxar com seu
respectivo material: graxas, escovas, tintas, flanelas e papelões para não melar
as meias do cliente. A concorrência na praça
obrigava aos rapazes tentar ruas e avenidas de maior movimento. Certa vez,
Zequinha, a liderança, deixou a profissão e surgiu depois de camisa branca e
gravata preta como motorista de ônibus, só não lembro se era da Progresso. Daí
em diante os engraxates foram rareando e sumiram de vez. O próprio tênis chegou
para ficar... E sem engraxador. Certa vez surgiu um camaleão na árvore que
abrigava os profissionais, de outra feita foi um macaco prego que passaram a
ser a diversão da Praça e cuidados pelos engraxates, mas desapareceram tão
misteriosamente quanto chegaram.
Ah!
Sertão em marcha.
ENGRAXATE ( crédito: DURVAL MOREIRA. COM).
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