CINEMA
E CARTOLA
Clerisvaldo
B. Chagas, 12 de novembro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.612
Acho
que o pipoqueiro não durou tanto tempo assim na porta do Cine Alvorada, em
Santana do Ipanema. E em porta de cinema, dificilmente falta a pipoca cheirosa
e quentinha ou da tradicional ou da moderna chamada de pipoca de isopor. Mas a
época não era de pipoca. Um cidadão chegado à cidade começou a vender alguns
preparados entre a porta de entrada e a bilheteria. O cheiro invadia a rua, mas
também penetrava as narinas dos mais quietos espectadores do interior do
cinema, na hora do filme. Alguns não resistiam e nem deixavam a fita terminar,
abandonavam tudo e corriam para um lanche. “E que negócio é esse que cheira
tanto, meu amigo?” E o homem respondia:
“É paio?” “E o que diabo é paio?” “Um tipo de linguiça do Rio Grande do Sul.
Algum
tempo depois o paio foi substituído por novo aroma que também provocava frenesi
no cinema de luxo lotado, do meu padrinho Tibúrcio Soares. “Você quer matar o
povo pela barriga, meu senhor? Que cheiro medonho é esse?” “Cartola, já ouviu
falar?” “Não”. Lembro tudo isso porque estou no momento me deliciando com uma
cartola tradicional. Coloca-se ovos na frigideira mais uma camada de queijo e
mais uma terceira camada de banana fatiada. Com manteiga... Irresistível,
deliciosa e saudável até para diabéticos. E se o que vale para o passado voga
para o presente, para que perder tempo pensando, na cozinha!
O Cine
Alvorada foi marco importante na pacata e progressista Santana do Ipanema, onde
não havia tantas diversões assim. Lugar de se divertir, namorar e matar o
tempo, o Alvorada era uma das melhores coisas da cidade ao lado do futebol
aguerrido do Ipanema no Bairro Camoxinga. Infelizmente a grande decisão do
comerciante e empresário Tibúrcio, em construir o Alvorada, estava bem perto do
limiar das diversões em casa e, o cinema decorado com motivos regionais, não
durou tanto tempo assim. Seu edifício descaracterizado continua servindo o povo
santanense como casa comercial também de luxo. Mas a saudade da pipoca, do
paio, da cartola do senhor José Gomes, continua cheirando através dos tempos atuais
na mente dos que narram os fatos inolvidáveis da terrinha.
CINE
ALVORADA (FOTO: B.CHAGAS).
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