quarta-feira, 24 de novembro de 2021

 

LAMPEÃO, VEADOS E ARTESÃOS

Clerisvaldo B. Chagas, 25/26 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.619



O talento está espalhado por todas as partes do mundo. Ele se sobressai no Nordeste com a arte do fabrico de artigos do couro, isso desde o início da ocupação pastoril nos sertões, forçadas pela exigência portuguesa. Inúmeras necessidades dos nativos passaram a depender dos artesãos em todos os tipos de matéria prima. Os artesãos em couro muito contribuíram fabricando bogós para armazenar água nas viagens, vestiram os vaqueiros da cabeça aos pés com chapéu, gibão, luvas, calça, calçados e ainda arreios para as cavalgaduras: selas, chibatas, cabrestos, rédeas e muito mais. Procuravam-se os melhores que eram chamados de “Mestres” e faziam jus ao título popular. Mas a arte não morre e vai varando os tempos cada vez mais robusta no século XXI.

O couro trabalhado predominava o do boi e do bode. Mas como encomenda especial, trabalhava-se com a pele do veado que foi rareando nas caatingas com extinção quase completa. Ele é macio e tem qualidade superior nas mãos dos artífices. Assim encomendávamos anda nos anos 60/70, alpercatas tipo xô-boi e chapéu de couro de veado. Nestas eras, ainda dava para se encomendar a própria carne do servo nas feiras do município de São José da Tapera. Mas tudo foi sumindo e evaporou. LAMPIÃO, que era exigente na qualidade dos seus trajes, gostava sim de uma xô-boi de couro de veado, talvez assim como o seu chapéu com enfeites únicos. Chegamos a usar ainda esse tipo de alpercata que foi substituída pelo sapato “Passo Doble”.

Alguns deputados e senadores do Nordeste, chegaram a exibir nas reuniões, essa moda de alpercata sertaneja de couro de veado feita pelos mestres artesãos nordestinos. Em Alagoas, deputados e acadêmicos lançavam a moda na capital. Poderíamos apontar mestres do passado da Rua Antônio Tavares e Travessa, mas que já estão em outra dimensão. Hoje não sabemos os endereços nem os nomes desses maravilhosos artistas do couro, mas eles estão espalhados por todo o Sertão e Sertão do São Francisco. Um grito de encomenda, ligeiro chega à casa de um mestre.

Infelizmente o couro dos veados da rua não prestam para sela, chapéu, gibão e alpercata. E o pior é que mudaram o “E”.

Fazer o quê?

ARTESÃO DO COURO (FOTO:  AUTOR NÃO IDENTIFICADO)

 

 


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