CHEGOU
CHEGANDO
Clerisvaldo
B. Chagas, 5 de novembro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.607
Quarta-feira última, portanto, já dentro do mês de novembro, bem perto do anoitecer, ela chegou, cabra velho, a trovoada. Muita chuva, relâmpagos e trovões abalaram Santana do Ipanema. Não sabemos informar sobre o caso na zona rural ou em outros municípios sertanejos, mas o que foi despejado na cidade, fora o medo que causou, agradou bastante. Nesta quinta-feira quis o fenômeno se repetir à mesma hora, com trovões e relâmpagos, mas a intensidade foi muito menor. Podemos dizer que foi um belo pé d’água que cercou todo o perímetro urbano. Sempre estamos a esperar as trovoadas a partir de novembro, mas não tão cedo assim; ainda mais duas vezes seguidas, coisa rara em nosso meio. É agora quando fechar a rama na Caatinga que o vaqueiro procura derrubar boi no mato.
Na
minha rua, o toró engrossou, os gatos apressaram os passos para o fogão de casa.
O trovão estalou, passou cachorro correndo que nem bala acompanhava. O
entregador de gás, escapuliu para um abrigo e um cavaleiro cruzou a rua que nem
um alucinado. Novos relâmpagos se abriram, nova zabumbada nos céus e o tufo d’água
fez riacho na sarjeta. Com estuque ou
com telhado, ninguém se furta a vistoriar o teto no interior da oca, embora muitos
tenham se jogado em baixo da cama diante dos arrotos sem freios dos trovões. Um
menino corajoso aproveitou a biqueira da esquina e sentiu cair o calção folgado
deixando a bunda de fora. A enxurrada viaja tranquila até o riacho Camoxinga, o
Salobinho, o Salgadinho ou diretamente para o rio Ipanema, captor de toda a
bacia da região.
A esperança
sertaneja se renova para o período novembro/abril em barreiros cheios,
barragens sangrando e açudes lado a lado. Mas, tudo isso são suposições para os
que vivem da terra, do criatório, da boa vontade dos que administram a Natureza
terrestre. De qualquer maneira já disseram os profetas modernos: “Depois dessa
pandemia nada será como antes, nada”. Portanto o jogo de xadrez poderá
continuar o mesmo, todavia com regras diferentes. A humildade do vivente tem
que ser muito maior do que a soberba tradicional humana. Sabedoria é aguardar
com a virtude da paciência os novos tempos traçados pelas forças soberanas. Já
é noite da quinta e o tempo continua abafado. Pingadeira no teto e nuvens indefinidas.
A Natureza é 10.
CHUVA
NA TERRA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Nenhum comentário:
Postar um comentário