domingo, 28 de novembro de 2021

 

ANTROPOFAGIA URBANA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.620





Santana do Ipanema Permaneceu décadas sem se expandir horizontalmente, graças as amarrações dos terrenos de periferia. Proprietários de terras não as vendiam, até que o prefeito Adeildo Nepomuceno Marques teve a coragem de desapropriar terras da margem direita do rio Ipanema. Hoje as terras desapropriadas deram origem aos bairros: Domingos Acácio, Floresta, Santo Antônio e fala-se também em Santa Luzia (antes era apenas uma rua).  A partir daí nenhum outro prefeito teve a coragem de desapropriar e a cidade passou a pertencer a uma segura camisa de força; Décadas e décadas se passaram com o marasmo monótono da mesmice. Há pouco tempo os proprietários de terras resolveram vender ou lotear por todas as periferias da cidade. Isso gerou uma expansão nunca vista antes com resultado de Antropofagia urbana-rural em Santana do Ipanema. Vejamos:

Na região norte o Lajeiro Grande se expandiu para a Rua das Pedrinhas, Quilombo e outros mais e já se encontra perto de englobar o sítio rural Barroso. Entre os fundos do antigo DNER, foi loteada uma fazenda que vai daí ao extremo oeste do Lajeiro Grande com o rio Ipanema. Na região Oeste da cidade a expansão ocupou o espaço por trás do casario da BR-316 no Bairro Barragem até as imediações do riacho rural Salobinho, afluente do Ipanema. Recebeu o nome pelo povo de Clima Bom. Do outra lado da BR-316, a expansão do Bairro Barragem se deu em direção ao Poço das Trincheira e montante do rio Ipanema. Conserva o mesmo nome, mas parece bairro novo.  Na região Leste, expandiram-se vertiginosamente os Bairro Lagoa do Junco e São Vicente em direção ao povoado São Félix, serrote Pelado, Riacho do Bode, Bebedouro e Santana – Maceió pelo BR-316.

Na Região Sul estirou-se o Bairro Floresta em direção à Serra da Remetedeira e do sítio Tocaias. O Bairro Domingos Acácio, puxou para as faldas do serrote do Cruzeiro (partes lateral direita e esquerda e para a Floresta. O Leste do bairro engoliu o sítio Cipó, parte do sítio Curral do Meio II e o sítio Lagoa do Mato. Surgiram ali respectivamente: o Bairro Santo Antônio, habitações continuadas da AL-120 e o loteamento Colorado que agora passou a ser Bairro Isnaldo Bulhões. Assim foram deglutidos pela expansão urbana horizontal os sítios rurais: Tocaias, Lagoa do Mato, Curral do Meio II e Cipó.  Em breve outros sítios estarão dentro do perímetro urbano.

É natural, porém com registro para gerações futuras, melhor.

EXPANSÃO PARA AS FALDAS DO SERROTE CRUZEIRO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

 

LAMPEÃO, VEADOS E ARTESÃOS

Clerisvaldo B. Chagas, 25/26 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.619



O talento está espalhado por todas as partes do mundo. Ele se sobressai no Nordeste com a arte do fabrico de artigos do couro, isso desde o início da ocupação pastoril nos sertões, forçadas pela exigência portuguesa. Inúmeras necessidades dos nativos passaram a depender dos artesãos em todos os tipos de matéria prima. Os artesãos em couro muito contribuíram fabricando bogós para armazenar água nas viagens, vestiram os vaqueiros da cabeça aos pés com chapéu, gibão, luvas, calça, calçados e ainda arreios para as cavalgaduras: selas, chibatas, cabrestos, rédeas e muito mais. Procuravam-se os melhores que eram chamados de “Mestres” e faziam jus ao título popular. Mas a arte não morre e vai varando os tempos cada vez mais robusta no século XXI.

O couro trabalhado predominava o do boi e do bode. Mas como encomenda especial, trabalhava-se com a pele do veado que foi rareando nas caatingas com extinção quase completa. Ele é macio e tem qualidade superior nas mãos dos artífices. Assim encomendávamos anda nos anos 60/70, alpercatas tipo xô-boi e chapéu de couro de veado. Nestas eras, ainda dava para se encomendar a própria carne do servo nas feiras do município de São José da Tapera. Mas tudo foi sumindo e evaporou. LAMPIÃO, que era exigente na qualidade dos seus trajes, gostava sim de uma xô-boi de couro de veado, talvez assim como o seu chapéu com enfeites únicos. Chegamos a usar ainda esse tipo de alpercata que foi substituída pelo sapato “Passo Doble”.

Alguns deputados e senadores do Nordeste, chegaram a exibir nas reuniões, essa moda de alpercata sertaneja de couro de veado feita pelos mestres artesãos nordestinos. Em Alagoas, deputados e acadêmicos lançavam a moda na capital. Poderíamos apontar mestres do passado da Rua Antônio Tavares e Travessa, mas que já estão em outra dimensão. Hoje não sabemos os endereços nem os nomes desses maravilhosos artistas do couro, mas eles estão espalhados por todo o Sertão e Sertão do São Francisco. Um grito de encomenda, ligeiro chega à casa de um mestre.

Infelizmente o couro dos veados da rua não prestam para sela, chapéu, gibão e alpercata. E o pior é que mudaram o “E”.

Fazer o quê?

ARTESÃO DO COURO (FOTO:  AUTOR NÃO IDENTIFICADO)

 

 


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