domingo, 21 de agosto de 2022

 

VENDE-SE O CARRO DE BOI

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.755


 

A visita não foi programada. Uma surpresa nas pesquisas sobre o padre Cícero, nos fizeram chegar até a casa do senhor Manoel Daniel Filho, após visita a uma área invadida pelo Ipanema na grande cheia deste ano. O lugar chamado “Volta” ou “Volta do Ipanema” – expressão muita usada no passado – hoje está bem habitada, às margens do rio, parte mais baixa no extremo oeste do Bairro São José. Entretanto, esse ponto onde o rio faz uma curva, daí a denominação, continua com os mesmos aspectos de antigamente. Ali as águas subiram muito e invadiram residências no final de ruas que se cruzam em forma de “L”.  Várias casas foram invadidas e outras derrubadas pela cheia. Até hoje permanecem os chamados “basculhos” secos nas pedras do Panema.

A cheia não chegara à casa do Sr. Manoel e podemos conversar à vontade na sua garagem em que está seu carro de boi de rodas de pneu, fruto de decreto do, então, prefeito Ulisses Silva, proibindo carros de boi de rodas de aros de ferro circularem no novo calçamento de paralelepípedos de Santana do Ipanema. Vendidos os bois, o carro bem feito aguarda comprador enquanto serve de depósito de madeira e panos do funcionário público aposentado. Seu Manoel fala da perna quebrada no seu trabalho caseiro, suas dificuldades para locomoção, mas não deixa em paz seus instintos de trabalhador: “enquanto descansa carrega pedras”, diz o homem conformado com sua deficiência. Devoto de Santa Quitéria, fala da vila pernambucana com grande propriedade.

Enquanto isso, sua esposa conta a graça alcançada com o padre Cícero do Juazeiro. Senhor Manoel Afirma sobre o carro: “Não tem uma folga em nada, é todo de craibeira e ninguém faz um igual a esse pelo preço que está à venda”. Continuo dialogando com aquele cidadão que eu, ainda criança e rapaz tanto o vi passando na minha Rua Antônio Tavares, ora a pé, ora comprando cinzas em um jumento, para os curtumes da Maniçoba. Agora na terceira idade. Nunca tive coragem de falar com ele, mas nas voltas que o mundo dá chego de cara com aquele adulto de outrora.  E com tantas conversas agradáveis – até parecia que queríamos descontar o tempo de tantas eras em nosso mutismo. Ele muito me agradeceu pela minha palestra e eu saí de alma vibrante de alegria, pela oportunidade que a vida me dava e pelo muito que aprendi naquela rodada de simplicidade, segredo da vida.

MANOEL DANIEL E SEU CARRO DE BOI, RODA DE PNEU (FOTOS: B. CHAGAS).


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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

LAGOS, LAGUNAS, LAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.754


Quando as águas se acumulam numa depressão, a grosso modo chamamos o local de lago. Caso o volume d’água não seja tão grande, damos o nome de lagoa. E se esta depressão com água tiver alguma comunicação com o mar, leva o nome de laguna. Na verdade, tudo é lago com seus apelidos, conforme suas características. Os dois lagos de Maceió, por exemplo, chamados lagoas Mundaú e Manguaba, nos seus vulgos são lagunas. Valendo-me de Elian Alabi Lucci, os lagos quanto à origem, podem ser: residuais, de erosão, de depressão, tectônicos, vulcânicos, de barragens e mistos. Os cursos d’água que se comunicam com os lagos são chamados afluentes e, os que ajudam no escoamento das suas águas de emissários.

Lagos residuais – provenientes de antigos mares bem extensos que regrediram. Exemplos: Cáspio e Aral.

Lagos de erosão - formados em antigas depressões, em geral pouco profundas, resultando do trabalho da erosão fluvial. São comuns na bacia do São Francisco, no Nordeste ou então escavados pelas geleiras como os da Finlândia. Descrevemos todos eles, do São Francisco, em nosso estado no livro “Repensando a Geografia de Alagoas” (inédito).

Lagos de depressão – que resultaram do acúmulo das águas pluviais e fluviais em depressões fechadas; exemplo Tchad, na Ásia.

        Lagos vulcânicos – formados pela acumulação de água em antigas crateras de vulcões, como o Crater Lake, nos Estados Unidos.

Lagos de barragens – formados por restingas ou cordões litorâneos que dão origem a lagunas, cujos exemplos são os principais lagos brasileiros. (Mundaú, Manguaba – Maceió)

Lagos mistos – Que possuem diversas origens, como, por exemplo, os provenientes de ação erosiva de geleiras, sobre zonas fraturadas da Terra como é o caso dos Grande Lagos da América do Norte e alguns lagos suíços.

Esperamos que o amigo ou amiga tenha gostado. Pena não vermos mais a matéria Geografia de Alagoas, em nossos currículos escolares. Só regressão.

LAGUNA MUNDAÚ EM TEMPO DE CHEIA (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO: REPENSANDO A GEOGRAFIA DE ALAGOAS).

 


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