quarta-feira, 26 de abril de 2023

 

AINDA FALTA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.873

 



Muitas coisas da história de Santana foram contadas, porém, outra parecem sem soluções. Pode ser até que apareça um pesquisador abnegado no futuro e resgate episódios que teimam em ficarem esquecidos. A grandiosa história do padre Bulhões é uma delas, outras são as epopeias do DNOCS e do DNER, em Santana do Ipanema, como base. Temos ainda a saga do coronel Lucena... felizmente esta já está sendo escrita e bem adiantada na obra. Mas ainda falta a vida do coronel Manoel Rodrigues da Rocha. Sobre esses assuntos, apenas fragmentos surgiram aqui ou acolá, mas o miolo não aparece, deixando escapar grande riqueza dos nossos anais completamente sem luz.

Por falar nisso, se não me engano, em torno de 1960, chegou a Santana do Ipanema, uma frota enfileirada de 60 jipes marca Willys, dando grande espetáculo pela rua principal da cidade. Diziam que esses resistentes veículos eram sobras da Segunda Grande Guerra e foram trazidos para o Sertão para serem vendidos a quem quisesse comprar e que isso iria facilitar o progresso da região. Não havia tantos automóveis assim na área sertaneja, tanto que havia uma senhorita conhecida como Maria José de Leuzinger que sabia de cor e salteado todas as placas de veículos e seus proprietários de Santana do Ipanema. Também não temos certeza se era dia de Carnaval, mas o fato é que isso causou grande alvoroço na cidade. O preço era bom, mas nem todo cidadão podia comprar um jipe.

Todos os veículos, entretanto, foram vendidos. E de fato, essas aquisições serviram muito ao desenvolvimento. O padre comprou, o médico comprou, o comerciante comprou... e muitos tiveram seus serviços facilitados na zona rural. O carro de boi, o cavalo, o burro... Iam ficando obsoletos com a entrada de motores em massa na Sertão. A transição que até os presentes dias nunca foi total, jamais desvalorizou os primeiros meios de transporte da época, apenas os ofuscou. A fama de bruto do jipe nunca saiu de moda. Podemos encontrá-lo hoje, sofisticado, metido à besta, mas sempre jipe, transmitindo força e segurança ao usuário.

Muitos jipes no mundo!

Bem que falta agora, uma Maria José para decorar placas e donos dos motores da Terra.

JIPE WILLYS (IMAGEM: Wikipédia/jipe willys.jpg\thumb\180p)

 


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terça-feira, 25 de abril de 2023

 

 

NO GRUPO ESCOLAR

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.872

  

O gosto pelo turno de aula dependia das circunstâncias. A professora tinha muita influência na vontade de assistir a aula ou não. Ali, no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, era servido como merenda, uma espécie de mingau no copo, bastante enjoativo e que às vezes a gente bebia, outras vezes derramava ao longo do pátio recreativo e arenoso. A diversão principal ainda era a ximbra, para meninos. De vez em quando surgia um “ganzelão” para correr por cima da murada de balaústre do grupo. Uma verdadeira loucura, como fazia o já rapaz Jorge de Leuzinger. Em um ano daqueles movimentados, surgiu uma equipe da Saúde vacinando contra a influenza. A vacina no braço era aplicada arranhando-se a pele com uma pena de escrever à tinta e que a marca ficava para sempre.

Ali, naqueles finais dos anos 50, não víamos a hora da batida de sineta, pela bedel dona Prisciliana, que anunciava o final das aulas.

Primeira grande escola do governo, fundada em 1938, foi o grande marco da Educação primária da terra. Ainda hoje suas finalidades continuam vivas, educando a juventude de Santana do Ipanema no Bairro Monumento. Estamos recordando porque estivemos no Posto de Saúde São José para tomar vacina contra a influenza e a bivalente ao mesmo tempo. Recordamos para quem não sabia que durante a Primeira Grande Guerra morreram milhões pelo mundo devido a essa gripe espanhola. Em Santana mesmo foi construída a igreja de São João no local Bebedouro contra essa perigosa gripe. O povo vinha do Bebedouro em procissão, pela noite, conduzindo velas e lanternas, entre orações e cânticos, pedindo São João contra a doença.

Mas se o grupo resistiu até hoje, a igreja de São João, construída pelo artesão de chapéu de couro João Lourenço, foi profanada, abandonada e terminou em ruínas. Não existe mais. Morreu assim como o seu fundador. E para uma doença que matou milhões de pessoas no passado, atualmente ainda é desconhecida para muitos e ironizadas por outros sua vacina. A humanidade evoluiu muito, porém, muitas cabeças ainda permanecem no obscurantismo medieval negando a religião e a ciência.

GRUPO ESCOLAR ATUALIZADO (FOTO B. CHAGAS/LIVRO 230)


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