segunda-feira, 23 de setembro de 2024

 

PRIMAVERA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 114

 



É, meus amigos e amigas, foi domingo, primeiro dia de primavera que fiquei eufórico por ter terminado o livro que estava escrevendo sobre o padre Cícero Romão Batista. Muitos percalços nesses 12 anos de pesquisas, inclusive o COVID. “Padre Cícero, 100 milagres Nordestinos”, agora foi para a segunda fase que é consultas a gráficas para orçamento. E com outras etapas, se Deus quiser, o livro será distribuído gratuitamente, primeiro entre os depoentes/testemunhos, depois aos romeiros que estiverem na Pedra do Padre Cícero no dia 20 de julho, em Dois Riachos, Alagoas. Grande romaria tradicional à Pedra pelo dia de morte do padre Cicero. Mas como ia falando, chegou a primavera trazendo esperanças para o nosso hemisfério e para todas as nossas almas.

O sertão, nesse primeiro dia da estação, amanheceu, nublado, úmido e ainda com as últimas friezas do inverno que se foi. As árvores da caatinga estão floridas se preparando para o Natal, a exemplo da belíssima craibeira de flores amarelas. Pela intensa arborização dos quintais de Santana, vamos notando a mudança do tempo com flores e frutos de época. Mesmo na arborização das ruas, diversas árvores como a Acácia, o Pau-Brasil... Vão soltando seus pequenos frutos que atapetam o chão. Os montes que circundam a cidade, convidam para um domingueiro passeio familiar. E pelas ruas da cidade, pelos sítios, pelos povoados, o ritmo febril de campanhas políticas, parece nem ligar muito para a Natureza. Mas a primavera avança acenando para o mundo.

Infelizmente, o rio Ipanema continua poluído, pelo próprio povo inconsciente. E como foi dito acima, faz parte de belas paisagens genuinamente sertanejas. Mesmo cheio de descartes dos poluidores, suas areias mostram muito o verde, formando um belo jardim entre os pedregulhos, bolsões de lixo, poços afogados e pedras lisas. E os jardins primaveris que se formam no trajeto do leito sem água, igualam-se a quaisquer outros belos jardins, mas também depende dos olhares do observador.

Pensamento positivo, leitoras e leitores para contribuirmos com uma PRIMAVERA verdadeira na faxina dos mundos e baseada no coração magnânimo do Grande Arquiteto do Universo.

IGREJA AO PADRE CÍCERO. LAJEIRO GRANDE (B. CHAGAS/ACERVO DO AUTOR).

 


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domingo, 22 de setembro de 2024

 

O HOMEM TEIÚ

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.113



 

O lagarto Tiú, Teiú ou Tejo, é muito inteligente, quase sempre ganha as brigas com as cobras e, sua carne com sabor galinha, é muito apreciada pelo sertanejo. Gosta de tomar o Sol da manhã esparramado nos lajeiros. Numa briga com a cobra, ao se sentir picado, abandona rapidamente a luta, vai morder uma batata contraveneno e retorna ao embate. O Tupinambís, assim como o Cágado ou Jabuti, já foram muito caçados e vendidos, principalmente para os farristas dos anos 60 em Santana do Ipanema. Com a caça proibida volta o fôlego a esses importantes animais da fauna nordestina.

Em Santana do Ipanema, entre os fundos das casas comerciais e o rio Ipanema, morava a família dos Biu. Pobre e amundiçada viviam principalmente de esgotar fossas e realizar os serviços mais sujos da “Matança”, assim chamado o lugar aberto de abate de bovinos. Diziam que comiam de tudo, cães, gatos e vísceras de animais. Dormiam em amontoados e os parceiros sexuais pertenciam a mesma família, pai com filha, mãe com filho e assim por diante. Isso são histórias contadas pelo povo. Entre os Biu, surgiu a figura carismático de um caçador de Tiú. Homem esmolambado, aparentando 60 anos, tinha as feições agradáveis e de aspecto permanentemente alegre. Era sempre visto entre o Beco São Sebastião (Comércio) e o Mercado de Carne. Usava um bornal velho sebento, tipo aió, onde guardava a caça e procurava comprador. Por onde o homem passava, chovia alegria no povo e vinha cumprimentos por todos os ângulos: “Teiú, Teiú, fala Tiú! Tudo bom, Tiú?”...

Nunca vi uma figura tão popular e querida igual ao caçador Tiú! Quantos e quantos políticos gostariam de possuir aquele carisma do homem esmolambado e paupérrimo que emergia e submergia no Beco São Sebastião! Gradativamente a família Biu desapareceu da terra santanense, provavelmente pelas condições contínuas da miserabilidade, sem médico, sem farmácia, sem dinheiro, sem a misericórdia dos grandes da cidade.  Assim, nem a força simples e carismática de Tiú, foi capaz de despertar solidariedade.

O Beco São Sebastião é repleto de histórias sertanejas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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