quarta-feira, 30 de outubro de 2024

 

SERTÃO ORNAMENTAL

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.139

 



A história se repete no Sertão quando se aproxima o Natal, descrito tantas vezes neste espaço. Quase todas as árvores sertanejas prestam tributo ao Criador dos Mundos.  Árbustos, cactáceas, árvores, arvoretas e gramíneas enfeitam parte do sertão diante dos olhos dos animais selvagens, domésticos e do ser humano. É o mandacaru, o facheiro, a coroa-de-frade, a favela, o alastrado o rabo-de-raposa, as margaridas do campo, o pereiro, o jasmim, a craibeira... E vamos nos deleitando com as variadas flores que surgem isolada ou não nas trilhas, nas veredas, nos caminhos, nas baixadas, nos cocurutos dos serrotes, nas beiras das lagoas. Em muitas dessas vezes nos sentimos pequenos, mínimos, sumidos, diante da grandeza da flora e sua homenagem ao Senhor Jesus e às suas criaturas.

E vamos terminando o mês de outubro numa primavera típica: dias ensolarados e quentes, noites úmidas e ventos frios nos conduzindo para novembro que às vezes nos brinda com trovoadas, primeiras. E como não temos mar, vamos marcando presença nos açudes, nas represas, nas praias do “Velho Chico” em Piranhas, Pão de Açúcar e se aventurando para as bandas de Belo Monte, Olho d’Água do Casado, Delmiro Gouveia...  Novembro, o mês tradicional dos ventos por aqui, há muito os antecipou e ainda continuamos vivendo essa realidade.  E se as matas, no geral ficam crestadas, pontos isolados da caatinga destacam-se com seus preciosos ornamentos ao viajor de olhares perscrutadores.

É por isso que também na paisagem urbana, vamos nos surpreendendo com as maquiagens das nossas damas representativas como a craibeira que surge por cima dos quintais nos pátios de escolas tais como A Francisco Correia e a antiga Helena Braga, já tem adolescente com mais de 15 metros de altura. Lançar um olhar de aprendizado aos vegetais neste período é prazeroso e cultural onde aprendemos com a Natureza a resistir, a acreditar, a ornar a alma e fortificar as virtudes. A aproximação do final de ano é mais um motivo de reflexão, na igreja, no quarto, na varanda, no alpendre, na rede...  Pois, como nos foi ensinado no catecismo da Igreja Matriz de Senhora Santana: “Deus está aqui, aqui, aqui, ali, em todos os lugares”, mas você é quem decide se quer se encontrar com Ele.

CRAIBEIRA NA ANTIGA ESCOLA HELENA BRAGA. FILHA AO LADO QUERENDO FLORAR. (FOTO: B. CHAGAS).


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terça-feira, 29 de outubro de 2024

SINUCA E VIDA

Clerisvaldo b. Chagas, 30 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.138




 

O salão de sinuca ficava no “prédio do meio da rua”, onde fora o armazém do senhor Marinho Rodrigues. Pertencia a Zé Galego, ex-jogador do Ipanema. Ainda estudando na escolinha de dona Helena Oliveira na Ponte do Padre, sentia grande atração por aquele melhor jogo que já provei na vida. Tinha até um colega nosso, já homem feito, família dos Bigula, que vinha a pé do sítio João Gomes para a escola e terminava sempre gazeando e indo parar no salão de sinuca como apreciador e apostador. Havia muitos bons jogadores, muitos nem dar para lembrar os nomes, mas o maior de todos para aplicar sinuca era o chamado Nego Dézio, também ex-jogador do Ipanema. Para enfrenta-lo só havia outro jogador que era o melhor em incestar. Portanto o duelo entre ambos era casa cheia e tempo de espetáculo no salão de Zé Galego.

Mas ali também se aprendia sobre a vida. Havia muitas reflexões como estas, tradicionais na sabedoria popular ou pensada na hora. Quando um jogador ficava alegre por iniciar ganhando, o parceiro dizia em voz baixa, resmungando: “Não existe Senhor do Bom Começo, somente Senhor do Bonfim”. Quando um dos jogadores queria fazer várias jogadas ao mesmo tempo incestando bolas e perdia uma dela, o parceiro dizia para a plateia: “Quem quer muito traz de casa”.  E ainda quando o adversário tinha muita sorte, mesmo na adversidade, o outro jogador retrucava: “Jumento carregado de açúcar, até o c... É doce”.  Em qualquer ambiente onde estejamos, seja no pior ou no melhor, aprendemos lições, chulas ou clássicas que nos servem de orientações na vida.

Mas também havia pessoas amadoras excelentes na sinuca, a quem chamávamos de ratos: Lembro de alguns deles: Tamanquinho, Remi, Tonho Bié e Carlos Soares. Surgiu um rapaz pequeno de estatura que também era rato profissional chamado Tonheiro. Havia outros profissionais como Desulica, Branda e Vardo. Mas que pena, não lembro o nome do grande adversário de Dézio, cujo nome é parecido com Maurício. Frequentei o lugar onde nunca presenciei nem uma briga, nenhuma confusão, mas quando me bateu o desejo de jogar apostando com os profissionais, senti a hora de me afastar para sempre de casa de jogo. Seguia os caminhos do meu pai Manezinho Chagas.

Ao Senhor, toda honra e toda glória!

CENTRO DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS)



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