terça-feira, 9 de março de 2021

 

BUCHA COM AREIA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.489

 


Quase não acreditamos quando vimos a reportagem sobre o fazendeiro que trocou o plantio da uva pelo de bucha natural.  Para quem é bem vivido, lembra no Sertão de Alagoas, que a dona de casa usava areia do IPanema para arear os pratos e outras louças da casa. Muito se usava a bucha selvagem, encontrada nas ramagens que subiam pelas cercas de varas ou de arame farpado. Mas já se usava bem o sabão em barra comprado nas bodegas. Somente tempos depois surgiu o tal “Sapólio” e a bucha industrial de marca “Bom Bril”. Usava-se ainda para fritura dos alimentos a banha de porco que depois foi substituída pelo óleo de vegetais vindo das fábricas. Todo uso antigo condenado antes, todo uso moderno condenado depois.

O lixo das residências para recolhimento público, era colocado na calçada em latas tipo querosene, caixões e caixas de papelão, somente depois surgiu o lixeiro de borracha. A coleta era realizada através de carroças de burro e, lembramos ainda de um carroceiro que prestava esse serviço de nome Juvenal. As casas costumavam usar a planta Imbé como enfeite e como poderosa espanta cobra. Muitas casas já possuíam cisternas de cimento para armazenar água. Mas também havia utensílios para esse fim, fabricados em barro chamados pote, jarra e porrão (u), na escala crescente do tamanho e comprados nas feiras livres semanais. A água para beber de uso imediato, esfriava na quartinha. A água utilizada para consumo humano e limpeza, vinha das cacimbas escavadas do rio Ipanema, em ancoretas trazidas por jumentos.

Mulheres que moravam próximo ao rio, abasteciam suas casas com latas na cabeça e rodilhas. Raramente se via a prática do galão que é um pau que carrega duas latas nas extremidades, penduradas por cordas e conduzido nos ombros por elemento masculino. As casas tinham biqueiras ou bicas (calhas) de zinco e conduziam água para as cisternas ou vasilhames, das chuvas no telhado. Ocasionalmente o chamado guarda de peste, visitavam as casas e colocavam produtos preventivos nos potes. As comunicações públicas eram realizadas através de uma rede de alto-falantes distribuída nos postes da cidade. Já existia o odiento juiz de menor espantando meninos e recolhendo bolas de futebol e ximbras no meio das ruas.

Mas ainda não entendemos sobre o agricultor que planta buchas ao invés de uvas. Quem usaria buchas nesses tempos modernos?

BUCHAS NATURAIS (CRÉDITO: autosustentavel.com)


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segunda-feira, 8 de março de 2021

 

NO JÚRI TAMBÉM TEM

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.484

 


Fomos assistir o debate entre advogado e promotor no “sobrado do meio da rua, em Santana do Ipanema. Uma atração para cidade do interior, na época. Dr. Fernando, promotor, fora sempre uma atração à parte, que peitava bonito o advogado Dr. Aderval Tenório. Mas dessa vez o julgamento tinha o Dr. João Yoyô como advogado. Homem de fala mansa e moderada. O sobrado até que tinha muito espaço, porém a multidão ficou restrita a entrada do salão, logo após a escadaria de madeira, do primeiro andar.  O promotor acusava um cidadão de ter aplicado uma surra em outro que falecera 15 dias após. O advogado João, dizia que a morte do homem nada tinha a ver com a surra, até porque não houvera pisa nenhuma. “O acusado apenas batera levemente na vítima com um simples cipózinho de catingueira”. Foi aí que o funcionário do Banco do Brasil, João Farias, fumando muito como era seu vício e que assistia conosco o debate, disse baixinho para nós: “Já viu catingueira ´dá cipó, seu fio da peste!

Risos na porta do Fórum.

Já o advogado Aderval Tenório com seu vozeirão e sabedoria, costumava driblar a plateia bebendo guaraná batizada, istó é, debatia  bebendo uísque numa garrafa de guaraná e até o juiz seguia sem interferência.

Noutro debate – dessa vez o fórum era no prédio da atual Câmara de Vereadores – o dr. Eraldo Bulhões duelava com uma advogada. No meio da discussão, a advogada disse uma frase troncha referindo-se a uma briga entre o réu e a vítima: “Aí ele agarrou-la (rola) pelos cabelos...” Os presentes ficaram arrepiados com a frase da doutora que prosseguiu atropelando o Português. Eraldo Bulhões, que sempre foi bom e irônico orador, defendeu sua tese com galhardia. Quando encerrou suas palavras, voltou-se para nós, na multidão que acompanhava o duelo, passou pertinho e falou baixo onde só havia homens:

 “A doutora Fulana pensa que Direito é buc...”

Os homens riram, o juiz não ouviu e o preso foi solto.

Por questão de ética omitimos o nome da advogada, mas nos bastidores do Júri também tem.

ANTIGO SOBRADO DO MEIO DA RUA, VISTO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO. (LIVRO 230/B. CHAGAS/DOMÍNIO PÚBLICO).

 

 


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