BRASIL E O EQUILÍBRIO CIRCENSE (Clerisvaldo B. Chagas. 25.9.2009) Para os professores de História de Santana do Ipanema Honduras ...

BRASIL E O EQUILÍBRIO CIRCENSE

BRASIL E O EQUILÍBRIO CIRCENSE

(Clerisvaldo B. Chagas. 25.9.2009)

Para os professores de História de Santana do Ipanema

Honduras é um dos países mais pobres das Américas. Situado na América Central, banhado pelo mar do Caribe — porção do Oceano Atlântico — Honduras tem como capital Tegucigalpa e possui um distrito e 18 territórios. Esse belo país está sempre precisando de ajuda externa como as que chegam da União Europeia, do Japão e de Taiwan. Da sua exportação, fazem parte produtos como café, banana, camarão, lagosta, carne, zinco e madeira. É ela, a agricultura, a principal empregadora daquele território. Com sua população mestiça, o país sempre foi aliado dos Estados Unidos que ali possuíam bases militares contra guerrilheiros da região. Esse acordo, porém, foi revisto, não existindo mais as bases americanas.

A crise gerada em terras hondurenhas, não representa nenhuma novidade no cenário caribenho. A América Central sempre participou da brincadeira preferida pela região: colocar e derrubar ditadores. Se os Estados Unidos estão sem entusiasmo para intervir contra o golpista atual Roberto Micheletti, é que o presidente deposto, Manuel Zelaya, reza na cartilha do fura-penico da Venezuela. Por outro lado, o Brasil que vem sendo o novo protagonista no Planeta, tem mesmo que agir com o máximo cuidado e esperteza, por duas razões básicas. Primeira, prega sempre o diálogo antes da força. No caso atual não poderia fazer diferente para defender sua embaixada e seu incômodo hóspede; principalmente agora em que está havendo reunião da ONU, ali pertinho. Segunda razão, o Brasil também poderia intimidar Micheletti, deslocando tropas para águas internacionais próximas ao Caribe. Muito fácil, porém, se sabe que ninguém pode mexer no que os Estados Unidos chamam de seu quintal. Seria uma temeridade tomar decisões isoladas, principalmente de força. Por isso, talvez o Brasil, sabiamente, pediu a intervenção da ONU. A Organização das Nações Unidas é um poder legítimo e que já condenou as pretensiosas eleições articuladas por Roberto Micheletti (mais um caudilho para perpetuar situações de pobrezas e ditaduras do Caribe).

O Brasil tem o apoio global da atitude democrática que tomou em Tegucigalpa. Passou a ser a atenção do mundo. Para quem está pretendendo um lugar permanente no Conselho da ONU, é um excelente teste para a sua diplomacia externa. É hora de domínio da prudência e da habilidade. Domínio esse usado até agora. Isso faz lembrar circos grandes e pequenos em trânsito pelo nosso interior; a tensão e a expectativa da plateia quando os exímios artistas caminhavam por cima do arame. Àquele mundo encantado, colorido e alegre, também era um espelho mágico da realidade humana. Sob a lona amarela das bandeiras agitadas, aprende-se bastante. Vamos torcer para que o Brasil passe no teste do EQUILÍBRIO CIRCENSE.

UM GALÃO BEM DIFERENTE (Clerisvaldo B. Chagas. 24.9.2009) Para o apologista Miguel Chagas que me passou esta narrativa há mais de 20 anos. E...

UM GALÂO BEM DIFERENTE

UM GALÃO BEM DIFERENTE
(Clerisvaldo B. Chagas. 24.9.2009)
Para o apologista Miguel Chagas que me passou esta narrativa há mais de 20 anos.

Em diversas comunidades brasileiras, não chegou ainda a água encanada. Mulheres, homens e crianças transportam o precioso líquido em latas, potes, baldes, entre brigas e discussões. Alguns lugares tem mais sorte quando existem boas fontes por perto. Esse fator ameniza as tensões geradas pela sobrevivência. Mulheres preferem latas à cabeça. Homens mais robustos costumam usar o chamado “galão”, objeto engenhoso para ganhar tempo. O galão se compõe de duas latas, cada uma pendurada através de corda na extremidade de um pau forte carregado nos ombros. Mas o galão, entre outros significados, pode ser também uma tira de pontas douradas que indica a graduação de militares. Como a coisa, no momento, estar ligada a outra, isso faz lembrar uma passagem de poeta-repentista. O caso vem sendo narrado há bastante tempo (e pela via oral), não sendo possível para nós a identidade do autor.
Dois repentistas cantavam na feira, em torno de uma roda de apreciadores. Elogiavam aos que iam chegando e sempre ganhavam algumas cédulas pelas criativas saudações. Eis que de repente surgem à roda dois policiais: um tenente e um sargento. O repentista da vez — percebendo a excelente oportunidade para ganhar mais — iniciou a estrofe em sextilha com a seguinte louvação:

“Eu agora vou botar
Um galão nesse tenente... “

Mas o oficial, percebendo a “facada”, chamou o sargento e disse: “Deixe esse corno para lá”. O repentista ouviu, sentiu-se ofendido e mudou o rumo da prosa, concluindo a estrofe:

“Mas o galão que eu falo
É um galão diferente
É um pau com duas latas
Uma atrás outra na frente.”

Vejamos nós como é a vida. O poeta inicia com um elogio, é decepcionado e ainda encontra como consertar o erro. Encerra, sem ofender, com uma ótima lição em quem merecia. Quantas vezes elogiamos antes da hora, igualmente ao repentista. Surge o desengano logo a alguns passos após o brinde. Isso acontece muito entre as pessoas com as quais nos relacionamos. E o pior é que elas ofendem, atacam e nunca conseguem adquirir a humildade para as devidas reparações. Casos decepcionantes com elogios são comuns em se tratando de representantes do povo. Você vota em alguém com uma certeza tão grande sobre as qualidades do candidato... E depois? Você já se sentiu como se fosse colocar um galão no tenente? Não sendo repentista e nada podendo fazer, esqueça o tal leite derramado (muitas vezes é champanha). Mude o desenrolar da estrofe nas próximas eleições como nos ensina o poeta: retire os dois primeiros versos e coloque no tilintar da urna UM GALÃO BEM DIFERENTE.

GEOGRAFIA OXENTE (Clerisvaldo B. Chagas. 23.9.2009 Para os (as) colegas professores de Geografia, em especial a José Arnaldo, a Rosâ...

GEOGRAFIA OXENTE

GEOGRAFIA OXENTE

(Clerisvaldo B. Chagas. 23.9.2009

Para os (as) colegas professores de Geografia, em especial a José Arnaldo, a Rosângela, a Hélia e a Geraldo “Maleta” (In memoriam).

Nos últimos anos a Geografia, matéria de ensino e ciência, tem deixado os professores ressabiados. Pelos novos conteúdos, pela complexidade, pelos novos avanços epistemológicos e até pela individualidade dos autores, ficou difícil cada vez mais dominar essa matéria. É certo que não se pode entender um Estado sem território, sem fronteiras, mas também a sociedade sem território. Cada vez mais, entretanto, os livros engrossam no conteúdo com muitas “abobrinhas” e vintenas de páginas inúteis para mestres e alunos. Os conteúdos divisórios do Fundamental e Médio não são claros nem objetivos. Quando é dividida a lógica da sequência, não corresponde. A definição clara de domínio da Geografia, nunca aparece em série alguma. Para o Curso Médio muitas vezes é apresentado volume único. Sem divisória interna, o compêndio dificulta o bom ensino para veteranos quanto mais para novatos. A Geografia do Brasil se dilui na Geografia Geral e nem uma coisa nem outra. Parece até que os responsáveis não querem que o aluno aprenda tanto a Geografia quanto a História do Brasil. Nesta, são omitidos importantíssimos episódios da história brasileira. Na Geografia é capado o esquema básico objeto da matéria. Por outro ângulo, surgem “defeitos” na confecção dos livros que acompanham o samba da loucura. Páginas coloridas idênticas às cores das letras; letras reduzidíssimas para olho biônico que levam à irritação constante dos pesquisadores. Em alguns deles, tem-se a impressão de que os donos estão muito mais preocupados em demonstrar conhecimento de que em transmiti-los didaticamente.

Lecionar Geografia, hoje, é um perigo constante para o mestre — não pelas novidades dos conteúdos e atualizações de rotina — que se perde na falta de clareza. Não existe mais satisfação no aprender. O que vale agora é a obrigação de cumprir a meta escolar, tornada cada vez mais dificultosa. A Geografia vai perdendo o encanto, a magia, o êxtase de ser apreciada. Cursos de capacitação ainda são oferecidos. Não raras vezes os contratados são fracos como cabos de vassoura, causando irritação nos dentes de quem os escuta. Ninguém pode entender o mundo se não o conhece. A Geografia veio justamente para mostrar esse caminho. Mas olhando do jeito que está o que vem de cima, com certeza não é água líquida, é saraivada de granizo na cabeça de quem vive da sala de aula. Veja esse trecho, a fonte é tão pequena que nem a lupa decifra: “(...) a construção dos fundamentos epistêmicos necessários à consolidação de sua cientificidade; a definição e a clareza do seu objeto de estudos; e o papel do sujeito desta ciência, capaz de desvelar a organização espacial e suas relações (...). Entendeu?

Minha eterna, querida e encantadora Geografia organizada, não aguento mais a burocracia da besteira. Após a chegada da sua prima, A GEOGRAFIA OXENTE, digo como a juventude: FUI.