AINDA OS REPENTISTAS (Clerisvaldo B. Chagas. 9.12.2009) Para os apologistas Fábio Campos, João Oniel - poetisa Andréia, Telma Cirilo e poeta...

AINDA OS REPENTISTAS

AINDA OS REPENTISTAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.12.2009)
Para os apologistas Fábio Campos, João Oniel - poetisa Andréia, Telma Cirilo e poeta Carlindo

Não posso guardar apenas para mim as histórias de versos obras-primas dos cantadores nordestinos. Duas passagens importantes para nós apresentamos hoje. Uma com José de Almeida e outra com o poeta Granjeiro. Antes, porém, é preciso esclarecer que os repentistas tem suas regras obedecidas rigorosamente. Uma delas é o final da rima. Não cabe, por exemplo, Ceará com Alencar. Uma tem acento, a outra tem um “r”. Caso o poeta cometa esse erro, será um defeito grave. Outra coisa são as rimas pobres que não valorizam o verso a não ser que haja muita criatividade: “ão”, “ado” e “ia” estão nesse grupo. A rima sendo rara somada à criatividade pode formar a obra-prima; aquela estrofe que passa de boca em boca por gerações e pelo mundo encantado dos repentistas. Foi com a terminação “ó”, que José de Almeida foi ovacionado em Paulo Afonso há bastante tempo. Todos queriam conhecer o poeta santanense que se firmava na cantoria pegando fama. Convidado para cantar com Jó Patriota na “Capital da Energia”, José de Almeida apresentou-se primeiro com um poeta chamado Manoel de Filó (uma fera também assim como Jó Patriota). Na segunda baionada (parte), após o experimento, Almeida senta com Jó Patriota e inicia ─ para felicidade geral do mundo da viola – a seguinte obra-prima em sextilha:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó

Foi delirantemente aplaudido.

Pela boca do cantador desistente como eu, José de Sebastião, funcionário público da prefeitura de Santana, ouvi essa outra história. O poeta Granjeiro (não lembro o primeiro nome) cantava em determinado lugar quando pediram um mote em décima: “No coração da criança/ não tem ódio nem rancor”. Ora, baseado em que São Miguel é quem pesa os pecadores, o poeta famoso em fazer belíssimas estrofes de tema ou mote, saiu-se com esta, após o seu parceiro:

“Quando morre um pequenino
Sobe envolto num véu
Chega às portas do céu
Miguel diz para o Divino:
“Vamos pesar o menino
Que é filho de pecador”
“Jesus lhe diz não senhor
Pode guardar a balança
No coração da criança
Não tem ódio nem rancor
”.

Quando acontece uma estrofe assim, é chamada pelos poetas de “verso grande” e de “impagável”, isto é, o parceiro não fará um melhor do que aquele. E depois de vibrantes aplausos da platéia entendida, o parceiro para essa baionada em sinal de respeito à estrofe tão criativa do colega.
No bizaco trago AINDA OS REPENTISTAS.
(Obs. Na crônica de ontem, “Possante Monumento”, parágrafo segundo, leia-se cúpula e não cripta.)

POSSANTE MONUMENTO (Clerisvaldo B. Chagas. 8.12.2009) Quando o Cônego Bulhões resolveu reformar a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana, estav...

POSSANTE MONUMENTO

POSSANTE MONUMENTO
(Clerisvaldo B. Chagas. 8.12.2009)

Quando o Cônego Bulhões resolveu reformar a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana, estava iniciando um arrojado empreendimento. História e reformas da igreja são contadas no livro inédito O Boi a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema. Terminada a reforma, com o Cônego Bulhões já enfermo, surgiu uma torre com 35 metros de altura numa época sem avançada tecnologia. Com as modificações narradas no livro acima, a igreja havia recebido ultimamente uma reforma externa na entrada principal sob a batuta do Cônego Delorizano Marques. Não satisfeito com apenas as modificações de entrada, o cônego planejou o recuo do altar-mor. Além do acréscimo de espaço, esse recuo proporcionou um novo quadro que agradou em cheio. Como ficamos ausentes das missas dominicais por certo período, tivemos a grata surpresa das modificações positivas daquele sacerdote. A reforma interior faz jus à tradição da igreja de Senhora Santa Ana. Notamos que os quadros da via-sacra foram substituídos por outros modernos e prateados que fazem um bonito efeito com a cor do teto. O granito negro do piso, juntamente com outras cores, ajuda o embelezamento daquele majestoso templo católico. O Cristo na cruz ─ confeccionado por um dos fundadores de Santana e primeiro padre Francisco Correia ─ recebeu prolongamento dourado nas extremidades da madeira. Ao fundo, quadro representativo da história cristã e desenhos do céu em azul profundo com nuvens esparsas e brancas, impressionam. E se a igreja de Senhora Santa Ana já era o mais belo monumento do Sertão, imaginem agora! Aliás, o Cônego Delorizano Marques, demonstrou bom gosto nas suas realizações físicas como o santuário dedicado à Virgem de Guadalupe, à margem da BR-316. Monumento esse também dedicado à passagem do século XX para o século XXI.
Destoando docemente da arquitetura sertaneja, o santuário visto ao entardecer das proximidades da UNEAL, com seu destaque de vidros azuis e cripta prateada, parece fazer parte de paisagem nórdica européia. Dessa maneira a cidade possui agora três marcos de passagem de séculos. O Cruzeiro do serrote e a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção (XIX-XX) e o santuário da Virgem de Guadalupe (XX-XXI).
Voltando à Matriz de Senhora Santa Ana, continuamos com a mesma idéia já exposta várias vezes: cartão de visita da cidade deveria ser o ponto turístico número um se houvesse algum interesse sobre o ramo. Enquanto o turismo continua como um sonho distante, vamos nós mesmos, de Santana e das cidades circunvizinhas, curtindo a beleza do nosso templo maior. Queremos apreciar e estudar mais esse POSSANTE MONUMENTO.

PLANEJAR SANTANA (Clerisvaldo B. Chagas. 7.12.2009) Sobre Santana do Ipanema, afirmamos em outra crônica não haver falta de terrenos. Terra...

PLANEJAR SANTANA

PLANEJAR SANTANA
(Clerisvaldo B. Chagas. 7.12.2009)

Sobre Santana do Ipanema, afirmamos em outra crônica não haver falta de terrenos. Terras tem de sobra nas áreas de saídas da cidade para Dois Riachos, Olho d’Água das Flores, Poço das Trincheiras e Águas Belas. Enormes e bonitas áreas onde tudo pode ser construído como conjuntos habitacionais, hospital, clínicas, centro de compras, casas de repouso, fábricas e muito mais. Apenas estávamos contrariando os que de má vontade dizem haver falta de espaço. Caso tudo fosse construído no centro, como poderia a cidade se expandir? No final do Bairro Barragem, saída para Poço das Trincheiras, foi construído um belo posto de gasolina. Até aí tudo bem. Mas acontece que essa área era considerada morta ou contramão para negócios. Com o posto de gasolina, porém, outros investimentos foram atraídos e podemos contar agora com uma churrascaria, um mercadinho, um amplo espaço de vendas de material de construção e brevemente uma pousada. Ficamos surpreendidos agora quando também nas imediações do posto, um enorme terreno foi completamente limpo para construção de conjunto habitacional do governo. Estávamos certos. Saída sempre marginalizada, essa para a cidade do Poço, começa a ser enxergada e valorizada. É assim que surge por trás do Bairro Barragem o Clima Bom que, infelizmente ainda não despertou a atenção da prefeitura. Abandonado de pai e mãe. Se ali houvesse planejamento, aquele pedaço de terras, a partir da ponte na BR-316 até a chã em direção a Paulo Afonso, poderia trazer muitas alegrias para Santana.
É preciso ainda planejar o trajeto final da Rua São Pedro à BR-316, via Largo Lulu Félix. Inclusive seria uma ótima opção para quem se desloca do comércio até a UNEAL. E para quem não conhece a nossa terra, Santana do Ipanema não cresce planejada. Sai inchando pelas periferias seguindo as trilhas de bodes, como no passado. Não tem linha d’água, não tem meio-fio, não tem nivelamento. É semelhante à geração espontânea. Atualmente a cidade é um verdadeiro canteiro de obras. Nunca se construiu tanto por aqui. Mas são obras particulares como construções residenciais, de comércio e reformas. Até profissionais estão faltando para atender todos os setores de Santana como pedreiros, pintores e encanador nesse boom construção civil. O surgimento de novas e inúmeras ruas sem planejamento poderá gerar problemas no futuro, como ruas estreitas demais.
Observando à parte, o centro comercial procurou se modernizar e hoje sem dúvida alguma é o mais belo do interior. Lógico que está faltando um calçadão desde o banco do Nordeste até o Museu Darras Noya, mas não se fala por aqui nesse assunto proibido. A cidade cresce na marra e na vontade dos investidores privados. O calçadão, cuja planta carregamos na cabeça, seria o coroamento do esforço desse tradicional comércio desde os tempos de povoado. Enquanto isso vamos registrando como PLANEJAR SANTANA.