CONSCIENTIZAÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009) Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecol...

CONSCIENTIZAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009)

Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecológica no mundo. Pequenos movimentos ilhas começavam a ocupar minúsculos espaços nos jornais. Outras fontes de resistência foram aparecendo e como os pequenos afluentes, foram engrossando o todo que desembocou nas grandes reuniões de cientistas. Daí em diante foi como uma explosão que atingiu em cheio a sensibilidade ecológica adormecida. Os constantes alertas sobre uma hecatombe climática no planeta não está deixando mais ninguém quieto. Todos os meios sociais falam do assunto, principalmente nas escolas do governo e particulares. Ninguém quer ficar fora dessa onda boa para salvar o mundo em que vivemos.
Agora temos a “Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas” na Dinamarca. Estão ali, além de representantes do mundo inteiro, várias ONGS, ativistas, jornalistas, pesquisadores e inúmeros curiosos vindos de todos os recantos do planeta. Mesmo sendo um país organizado, a emoção toma conta da desordem formada por uma multidão. De qualquer maneira, chegando ou não a um grande acordo, passos importantíssimos para a humanidade já foram dados. É a ocasião, inclusive, de muita gente aparecer, do famoso ao anônimo. Confusões, brigas, zoadas e cassetetes, mas com objetivos. Após essa conferência, seja como for, o mundo não será mais o mesmo.
A Dinamarca, cuja capital é Copenhague, está situada no Norte da Europa, na península da Jutlândia, banhada pelos mares Báltico e Norte. Faz parte de uma monarquia constitucional com sistema parlamentar de governo. É membro da União Européia desde 1973 e da OTAN, da qual também é fundadora. A Dinamarca pratica o governo do estado do bem-estar social. É considerado o “país mais feliz e o mais pacífico do mundo, bem assim como o menos corrupto entre as nações”. São eficientes os sistemas de Educação e Saúde. Aliás, os países nórdicos da Europa são ricos e de vanguarda.
Deixando Copenhague e se voltando para o Sertão de Alagoas, infelizmente as providências estão chegando quase tarde demais. Em alguns lugares, tarde mesmo. A caatinga original está praticamente fora do mapa. O desmatamento acelerado movido pela ignorância, aliado a omissão dos órgãos governamentais, deixou o bioma em situação caótica. Mesmo que haja um grande movimento de recuperação da caatinga, tudo indica, não escaparemos da catastrófica desertificação. Como já falamos dezenas de vezes, nós sertanejos somos os últimos a receber as novidades do progresso. Em Alagoas ─ continuamos a afirmar ─ os benefícios somem antes de descer a ladeira de Satuba rumo ao Sertão. Sempre foi assim. Não sabemos se sempre será.
Copenhague está distante. Nosso Sertão muito presente; sem onça, sem tamanduá, sem peba... Sem tatu. A bicharada foi extinta pelo desmatamento. Torcemos para que os gritos lançados na Dinamarca alcancem o Nordeste, Alagoas, o Sertão velho abandonado à própria sorte. CONSCIENTIZAÇÃO.

O NARIZ DE BERLUSCONI (Clerisvaldo B. Chagas. 16.12.2009) Certa feita Lampião caminhava em território baiano. Uma seca das maiores cast...

O NARIZ DE BERLUSCONI

O NARIZ DE BERLUSCONI

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.12.2009)

Certa feita Lampião caminhava em território baiano. Uma seca das maiores castigava tudo. O bando enfrentava altíssima temperatura, levando o “Rei do Cangaço” ao desespero. Não suportando mais o calor contínuo e infernal, Virgulino jogou sua arma ao solo e pronunciou enraivecido: “Tomara que não chova mais nunca!”. Um dos grandes que marchava ao seu lado ─ cangaceiro Labareda ─ recriminou imediatamente o chefe, graças ao prestígio que desfrutava: “Não diga uma coisa dessas, capitão. Isso ofende o Nosso Senhor Jesus Cristo”. Virgulino refletiu com rapidez e aceitou na hora a censura do seu famigerado Ângelo Roque.
Quando eu era menino, minha mãe costumava comprar bananas a um homem feio de voz rouca, nas feiras dos sábados. Ele havia feito precisamente o contrário do ato de Lampião. Aborrecido com chuva demais em sua lavoura, o indivíduo pensava atingir Jesus Cristo dando um tiro na chuva. Dizem que por esse motivo ficou com aquele aspecto horrível que chamava atenção.
As duas histórias diferentes traduzidas pelo povo asseguram uma ofensa a Deus por atos e intenção. O caso do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, parece com os dois exemplos, sendo muito mais pesado ainda. Ofensas contra Deus e contra o povo; inclusive orgias sexuais repetidas por Berlusconi, são mostradas constantemente pela internet. Formas de desprezo à sociedade em que governa. As gafes, à indiferença a outros chefes de estado, indicam um parafuso a menos ou a mais na cabeça do primeiro-ministro. Lembro-me de uma crítica antes da sua posse que dizia que a Itália estava sem opção. Os outros candidatos seriam piores que Berlusconi. Está aí a falta de opção.
O desavergonhado proceder de dirigentes pode chegar a um ponto perigoso. O episódio da estatueta arremessada por Massimo Tartaglia, apenas reflete a reação do povo sem mais paciência pelas presepadas nocivas do seu ministro. Paciência tem limite. O resultado do ataque de Tartaglia foi o nariz quebrado e dois dentes fora com escoriações no rosto do primeiro-ministro. Não sabemos se existiu também dor moral. Caras-de-pau não tem sentimento. Eles são colhidos, presos, ridicularizados. Tempos depois ressurgem diante das multidões como se fossem os heróis da pátria, Superman, Batman... Homem-aranha.
Nada justifica a violência. Para questões existe a Lei que deve ser respeitada por todos. Mas provocar as massas pode ser exceção como no caso italiano. Se a moda pega no Brasil, todos os dias teríamos dentes voando, escoriações faciais e ventas estatuetadas, mais ou menos como O NARIZ DE BERLUSCONI.



O CARRO DE ZÉ LIMEIRA (Clerisvaldo B. Chagas. 15.12.2009) NAS décadas 1950-1960, brincávamos muito com os carros de ladeira. Pegávamos ...

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

(Clerisvaldo B. Chagas. 15.12.2009)

NAS décadas 1950-1960, brincávamos muito com os carros de ladeira. Pegávamos os carros de pau, levávamos para o alto e descíamos as colinas que davam para o rio Ipanema. Aquele fabricado pelo maleiro Zé Limeira, filho da professora Adelcina Limeira, era o mais bonito de todos. Dava um trabalho medonho empurrar os brinquedos até o topo, mas quando descíamos montados era somente pura emoção.
O funcionamento do hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, é uma das sete grandes lutas do santanense. A juventude não sabe das seis gigantescas batalhas que travamos pelas conquistas de valiosas prioridades. Claro que houve outras lutas, porém, nenhuma como as seis que estão abaixo. A briga pela energia de Paulo Afonso ─ depois que o motor alemão que abastecia Santana quebrou ─ foi a maior de todas. Quatro anos no escuro justificava todo movimento da sociedade organizada. Foi assim que surgiu como instrumento de guerra, a primeira rádio do município. Funcionando na clandestinidade, a Rádio Candeeiro (como referência ao escuro reinante) teve papel de destaque no ânimo da juventude sequiosa de desenvolvimento. Essa foi a briga mais bonita e participativa de Santana. Outra luta importante foi pela conquista da água encanada do rio São Francisco, através da adutora de Belo Monte, cidade ribeirinha de Alagoas. Entre os seis embates anteriores está o do hospital Dr. Arsênio Moreira, situado no Bairro Camoxinga. Nesta meia dúzia não poderia faltar a construção da ponte Gen. Batista Tubino sobre o intermitente rio Ipanema, o que motivou os futuros bairros da margem direita. Ainda com a sociedade organizada lutando como podia, tivemos também a conquista do asfalto Palmeira dos Índios/Santana, através da BR-316. E finalmente a última das seis grandes lutas foi pelo terminal rodoviário que acabou sendo implantado no Bairro Monumento, vizinho a Associação Atlética Banco do Brasil. Esta foi a única que chegou fora de época, ocasião em que o transporte alternativo superou os ônibus tradicionais.
Trava-se agora a sétima batalha que é pelo hospital geral que já tem o nome do primeiro médico da terra, Clodolfo Rodrigues. Construído no governo municipal Marcos Davi, o prédio é formidável e leva um tempo enorme para conhecê-lo por dentro. Verdadeiro labirinto. Situado entre as localidades Conjunto Marinho e Cajaranas, é a atração turística no sopé da serra Aguda. Não acreditamos que haja falta de interesse das autoridades. O que falta é participação social como algumas das outras lutas citadas. Dessa vez o povo se acomodou como se não tivesse mais entusiasmo para continuar lutando. Os políticos, então, resolveram movimentar essa causa mostrando trabalho no rádio e em outros meios de comunicações. Mesmo assim, acreditamos que no próximo ano, mesmo sendo ano eleitoreiro, estará funcionando o hospital Dr. Clodolfo Rodrigues que até agora tem sido apenas um elefante branco. O problema, segundo o que estamos ouvindo, é colocar o carro na cabeça e levá-lo até o topo da ladeira. Daí, ladeira abaixo todo santo ajuda. Caso realmente os políticos cumpram o que estão assegurando, teremos orgulho de ver funcionando O CARRO DE ZÉ LIMEIRA.