ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS? (Clerisvaldo B. Chagas. 26.1.2010) Acontece muitas vezes um pai sufocar a vocação do filho. Como o poema ...

ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?

ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?

(Clerisvaldo B. Chagas. 26.1.2010)

Acontece muitas vezes um pai sufocar a vocação do filho. Como o poema sertanejo cantado ao som da viola nordestina, o filho resiste à pressão paterna:

“... Eu disse papai não tome
Esse dom que é todo meu
Aquilo que Deus me deu
Só mesmo a terra é quem come...”

Santana do Ipanema, já foi dito aqui, é cidade comercial por excelência desde os tempos de povoado/vila. Foi entreposto entre Pão de Açúcar (porto fluvial exportador e importador da época) e todo Sertão alagoano. Atualmente Santana possui o segundo melhor comércio do interior, perdendo apenas para a cidade de Arapiraca. Entretanto, a terra de Santa Ana bem que poderia ter sido também industrial. O descaso, a falta de compromisso ou a ignorância, “sufocaram a vocação do filho”.
Na segunda metade do século passado, Santana do Ipanema iniciava um processo fabril rudimentar, movimentando o Município com várias fabriquetas. Em se tratando de calçados, tínhamos a fábrica de “Seu Pimpim” à Rua do Comércio; a de Evilásio Brito à Rua Barão do Rio Branco; a de “Seu Elias” à Rua São Pedro; e a de “Zé Limeira” à Rua Antonio Tavares (inclusive anexada a uma fábrica de malas). Havia ainda fabriquetas de colchões espalhadas pela cidade, entre as quais a de “Júlio Pisunha” à Rua Antonio Tavares. Compravam-se carne-de-sol em duas ou três fábricas chamadas “salgadeiras”, com destaque para a salgadeira de “Otávio Magro” também à Rua Antonio Tavares. Perto da igreja São Pedro havia uma fábrica de mosaico que se destacava pela qualidade e pelas variadas estampas, pertencente a “Zezito Tenório”, dono das terras do futuro bairro São José. Nas localidades suburbanas da Maniçoba e do Bebedouro, curtumes movimentavam a cidade com a compra de cinzas dos fogões a carvão e à lenha e vendiam rolos de sola. No Bairro Floresta funcionava uma fabriqueta de corda de caroá. Quanto ao fabrico de móveis, havia várias fábricas, cujo destaque era a do senhor José Costa que funcionava no Bairro Monumento. Na Rua do Comércio encontrava-se uma fábrica de aguardente e vinagre do proprietário Antonio Bulhões. Nas proximidades da Ponte Cônego Bulhões, Rua Margem do Ipanema, também funcionava outra fábrica de aguardente do Sinval (bom declamador de poesia matuta).
Nada mais existe. Tudo foi riscado do mapa pelos motivos vistos acima. Há alguns anos, elaboramos e distribuimos a “Carta de Santana”, documento que mostrava didaticamente como fazer a cidade progredir, inclusive com detalhes na parte industrial. O que mais existe nos lugares afastados do mar é ouvido de mercador. É melhor aproveitar idéias arcaicas próprias de que pensamentos luminosos alheios. A região de Santana do Ipanema abate um número significativo de bovinos, semanalmente. Couros, ossos, chifres, cascos, são exportados a preços vis. Uma só fabriqueta de sola não existe. Poderíamos ter sido a cidade do couro e progredido como Caruaru com fábricas de derivados do boi. Tudo foi entulhado, sufocado... Desprezado. Meu Deus! ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?


MOLION NÃO É MOLE (Clerisvaldo B. Chagas. 25.1.2010) Vivemos uma época em que os valores vão sendo substituídos por lixos de toda quali...

MOLION NÃO É MOLE

MOLION NÃO É MOLE

(Clerisvaldo B. Chagas. 25.1.2010)

Vivemos uma época em que os valores vão sendo substituídos por lixos de toda qualidade. Ficamos procurando esses valores sufocados por essa onda negativa que, como a neblina encobre os vales, mascara também as pessoas brilhantes nas mais diversas atividades do conhecimento humano.
Já havíamos ouvido falar no Prof. Molion, várias vezes. Uma das últimas foi quando uma pessoa de Arapiraca contava entusiasmada sobre uma palestra ministrada pelo professor. Molion, ultimamente vem aparecendo com mais frequência na mídia alagoana, falando sobre o tempo e dissertando cientificamente suas previsões. Mas uma dessas noites, ao ligarmos certo canal de televisão, aleatoriamente, reconhecemos o Prof. Molion cercado por feras do jornalismo brasileiro. O assunto debatido era o aquecimento global, quando o Professor, “atacado” em todos os ângulos, se defendia muito bem e com tranquilidade de quem conhece profundamente o que está debatendo. O Professor Luiz Carlos Molion tem quarenta anos de estudos climáticos e leciona na Universidade Federal de Alagoa – UFAL. Além disso, Molion tem pós-doutorado em Meteorologia e representa a América Latina na OMM-Organização Meteorológica Mundial. A cada investida dos jornalistas sabatinadores, o telespectador imaginava não haver saída para o representante alagoano. Eis que o cientista da “Terra dos Marechais”, respondia numa calma toda dele e com tremenda base de segurança. Estavam ali aqueles jornalistas interrogando como se fossem representantes de todos os outros cientistas da terra, numa corrente contrária a Molion. E, se palavras provam, o alagoano provou que todos os outros colegas do mundo estavam errados. O debate envolveu diversos aspectos do clima, o desmatamento, os efeitos do carbono, o aquecimento, as ações do homem e da natureza e muito mais. Não queremos dizer que o ilustre Professor esteja certo ou errado nos seus estudos e teorias, mas que o professor Molion deu um verdadeiro espetáculo, isso deu. Paulada de um lado, paulada de outro, e Molion absorvendo firme e quebrando os tacos a ele dirigidos. E o melhor de tudo, descobriu-se no meio do nevoeiro mais um alagoano que honra a profissão que abraçou; um valor expressivo dentro de um estado cheio de podridão, que faz até lembrar a “lanterna” do filósofo Diógenes. Durante o debate apresentado pela televisão, comparamos com o duelo de estréia do repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso, Bahia:

“Já cantei com Manoel
E agora canto com Jó
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó”

Como foi dito, não sabemos se o Professor estava certo ou errado, porém, Alagoas deve estar orgulhosa do seu cientista professor de Climatologia. Quem quiser que duvide, mas MOLION NÃO É MOLE.

“DEUSES DE MANDACARU” (Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010) ANTES DA LEITURA Carlos Moliterno Seja qual for o seu conteúdo — e há realm...

"DEUSES DE MANDACARU"


“DEUSES DE MANDACARU”

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010)

ANTES DA LEITURA
Carlos Moliterno

Seja qual for o seu conteúdo — e há realmente uma variedade de temas dentro do romance — ele representa uma das grandes aventuras da inteligência do homem.
Os teóricos sempre tentaram estabelecer regras e limites para a sua elaboração, mas o problema continua discutível e controvertido, e embora algumas fórmulas tenham sido estabelecidas, elas não conseguem englobar “a totalidade extensiva de vida que ele reúne”, na opinião de Temístocles Linhares, o excelente ensaísta paranaense.
Na verdade, o que o escritor deseja mostrar, na urdidura de um romance, é o homem, visto dos seus vários ângulos, dentro da sociedade que o cerca e da qual ele é a peça mais importante. E realmente, não há gênero que o identifique de maneira mais objetiva do que o romance.
Aí, ele aparece de corpo inteiro, revelado nas suas características psicológicas, na sua posição social, nos seus conflitos cotidianos, na sedução e no desencanto, na alegria e no desespero, que são sempre os ingredientes da vida, hoje como antes.
São estas as divagações que nos ocorrem, após a leitura dos originais do romance de Clerisvaldo B. Chagas, intitulado “Deuses de Mandacaru”. O livro focaliza um episódio histórico, que se inicia na velha cidade de Olinda, dos tempos dos holandeses, e chega à época atual, principalmente ao cangaço que imperou nos sertões nordestinos.
E desse episódio histórico resultou a existência de um tesouro recolhido dos holandeses, em Olinda, e transportado para Penedo e em seguida para Santana do Ipanema, terra do romancista.
Nesse itinerário do tesouro, o autor desenvolve sua trama, focalizando várias épocas, ilustrando-as com uma movimentação de personagens, que dão ao romance um clima de aventura, de conflito, de dramas pessoais, e tudo isso dentro de uma atmosfera em que os numerosos fragmentos da história revelam a crônica de cada época.
Há neste livro tipos bem marcados como o de João Paulista, sertanejo e machão, de Levino e de Maria Pilar, todos eles levantando os seus próprios problemas, na revelação das suas próprias identidades. E diga-se, também, não se esqueceu o autor de nos mostrar, com uma relativa clareza, os mais escondidos sentimentos de suas personagens.
Já se disse que no desdobramento de uma história romanesca as explicações são desnecessárias. É possível que esse conceito se aplique a determinado tipo de romance. Neste de Clerisvaldo B. Chagas, cujo fundo repousa numa espécie de crônica de época, as explicações são sempre desejáveis, e elas servem para dar relevo ao roteiro da história. Também seus diálogos são explicativos e bem conduzidos, deixando o leitor em situação confortável para acompanhar os conflitos e descaminhos dos personagens.
“Deuses de Mandacaru” é mais um romance de escritor alagoano que vai conseguir um lugar em nossa história de ficção.
Nota: Romance inédito e engavetado há bastante tempo.
Nota 2: Encerramos aqui a série de palavras de apresentadores das nossas obras. Segunda, voltaremos com as crônicas normais.