MARTIRIZANDO OS MARTÍRIOS Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2015 Crônica Nº 1.486 MUSEU PALÁCIO FLORIANO PEIXOTO. O p...

MARTIRIZANDO OS MARTÍRIOS



MARTIRIZANDO OS MARTÍRIOS
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2015
Crônica Nº 1.486

MUSEU PALÁCIO FLORIANO PEIXOTO.
O palácio Floriano Peixoto, em Maceió, já não abriga governos estaduais. Virou museu pobre na sua arquitetura rica. Muitas histórias, inclusíveis tétricas e cabeludas, estão impregnadas em sua estrutura centenária. O antigo palácio, não é tão velho assim. Após marchas e contra-marchas, desde o seu começo, foi inaugurado o faustoso edifício, em 16 de setembro de 1902. Modificada a planta original, ganhou os traços de Lucarini com predominância neoclássica.
Tendo sido construída defronte a igreja de Bom Jesus dos Martírios, serviu a igreja como ponto de referência para o palácio. E, popularmente, o palácio Floriano Peixoto, passou a ser chamado “Palácio dos Martírios”, isto é, aquele que fica perto da igreja do Bom Jesus dos Martírios. O apelido pegou a tal ponto que foi questionado por um dos ocupantes nos seus apertos governamentais.
Para gastar mais dinheiro, fugir da influência do vulgo ou por outro motivo, inventaram outro palácio chamado Zumbi dos Palmares. Apesar do pomposo título, não causou nenhuma impressão psicológica no povo alagoano. É escuro e enfeitado de espelhos ou similares, com amplo aspecto de mausoléu.
Sem nada a oferecer, o antigo palácio dos Martírios, “Cavalo Branco”, pelo menos ocupa um espaço central vigiado.
O mausoléu dos Palmares, ali perto, vai registrando mais de setenta novas indústrias em Alagoas, segundo governo passado, mas parece que os impostos vão para outros territórios, pois não se vê melhora alguma e, a choradeira profissional das autoridades parece não ter fim.
Sobre o antigo Floriano Peixoto:
“O palácio sofreu algumas reformas na sua ambientação, perdendo grande parte do mobiliário e praticamente todas as peças de arte decorativa do início do século, sendo substituídas por objetos desprovidos de valor artístico” (...). (Alagoas memorável, fascículo 10, pág. 289).
O governo alagoano deu às costas aos Martírios; mas até quando o funcionalismo público e o povo do estado serão martirizados?

HÉLIO CABRAL E OS CORONÉIS Clerisvaldo B. Chagas, 8 de setembro de 2015. Crônica Nº 1.485 Hélio Rocha Cabral de Vasconcellos...

HÉLIO CABRAL E OS CORONÉIS



HÉLIO CABRAL E OS CORONÉIS
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de setembro de 2015.
Crônica Nº 1.485


Hélio Rocha Cabral de Vasconcellos, pertencente à família tradicional de elite, os Rocha, foi prefeito de Santana do Ipanema no período1956-1960. Fleuma de irlandês, intelectual, foi no final do seu governo e início da gestão Ulisses Silva que a cidade passou quatro anos no escuro. Uma fase enormemente proveitosa para os idílios receptivos dos meus embornais.
No ano 2005, morando há muito em Maceió, o ex-prefeito lançou pequeno livro de apenas 24 páginas, sem editora. Pequeno em tamanho, rico em conteúdo, o lançamento, entretanto, deu fôlego para os pesquisadores da história do sertão e suas periferias. Com o título Coronéis do sertão e sertão do São Francisco alagoano, cooperou significativamente com o livro “Lampião em Alagoas”, em nossa parceria com o escritor Marcello Fausto.
Havíamos comentado o livro, antes, porém, por outro prisma. É pena o autor não ter apresentado todos os coronéis da época dos quatro assinalados, naturalmente, os que mais lhe chamaram atenção e se encaixaram nos seus objetivos.
José Rodrigues de Lima, coronel de Piranhas, muito famoso na época era inimigo de Virgolino Ferreira, o Lampião. Após ser assassinado em Maceió, ao retornar de uma sessão de cinema (1927) caiu um silêncio pesado em torno de si, tornando dificílimo encontrar-se alguma coisa para pesquisar a seu respeito.
Outro coronel descrito por Hélio é Ulisses Luna, que comandou a política na cidade de Água Branca. Foi ele quem deu guarida ao recém-chegado à região, Delmiro Gouveia e, também, de certo modo aos familiares de Virgolino Ferreira.
Delmiro da Cruz Gouveia, outro dos quatro coronéis, depois  manteve laços de amizades com a família Rocha, através do quarto coronel: Manoel Rodrigues da Rocha. O primeiro, na fazenda, depois vila da Pedra, no alto sertão e este em Santana do Ipanema.
O livro representa parte da história sertaneja alagoana do primeiro quarto do século XX. É possível que a Biblioteca Pública Municipal de Santana disponha de pelo menos um exemplar.






FAZENDO SANTO Clerisvaldo B. Chagas, 7 de setembro de 2015 Crônica Nº 1.484 (Para Goretti Brandão e Roninho) (capuchinhos.co...

FAZENDO SANTO



FAZENDO SANTO
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de setembro de 2015
Crônica Nº 1.484
(Para Goretti Brandão e Roninho)

(capuchinhos.com).
Aproveitando a novela de Roque Santeiro, procurei saber quem fabricava santos, na região. Ao descobrir, fui à casa do homem para convencê-lo a receber uma visita de alunos, com consequência de trabalhos e notas. Sempre levei meus pupilos para inúmeros lugares com a finalidade de despertá-los para a sociedade.
No dia e hora aprazados, chegamos à casa do artesão que, por sinal, ficava na periferia do Colégio. Fomos recebidos com boa vontade, mas com muita modéstia por aquele homem que jamais tinha registrado visita semelhante. A garotada invadiu o seu atelier, que era apenas uma cobertura aberta de telha com chão de barro batido. Alguns instrumentos maiores estavam ali para ajudá-lo, mas nem uma cadeira havia para alguém sentar. Uma pobreza absoluta que fazia pena! Os estudantes viam as coisas e indagavam, entrevistando com educação o exímio santeiro. O homem pobre não se sentia à vontade ─ percebia-se ─, mas procurava responder com paciência e acanhamento as indagações.
Havia em um canto de parede, cerca de trinta ou quarenta santos de madeira, entre trinta e quarenta centímetros de altura, cada. Nunca havíamos visto tanta perfeição em um trabalho daquele que parecia não ter sido feito por mãos humanas. Após a sabatina da turma, foi a minha vez de perguntar o destino da mercadoria. Os santos eram enviados ao Recife, entregues por preço vil e repassados aos estrangeiros por pequenas fortunas pelos atravessadores.
Um homem rude daquele, verdadeiro gênio, deveria ser tratado na sua cidade com honras de prefeito. Ignorado e invisível, o magnífico artesão fabricava santo para o mundo inteiro, enquanto no seu lugar, aparecia menos que mendigo.
Quando vejo grandiosos artistas na minha cidade, escultores, pintores, escritores, sem apoio da venda de uma peça, sem respaldo para publicar um único livro, lembro como a ignorância impera. Isso faz lembrar a declaração do papa dos poetas nordestinos, Severino Pinto da cidade de Monteiro, Paraíba. Elevou o nome de Monteiro para os quatro cantos do mundo e da sua cidade natal nunca recebeu uma homenagem: “Tudo dei a Monteiro, Monteiro nada me deu”.
A cultura no Sertão continua com a mesma qualidade do Santeiro e as infinitas mágoas dos artistas, semelhantes às do repentista Severino.