Desenho propaganda. BUNDA DE FORA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2016 Cônica Nº 1.536 O cantador de repentes cantava...

BUNDA DE FORA

Desenho propaganda.


BUNDA DE FORA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2016
Cônica Nº 1.536

O cantador de repentes cantava com o olhar atento aos detalhes da plateia. Eis que entra no salão um matuto e fica em pé no canto da parede. O cantador esperou que seu parceiro terminasse os versos para pegar na deixa, como fazem todos os violeiros:

(...) a inteligência foge
Do doido e do incapaz.

Então, ele cantou:

Aqui chegou um rapaz
De roupa desconhecida
É calça tipo coronha
Que eu mais detesto na vida
É comprida pra ser curta
É curta pra ser comprida.

Mas o caso não é bem esse. Certa vez, meu pai teve a calça rasgada por um prego. Minha mãe apontou e ele respondeu: “E por isso que eu uso cuecas”. Estava justificado, vamos trocar as calças.
Com certeza todos já ouviram a história do rei que estava nu. No Brasil o negócio foi diferente. O povo já sabia de tudo. Mas, talvez cansado de pegar em armas, vai deixando para que outros tomem conta da tarefa que é sua. Os hospitais estão fechando, muita gente morrendo sem atendimento; nas escolas os escândalos não param. E todo o dinheiro do Brasil vai sendo desviado para os bolsos do Senado, da Câmara dos Deputados, dos Prefeitos, dos Vereadores e de funcionários privilegiados com salários incríveis que chegam perto das nuvens. Até quando o povo brasileiro vai clamar a Deus sem mover uma palha?!
Para não se prolongar, a tal lava jato funcionou como um prego bem grande que rasgou os fundilhos dos senhores elegantes da cara de... Todos ou quase todos estão querendo tapar o rasgão com os dedos diante dos apupos. Podem até vestir calças novas, mas o povo já viu que eles não usam cueca na bunda que defeca o dinheiro público.
 


OS MOCHILEIROS Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2016 Crônica Nº 1.534 MOCHILEIROS. Foto (penutrilhainca). Com mochila ...

OS MOCHILEIROS



OS MOCHILEIROS
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2016
Crônica Nº 1.534
MOCHILEIROS. Foto (penutrilhainca).

Com mochila às costas, a rapaziada descobriu que vale à pena correr trecho por esse mundão de Deus. Caso olhemos para o Brasil, iremos encontrar paisagens e mais paisagens rurais que reúnem grande parte dos cenários do mundo. O mochileiro parte cedo com seus equipamentos e, na base de informações, curte lugares deslumbrantes entre montanhas, chapadas, desertos, pântanos e vales incríveis.
Alguns mochileiros participam somente de caminhadas, outros praticam alguns tipos de esportes chamados radicais. Além de respirar o ar puro dos campos, encher-se de conhecimentos, conhecer de perto o seu país, o mochileiro presta um serviço sem igual à sociedade, particularmente, aos pesquisadores. Se nós não tivéssemos colocado a mochila às costas, Santana do Ipanema não teria ganhado seu grande documento: “Ipanema, um Rio Macho”.
Em nossas caminhadas estudando e fotografando para o livro “Repensando a Geografia de Alagoas”, vimos o belo e fantástico em todas as regiões do estado. Contudo, estamos sempre a precisar de detalhes que escapam. É aí onde entra o mochileiro que fotografa, publica e informa inclusive a altura de montes com seus aparelhos GPS. Talvez o mochileiro mesmo nem saiba da grande contribuição com o Brasil ao divulgar recantos naturais. Além disso, alguns anotam todo o trajeto de suas andanças, o que permite ao pesquisador alinhavar a sua incessante procura e conferir seus dados.
A facilidade da comunicação instantânea, hoje em dia, permite o acompanhamento das trilhas junto aos aventureiros. O cordão útil e relevante vai aumentando e tomando gosto em todas as regiões. Afinal só se ama o que se conhece.
Da nossa parte, obrigado aos mochileiros pela simbiose. Até o pico do próximo azul de montanha.

O CIGARRO E O CONGRESSO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2016. Crônica Nº 1.533 Nem todos os fumantes amassavam a carte...

O CIGARRO E O CONGRESSO



O CIGARRO E O CONGRESSO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2016.
Crônica Nº 1.533


Nem todos os fumantes amassavam a carteira para jogá-la fora. A forma do descarte dependia das manias do viciado. Muitas carteiras eram arremessadas ao chão, praticamente intactas. Mesmo assim, de uma maneira ou de outra, aproveitávamos aquilo que chamávamos de nota. Nota referente a dinheiro, claro. Só não gostávamos quando o papel de cigarro era encontrado rasgado, coisa que o desvalorizava. Nós, os meninos, saíamos apanhando as carteiras descartadas na rua. Tirávamos o papel celofane e o jogávamos no lixo. O papel interno, de alumínio, e o papel normal da propaganda eram desamassados com muito esmero. Após o debrum, acrescentávamos a nota ao nosso maço de outras notas que carregávamos nos bolsos.
Essa nova moda de brinquedo, não nos afastava da ximbra, da bola ou do pinhão. Cada nota de cigarro anexada ao montante tinha o seu valor. Tudo iria depender da beleza e da raridade para se determinar a sua valia. Caso fosse hoje, cada uma delas seria apontada como um real, cinco, dez, cinquenta ou cem. Então, nós saíamos fazendo o jogo da troca. Logicamente, quem possuía nota de maior valor em grande quantidade, era rico. Da mesma maneira que fazíamos com as figurinhas de jogadores que vieram depois, fazíamos com as cédulas de cigarros.
Estamo-nos lembrando das marcas mais comuns em nosso meio sertanejo: Continental e Astória. Depois, os mais raros: Urca, Iolanda e Fio de Ouro. O papel interno, de alumínio, era o menos valorizado e servia quase somente de troco.
Essa foi mais uma forma de brinquedo da nossa época. Lembrando esse passado a um amigo contemporâneo, indaguei, displicentemente: “E hoje, com tanto assalto por aí, será que esse joguinho faria sucesso com a meninada?”.
Ele me respondeu na hora: “Talvez sim, porém, muito distante do Congresso Nacional”.