CAMINHADA, ZÉ Clerisvaldo B. Chagas, 13 de novembro de 1019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.215 PROFa. DIVA  NO R...

CAMINHADA, ZÉ


CAMINHADA, ZÉ
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de novembro de 1019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.215
PROFa. DIVA  NO RIO IPANEMA EM CAPELINHA.(FOTO: B. CHAGAS)

Para quem gosta de natureza e aventura, nada como caminhar pelas trilhas sertanejas. Quem tem força nas pernas pode escolher as serranias onde as paisagens compensam qualquer esforço físico. Em caminhadas mais leves os terrenos planos e ondulados também oferecem seus encantos. Os rios periódicos ou intermitentes, quando secos deixam lugares exuberantes: Poços grandes e pequenos; vegetação variadíssima adaptada ao sal das areias grossas; animais como teiú, cobras, besouros, formigas, raposas e passarinhos nos lugares de maior umidade. No Sertão alagoano pode ser através dos leitos de rios como o Traipu, Ipanema, Capiá e seus afluentes que sempre oferecem lugares aprazíveis nos pedregulhos.
E foi assim que subindo o leito do Ipanema desde o local urbano Barragem fui encontrando surpresa pelas veredas. Sim, pelas veredas marginais, pois ninguém suporta caminhar por dentro da calha arenosa. Num lugar mais estreito, verde e solitário, deparei-me com a estátua do padre Cícero dentro de um pequeno oratório gradeado sob uma pedra escura. E mais na frente chego à pirâmide santanense em pleno leito do rio dividido em dois braços. O lugar é apontado pela sociedade Rosa-Cruz, como pirâmide construída por alienígenas. Vou ao cimo, vou à loca enfrentando urtigas e marimbondos. À frente encaro o Poço Grande ou Poço do Boi (já aterrado), mas não consigo enxergar o desenho natural da cara do ruminante no enorme lajeiro, como outros enxergam.
E após quilômetros rio acima, encontro muita solidão e silêncio no campo. Tentando desviar uma trilha maior, entro por uma vereda para cortar caminho e levo mais um susto dentro do mato. Uma imagem de Nossa Senhora colada sobre uma pedra cercada de vegetação. Calculo rapidamente o tamanho da imagem em trinta centímetros, ornando aquele esquisito de caatinga.
E sem encontrar “um único pé de pessoa” até ali, ajeito o malote, contemplo o ambiente e rapidamente retorno às bases.
A impressão é que você está sozinho no mundo.
Valeu. “Valeu o boi”.

SANTANA: dois fatos humorísticos Clerisvaldo B. Chagas, 12 de novembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.21...

SANTANA: DOIS FATOS HUMORÍSTICOS



SANTANA: dois fatos humorísticos
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.214
COMÉRCIO DE SANTANA. (CRÉDITO: B. CHAGAS).

O senhor Pedro Cristino, conhecido por Seu Piduca, possuía casa comercial enormemente sortida. Só não vendia gêneros alimentícios. Também era dono de olaria que prestou inestimáveis serviços a Santana do Ipanema. Atualmente seus descendentes ainda estão no mesmo ponto do comércio com o título de Casas das Tintas. Um homem de bem de alta qualidade. Ali, nós, os meninos, comprávamos ximbras coloridas, pinhão, faca salva-vidas, canivete, ponteira, linha de náilon e anzol. Certa vez chegou um esperto viajante e foi tentar vender apitos a Seu Piduca. Ele recusou. O viajante foi até à praça do centro convocou uma porção de garotos, deu dinheiro a cada um e mando-os de cinco em cinco minutos comprarem apito.
O garoto chegava pedia um apito e Seu Piduca dizia que estava em falta. Após umas dez procuras, o comerciante mandou um empregado procurar com urgência o vendedor de apitos. Comprou todo o estoque do cidadão e nunca mais vendeu o primeiro bichinho de soprar.

Seu Carola (ô) ou Caroula, o dono de farmácia, Cariolando Amaral, vendia maná armazenado num frasco grande na última prateleira, a mais alta de todas. Dava um trabalho danado, tirar o vidro, pegar o produto, embrulhar e deixar o frasco novamente na última prateleira.
A molecada combinou fazer uma presepada com o homem. Reuniram-se alguns “maloqueiros” e dando certo tempo de um para o outro, chegavam e pediam: “Seu Carola quero quinhentos réis de maná”. Quando chegou ao sexto freguês, não suportando mais o tranco por tão pouco, seu Carola, respondeu ao cliente mirim: “Vá comprar maná na casa da gota serena, seu fio da peste!”.
E foi assim que o galegão Cariolando Amaral, com sua gravatinha borboleta, nunca mais vendeu maná em Santana do Ipanema.



                                                                                     

O PRIMEIRO LOCUTOR Clerisvaldo B. Chagas, 11 de novembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.213 SANT...

O PRIMEIRO LOCUTOR




O PRIMEIRO LOCUTOR
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.213

SANTANA, ESCOLA CENECISTA. (FOTO: B. CHAGAS).
O locutor mais antigo (não pela idade) que conheci no Sertão alagoano foi o José Pinto. Conhecido como Zé Pinto Preto ou Pinto Preto, distinguia-se do, então, funcionário do IBGE, José Pinto de Araújo, que é branco. Pinto Preto era filho do senhor Elói, conhecido como o grande marcador de quadrilha junina; irmão de Walter Pinto, também marcador e conhecido em Santana do Ipanema como Walter da Geladeira, da qual era técnico em refrigeração. Pinto Preto casou com a filha de Seu Gaia, zelador conhecido da igreja de São Pedro, no mesmo Bairro. Seu Gaia já enfrentara nos primórdios, tiroteio com Virgulino Ferreira, na região do atual Ouro Branco.
Ainda não havia as rádios no Sertão e, Pinto Preto era locutor de um programa de divulgação da prefeitura de Santana, “A Voz do Município”, criado na gestão do prefeito Dr. Hélio Cabral de Vasconcelos. O informativo da prefeitura tinha a sede no primeiro andar da CARSIL e ficava no ar por algumas horas, duas vezes por dia. Além de informar sobre os movimentos da prefeitura, dava outras notícias e era recheado com bastante música, como as de Nelson Gonçalves, Ivon Curi e outros famosos da época. Alguns autofalantes ficavam distribuídos em postes nos pontos estratégicos da cidade. Havia um autofalante no Bairro São Pedro, na parte de cima, defronte a fábrica de calçados do senhor Elias; outro na esquina do beco estreito defronte ao antigo Grupo Estadual Ormindo Barros e outro aparelho, não em poste, mas imediatamente abaixo do telhado do “sobrado do meio da rua”, lado oeste do prédio.
Não vêm à lembrança outros pontos de autofalantes. Pinto Preto, mais tarde, resolveu ingressar em política e chegou a exercer mandato de vereador. Seu slogan era: “Não vote em branco, Pinto Preto para vereador”. O filho de seu Elói, salvo engano, mais tarde foi locutor também da primeira rádio sertaneja, “Correio do Sertão”.
Quanto a problema de idade, o mais velho na terrinha deve ter sido Humberto Guerrera, irmão do, então, Bispo Diocesano de Palmeira dos Índios. Não sabemos se é verdade, mas dizem que a “pioneira” Rádio Correio do Sertão” cerrou às suas  portas.