DISCORDO DE TESE (I)          Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.221  ...

DISCORDO DA TESE


DISCORDO DE TESE (I)
         Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.221
 
 Marinheiro Amaral. ( Foto: Almir Rpdrigues).
Discordo da tese de antigo escritor santanense, que falou em seu livro que “Lampião ajudou à cidade a crescer”. Dona de um território que originou depois de Lampião, oito municípios, a cidade de Santana do Ipanema era uma vila até 1921 quando nem havia ainda o Lampião. Já existia banda de música, escolas pequenas, cemitério, correios, cadeia, sobradões, inúmeras residências de luxo, calçamento, fabriquetas, artesãos e um comércio digno de respeito. Ao se transformar em cidade (1922), o ato político foi quem fez a cidade crescer. Mais repartições, mais justiça, mais comércio, duas bandas de música, colégio particular, teatro, cinema e vários sistemas de diversões folclóricas, impulsionaram a nova cidade. Mesmo assim, Santana ainda vivia nas amarras de terrenos particulares em torno que não deixavam a cidade se expandir.
A pujança tradicional e crescente do seu comércio e a nova condição de cidade atraiu muita gente dos oito futuros municípios e da zona rural. Foi criado naturalmente o Bairro Camoxinga onde pessoas de menor poder aquisitivo escolhiam para moradia. O território era descriminado pela falta de ponte entre ele e o centro, sempre interrompido na comunicação pela cheias violentas do riacho Camoxinga. Dois ciclos particulares importantes de expansão aconteceram, então, sendo o do Camoxinga o primeiro deles. Após o soerguimento da ponte de concreto veio a consolidação do grande bairro que deu origens a vários outros. Até aí, apenas algumas poucas famílias vieram morar em Santana por problema com Lampião. Não se conhece nenhum êxodo rural no antigo território santanense.
A família Amaral, segundo o conterrâneo Almir Rodrigues, veio de Inajá, Pernambuco, para Santana, por problemas com o bandido. E no município se conhece a história do Senhor Marinho Rodrigues (zona rural) assaltado pelo bando. Ambas as famílias tornaram-se comerciantes e muitos progrediram na cidade. O segundo ciclo particular de expansão, aconteceu nos anos 60, quando foi construída a ponte sobre o rio Ipanema que fez a cidade ocupar o outro lado, quase sem gente, do rio. O atual Bairro Floresta fez o mesmo papel que antes fizera o bairro Camoxinga. Esse foi quase todo ocupado por pessoas da zona rural.
O que Lampião fez crescer mesmo foi à barbárie, somente degolada em 1938. (continua , amanhã).



SANTANA: A MORTE DAS ALGODOEIRAS Clerisvaldo B . Chagas, 22 de novembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.22...

SANTANA: A MORTE DAS ALGODOEIRAS


SANTANA: A MORTE DAS ALGODOEIRAS
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.220

SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).
Lampião gostava de assaltar e extorquir em Alagoas, o estado mais rico daquela época. Havia vários proprietários em sítios, povoados, vilas e cidades, industrializados com a máquina de beneficiar algodão. A máquina enorme era chamada de vapor ou bolandeira. Muitos desses proprietários rurais foram assaltados pelo bandido e vários tiveram seus maquinários incendiados. Surgiram máquinas mais modernas nas cidades sertanejas alagoanas, como em Olho d’Água das Flores e Santana do Ipanema. Dentro do Ciclo do Algodão, as chamadas Algodoeiras, da matéria-prima produziam capulho e caroço. O capulho era transformado em fardos quadrados, envoltório de fita metálica, tornando-os rígidos para embarques em caminhões. O caroço do algodão era vendido no próprio local do fabrico, comprado como ração do gado leiteiro.
Até mais ou menos o final do século XX, devido à concorrência com o algodão do Sudeste (melhor qualidade e conchavos políticos), a praga do “bicudo” e a falta de incentivo do estado, houve a extinção dos algodoais em Alagoas e a consequente morte das algodoeiras. Em Santana do Ipanema funcionavam duas delas: a do industrial Domício Silva, prédio enorme, de uma rua à outra, dividido em três frentes. Estava situado à Rua José Américo e escoava sua produção pela parte lateral voltada para o Largo da Feira, onde encostavam os caminhões para o transporte dos fardos.
A outra algodoeira, do industrial Arnóbio Silva, situava-se no largo da pracinha Siqueira Campos, na ladeira logo abaixo da Escola Estadual Ormindo Barros, no Bairro Camoxinga. Foi mais resistente, fechando por último. Sua produção era escoada pela lateral direita já pertencente à Rua Delmiro Gouveia.
Ainda levei alunos (Geografia) para visitar a algodoeira trabalhando de Domício Silva, compadre de meu pai.
Com o ciclo do algodão em crise, faleceram em Alagoas algodoais e algodoeiras e, antes, 12 fábricas de tecidos em todo o estado.
Prejuízo incalculável para a Terra dos Marechais e páginas amargas e fúnebres, frutos do descaso administrativo.
A indústria têxtil em Alagoas era maior do que a canavieira.
Ave-Maria! Ave-Maria.
    

C ASA DE TAIPA Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.219 (BLOG: FOTO...

CASA DE TAIPA


CASA DE TAIPA


Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.219

(BLOG: FOTOS E FATOS DA CAATINGA).
Casa de taipa no Brasil está em todas as regiões com variações de nomes. Seu formato é coisa antiga da África, do Oriente e mesmo da Europa. Mas estamos apresentando a residência rude do nosso sertão nordestino, com suas peculiaridades. A casa de taipa é mais comum na zona rural, principalmente feita por pessoas de baixíssimo poder aquisitivo. Sua construção artesanal tem a sua eficiência diretamente ligada as habilidades do seu construtor. Pode ser erguida com o próprio barro do local, podendo também ser transportado em carro de bois. Primeiro se faz um entrançado de varas e outras madeiras. Varas verticais, varas horizontais que formam uma espécie de gaiola. Quando a parte de madeira se encontra apta, vem à parte do barro, molhado, mexido e até pisados por muitos em dança de coco de roda.
O mestre vai jogando com a mão o barro no entrançado da madeira, enquanto os convidados bebem, dançam e cantam o coco misturando o barro com os pés, ao som de instrumentos musicais  como o pandeiro e a “peneira”. Esse ritual recebe o nome de “Tapagem de Casa”. Um cantor ou uma cantora canta o coco, geralmente improvisado. Depois o teto é coberto com palha de coqueiro (mais comum nos litorais) ou telhas. As paredes, após o serviço, podem ficar perfeitas ou não, dependendo do mestre construtor. Muitas casas surgem com rachaduras onde insetos e roedores costumam se esconder, como o barbeiro transmissor da doença de Chagas. Entretanto as paredes podem receber acabamento e até reboco semelhante às casas de alvenaria.
Muitas cidades do sertão nordestino têm em suas ruas casas importantes feitas de taipas com reboco que de longe não demonstram suas origens.
Mesmo com programas governamentais para substituir essa modalidade de construção, a casa de taipa nunca foi erradicada totalmente desse Brasil, velho de guerra.
Os costumes vão desaparecendo com a evolução, mas aqui, acolá, pode surgir um convite ao amigo para uma Tapagem de Casa.
E haja coco de roda, namoro suado e cachaça “rinchona”!