CAPELAS E CAPELINHAS Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.253 (Imagem:...

CAPELAS E CAPELINHAS


CAPELAS E CAPELINHAS
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.253

(Imagem: lugaresesquecidos.com.br).
Em nosso livro enciclopédia (ainda inédito), sobre a história de Santana do Ipanema, temos páginas dedicadas a todas as igrejas católicas da cidade. O título é “Igrejas e Igrejinhas”, com fotos e históricos. Elas estão espalhadas em quase todos os bairros com diversos tamanhos; as pequenas tendo sido construídas por particulares. Mas também encontramos capelas e capelinhas na zona rural, em sítios e fazendas. Algumas são novas e bem cuidadas, estando em completa atividade. São realizadas missas conforme a ocasião e agendamento com a Paróquia. Mas também encontramos ermidas abandonadas, esquecidas, arruinadas, enforcando a paisagem saudosa e interrogativa.  Vimos ainda ruínas que se parecem com o tamanho do pecado.
Anos após os escritos, em novas visitas, encontramos igrejinha de tantas e tantas festas anuais, sem imagem, funcionando como depósito de carvão. Todavia, não é somente nesse município que surgem capelas abandonadas e outras em ruínas. Basta viajar pela BR-316 para sair assinalando esses pequenos edifícios, perto ou às margens da rodovia, notadamente na região do Agreste. Ali o clima quente e úmido castiga as construções “sem donos” por motivos diversos. Em cada capelinha abandonada ou em ruínas, existe uma história que daria um livro completo cheio de argumentos. Quem seria o pesquisador religioso ou sociólogo disposto a contar essas histórias em documentário monótono ou fantástico? O olhar vindo do automóvel parece captar um socorro cheio de sofrimentos das paredes esqueléticas.
Os fervores antigos foram construindo esses pequenos prédios buscando também o prestígio de cada paróquia. Mas a morte do proprietário rural, não foi preenchida na fé pelos descendentes. Uns venderam as terras, outros abandonaram as ermidas e, mais motivos diferentes também povoam a cabeça do observador.

Igrejinha abandonada
Num cenário tão insosso
Um rosário no cambito
Uns gonzos de ferro grosso
Uma cruz toda roída
Somente o “couro e o osso”.






SANTANA E SUA FEIRA Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.252 FEIRINHA EM ...

SANTANA E SUA FEIRA


SANTANA E SUA FEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.252
FEIRINHA EM SANTANA (FOTO: B.CHAGAS/ARQUIVO).

Continua se segurando a Feira da Agricultura Familiar em Santana do Ipanema. São dois anos da feirinha realizada as sextas, um dia antes da tradicional feira livre da cidade. Idealizada para incentivar a agricultura de roça e assentamentos, o comércio leva aos clientes produtos de qualidade e vai ganhando a preferência dos que procuram opção segura na alimentação. Desde o início o evento das sextas foi apontado para funcionar à Avenida Arsênio Moreira vizinha a Caixa Econômica Federal. Hortaliças, legumes, frutas, pequenos animais, artesanato e demais produtos fazem parte daquele comércio com suas barracas padronizadas. Chama atenção até para os menos exigentes, a limpeza dos pontos de vendas e os arredores. Um contraste com a do sábado.
O movimento das feirinhas é organizado no estado inteiro. Em centros maiores, como a capital, existe a mudança de lugares para prestigiar outros bairros, mas sempre acontecendo com a mesma qualidade dentro de Alagoas.  Além de o cliente levar produto  superior, o incentivo à agricultura de roça gera mais emprego e melhora a economia das famílias envolvidas no projeto. A exemplo dos programas de criação de galinha caipira, abelhas, caprinos e ovinos, o semiárido vai gerando renda e melhorando significativamente o antigo cenário sem expectativa. As vendas para as escolas do governo também têm assegurado o ânimo da agricultura familiar, principalmente quando o pagamento é feito em dia.
Na última vez em que estive na feirinha de Santana do Ipanema, até sanfoneiro animava o ambiente. Sim senhor, sanfona, triângulo e zabumba. O evento semanal tornou-se até ponto de encontro mesmo dos que nada vão comprar. Saí de banca em banca igual a conferente, vendo produtos que há muito não via no mercado. Banha de porco, doces caseiros feitos nos sítios, guloseimas de goma e até garrafinhas de mel de abelha italiana. Diante de uma banca com artesanato de metal deparei-me com o famoso artesão Roninho. Ganhei na hora uma peça bonita e pesada como cortesia.
Viva o homem do campo que produz a nossa alimentação.
Parabéns à Feirinha pelos dois anos de existência.

TEMPO DOS TROVÕES Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2020 Escritor Simbolo do Sertão Alagoano Cronica: 2.251   M...

TEMPO DE TROVÕES




TEMPO DOS TROVÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2020
Escritor Simbolo do Sertão Alagoano
Cronica: 2.251
 

MILHO ASSADO EM MARIBONDO. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Ontem à noite, bastante relampejar para as bandas de Pernambuco. Dia seguinte em Maceió, céu rodeado de nuvens chumbos, doidinhas pelas chuvas. E para surpresa do observador, pequenos bandos de garças brancas pantaneiras cruzam os céus maceioenses. Circula o vento e até urubus aparecem sobre edifícios e mangueiras carregadas de frutos. Tudo faz lembrar as garças que vão chegando a minha terra. O ninhal da migração sucessória acontece sempre na encosta entre o rio Ipanema e o hospital no alto da Floresta. Núcleo belo e interessante que congrega muito mais de que mil indivíduos. O esvoaçar do amanhecer leva as garças a procurar alimentos nos poços do rio e nas fazendas da região. Muitas acompanham o movimento do ga do, procurando bichinhos. À tardinha, formam um grande tapete branco para o pernoite.
Assim como é tempo de mangas em Maceió, também é tempo da manga-espada, rosa, gobom, maria que perfumam as feiras do Sertão. Época do caju amarelo e vermelho do povoado Areias Brancas, Olho d’Água do Casado e de todo o território. Janeiro dos trovões caprichados e dos relâmpagos terrificantes. Lá nos terreiros de sítios e fazendas o aroma de castanha assada deixa a bandeja de lata no fogo e ganha às narinas de bichos e de gente.
E lá vou eu pegando a BR-316 de volta ao meu torrão. Satuba, Atalaia... E a famosa paradinha para o interminável milho assado e tapioca do Maribondo. Depois, suavidade de asfalto bom, Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas, Cacimbinhas e Dois Riachos. Quase em casa no povoado Areias Brancas e, finalmente, o cenário santanense com o serrote Gonçalinho emoldurando o horizonte. Graças! Bem diz o forrozeiro:
“Acordo as quatro/tomo meu café/dou um cheiro na mulher/e nas crianças também/vou caminhando/ com o céu ainda escuro/respirando esse ar puro/ que só minha terra tem...”.
É sim, amigos e amigas, quem não pode sonhar dormindo, sonha acordado e tomando cafezinho.