O MANÁ
DE SEU CAROLA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de setembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.118
Vou contar de novo. O senhor Cariolando Amaral,
vulgo “Seu Carola) (ô), era um dos donos de farmácia em Santana do Ipanema.
Galego alto, tipo alemão, sério e usuário permanente de gravata borboleta.
Tinha sua farmácia no “prédio do meio da rua” e, por trás do balcão havia um
busto de um negrão forte, lustroso envergando uma barra de aço, em propaganda
do tônico “Fhipatosan”. Quando o “prédio do meio da rua” foi demolido, Seu
Carola passou para um dos pontos comerciais sob o Hotel Central de Maria Sabão,
entre a esquina e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Naquela época ainda se
vendia maná em farmácias. Naquela farmácia, o vidro do maná estava na prateleira
mais alta. Entre o trabalho e o lazer, Seu Carola jogava gamão com seus
parceiros, nas tardes de verão defronte o Bar do Tonho na sombra agradável do
hotel.
Ah! cabra véi, ninguém escapa da malandragem
dos gaiatos, nem mesmo Seu Carola. E foi assim que um grupo deles se combinou e
teve início a “onda” como o galego. Chegou um rapaz e pediu, “Seu Carola, quero
quinhentos réis de maná”. O homem pegou a escada e foi pegar o vidro na última
prateleira. Guardou a escada e embrulhou o pouco do produto. O rapaz foi
embora. Cinco minutos depois, um segundo rapaz: “Seu Carola, quero quinhentos
réis de maná”. La vai Seu Carola repetir todo o ritual. E sempre que o dono de farmácia guardava a
escada, mais um e mais outro gaiato chegavam para comprar maná. Seu carola
começou com desconfiança, enquanto na esquina do hotel os gaiatos se divertiam
às gargalhadas.
O senhor Cariolando Amaral, quando trabalhou no
“prédio do meio da rua”, foi nomeado delegado civil. Atuou, inclusive, nas
preliminares do caso Floro Novais, em Olivença. Retirava do rosto toda a
seriedade que possuía, para atuar nos blocos carnavalescos de Santana. Quando o
saudoso prefeito Ulisses Silva demoliu o “prédio do meio da rua”, as imediações
da farmácia, ficaram repletas de cacos de telhas e bainhas de facas tomadas dos
matutos. E se o senhor Cariolando Amaral era sisudo dono de farmácia e delegado
civil com gravatinha borboleta e tudo, foi machão para os bandidos, mas não
conseguiu escapar da troça do maná.
O maná de seu Carola!
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