domingo, 29 de setembro de 2024

 

O MANÁ DE SEU CAROLA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.118

 



Vou contar de novo. O senhor Cariolando Amaral, vulgo “Seu Carola) (ô), era um dos donos de farmácia em Santana do Ipanema. Galego alto, tipo alemão, sério e usuário permanente de gravata borboleta. Tinha sua farmácia no “prédio do meio da rua” e, por trás do balcão havia um busto de um negrão forte, lustroso envergando uma barra de aço, em propaganda do tônico “Fhipatosan”. Quando o “prédio do meio da rua” foi demolido, Seu Carola passou para um dos pontos comerciais sob o Hotel Central de Maria Sabão, entre a esquina e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Naquela época ainda se vendia maná em farmácias. Naquela farmácia, o vidro do maná estava na prateleira mais alta. Entre o trabalho e o lazer, Seu Carola jogava gamão com seus parceiros, nas tardes de verão defronte o Bar do Tonho na sombra agradável do hotel.

Ah! cabra véi, ninguém escapa da malandragem dos gaiatos, nem mesmo Seu Carola. E foi assim que um grupo deles se combinou e teve início a “onda” como o galego. Chegou um rapaz e pediu, “Seu Carola, quero quinhentos réis de maná”. O homem pegou a escada e foi pegar o vidro na última prateleira. Guardou a escada e embrulhou o pouco do produto. O rapaz foi embora. Cinco minutos depois, um segundo rapaz: “Seu Carola, quero quinhentos réis de maná”. La vai Seu Carola repetir todo o ritual.  E sempre que o dono de farmácia guardava a escada, mais um e mais outro gaiato chegavam para comprar maná. Seu carola começou com desconfiança, enquanto na esquina do hotel os gaiatos se divertiam às gargalhadas.

O senhor Cariolando Amaral, quando trabalhou no “prédio do meio da rua”, foi nomeado delegado civil. Atuou, inclusive, nas preliminares do caso Floro Novais, em Olivença. Retirava do rosto toda a seriedade que possuía, para atuar nos blocos carnavalescos de Santana. Quando o saudoso prefeito Ulisses Silva demoliu o “prédio do meio da rua”, as imediações da farmácia, ficaram repletas de cacos de telhas e bainhas de facas tomadas dos matutos. E se o senhor Cariolando Amaral era sisudo dono de farmácia e delegado civil com gravatinha borboleta e tudo, foi machão para os bandidos, mas não conseguiu escapar da troça do maná.

O maná de seu Carola!

 

 

  


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