terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 

O PÃO E FARINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.173



 

Posso, pessoalmente, dizer como foram importantes para o Sertão alagoano e para o interior de todo o Nordestes na década de 60, o pão e a farinha. É verdade que no Sertão alagoano os dez anos da década falada acima, foram de uma riqueza nunca vista. Todos os dez anos foram de bons invernos, a ponto de o próprio povo, satisfeitíssimo nas ruas, exclamasse espontaneamente: Bem que o padre Cícero falava que o Sertão iria virar mar e o mar virar Sertão. Isso não queria dizer, porém, que não tivesse pobreza. Tinha sim. Muita pobreza. A padaria, sempre a primeira indústria de lugar pequeno, foi importante ao extremo para a classe média, mas também o refrigério da pobreza. O remédio de urgência da fome era o pão nas mais variadas formas: francês, crioulo, doce, carteira, alagoas ou mesmo em outra forma de massa como o bolachão.

Por outro lado, a farinha de mandioca, então, o produto do almoço mais barato da época, foi o grande socorro do pobre fixo e dos inúmeros mendigos que pareciam fazer filas nas ruas sertanejas. E sendo o produto mais acessível, 90% das esmolas nas residências, era farinha de mandioca. Riquíssima em carboidratos, foi sempre usada pelo pedinte misturada com água para pequenos bolos puros para tapear a fome. E se o pão já era usado na Antiguidade como produto básico, continua sendo no Século XXI. E a farinha que vem desde os tempos de nossos avós e bisavós foi o destaque do uso da mandioca das casas de farinha de Sertão e Agreste. Fez parte do prato típico sertanejo: feijão, arroz e farinha.

Ao entrar o ano de 1970, acabou-se o MAR do Sertão. Uma seca feroz tomou conta do semiárido, a fome, apertou geral e novamente a farinha de mandioca e o pão voltaram como os primeiros socorros. É de notar que no final do Século XX, muitas regiões produtoras de mandioca, deixaram de plantar e as novas casas de farinha cerraram suas portas, no Sertão. Entretanto, houve como compensação, movimentos organizados nos Agrestes, por essa industrialização. Em Alagoas é famosa a chamada farinha de Sergipe, branca, torrada e fininha. Mas já existe uma farinha de Arapiraca, fininha, torrada, amarelada e altamente gostosa que vem fazendo um sucesso danado por onde chega.

Nordestino sem farinha! Oxente! Onde já se viu?


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