quinta-feira, 5 de agosto de 2010

LUÍS DOIDO

LUÍS DOIDO
(Clerisvaldo B. Chagas, seis de agosto de 2010)
Quando falamos em malucos nem sempre dizemos sozinhos. O nosso romance “Ribeira do Panema” bem que procura descrever os doidos da cidade. Encontramos referências também em outros livros de autores santanenses e de Palmeira dos Índios, como Oscar Silvar e Valdemar Cavalcanti, sobre essas pessoas sem juízo. Sem sabermos sobre sua origem, surgiu na “Rainha do Sertão” um doido chamado simplesmente Luís. Jovem, em torno de vinte e dois anos, Luís era alegre a todo o momento e babava sempre. Não sabemos se a baba era proveniente de algum medicamento ou consequência mesmo do seu mal. Parece que sua mãe sempre aparecia e o mantinha limpo. Por onde passava, Luís era querido e cumprimentado. Para aumentar a felicidade do rapaz, causou tremendo sucesso um forró lançado no Nordeste. “O Relabucho”, de melodia muito boa e cantada em ritmo alucinante por Zeca Balero, alegrou muita gente nessa terra. Luís doido logo se identificou com a composição de Elino Julião e Lucas Evangelista/Athaíde Pereira. Se o rapaz já era contente sem música, dobrava o ânimo quando o rádio bradava:

“Aproveita o relabucho Maricota venha cá
Eu relo, você rela, tu rela eu torno a relar...”

(...) “anda Maricota que o tempo está passando
Todo mundo tá relando, você fica sem relar...”

Estávamos aproximadamente na época da Guerra do Vietnã, 1959-1975. O forró de alta qualidade chegava e agradava a todas as camadas sociais. Luís se apaixonou pela música e passou a ser solicitado pelo comércio inteiro. Cantava e dançava rindo e babando o que era uma atração constante. “Cante aí o relabucho, Luís!” E era somente o que o doido queria:

(...) “maracujá só é bom quando tá murcho
Eu entro no relabucho só deixo quando relar...”

Palmas para Luís e Vibração na plateia.
Difícil é governar os Estados Unidos. O país ficou viciado em mandar invadir e derramar sangue. Há anos um repórter de TV fez uma entrevista com vários pistoleiros presos no Brasil. Um deles, em presídio de Pernambuco citou o vício de matar como principal causa de setenta e tantas mortes: “não tendo quem me contrate, mato só para vê a queda”. Repetindo mais uma vez, a ONU não manda em nada. Não manda porque virou títere em mãos americanas. Barack, mal anuncia a retirada do Iraque ─ onde foi fabricada ‘só para ver a queda’ uma enorme montanha de cadáveres ─ gente do governo já anuncia a invasão ao Irã. Manobras militares ameaçam também a Coreia do Norte e só falta tirar o breve do meio. Não basta o Iraque, o Afeganistão engolidor de defuntos de jovens ianques, porque o vampiro Tio Sam, não bebe em taça pequena. “Negro jurado negro apanhado”, diziam no Império brasileiro. E se Obama pensava ser um pacifista, foi perdendo a cor dos cabelos sob pressão interna. Até a ex-candidata a vice-presidenta, vulgar senhora parecida com atriz pornô, chega a dizer que o Barack não tem “Culones”. Encheu a boca do seu uso. Não sabemos se ela mandou alguém ou foi verificar in loco. Vai, Obama, cumprir a sina homicida do seu país! Vá construindo novos Vietnãs, mas não venha para cá. Ao invés de bombas e canhões, preferimos as estrofes de Zeca Balero:

“Aproveite o relabucho, Maricota venha cá...”

O Brasil já tem lunáticos de sobra, cópias, carbonos, clones... de LUÍS DOIDO.





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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

VELHO CRUZEIRO

VELHO CRUZEIRO
(Clerisvaldo B. Chagas, cinco de agosto de 2010)
Vou novamente subindo lento e solitário a trilha do serrote. Agora a capoeira é verde. Galhos se debruçam nos degraus de cimento e pedra. O silêncio resmunga na indefinição de um ruído, no farfalhar quase imperceptível de folhas, no som longínquo da cidade. Meia volta no corpo, nivelar de cabeça, trena nos olhos. Novo fôlego no aclive longo, no fim dos batentes, na terra banhada e nua. Rachões nos pedregulhos, garranchos de caminho e a sensação estranha de está sendo olhado, acompanhado, fotografado. Ali está, por entre espaços da folhagem, ali está. Ele, o velho cruzeiro de madeira resistindo ao tempo. Braços abertos abençoando casas tão longe e de longe tão perto, beijando-lhes os pés, pedindo-lhes a bênção. E eu vou pisando no lajeiro enorme, contando as passadas, flutuando no Sinai da minha terra. Sento-me na calçadinha da capela e acompanho o abraço de amor a urbe de Senhora Sant’Ana. Uma vigilância eterna de considerável afeto. Serras do Poço, Camonga, Macacos, Remetedeira... Lá se vai o fio d’água barrenta seguindo o destino, como o destino da gente. A torre da Matriz quer competir, mas não tem altitude. Berra o sino no protesto longo contra o concorrente natural. E me vem às narinas o perfume agreste de mato verde. Como é bela a imponência da cruz! Alastrados, urtigas, macambiras, vão fazendo o cinturão de segurança ao símbolo deixado pelos homens.
Antigo morro da Goiabeira, receptora energética do alto, jorro de fé dos que te escolheram entre os montes. Ah! Vejo as pessoas simples fazendo promessas, tijolos à cabeça, bandas de música a tocar. E os chapéus de palha, e os pés descalços e o espocar de foguetes. Onde estão as multidões que procuravam as alturas para a comunhão com Deus? Por que você está sozinho depois de curar tantos e tantos males dos que vieram após agradecer? Como notar Santa Terezinha trancada aí dentro, espelho quebrado, protegida por marimbondos? Que malvadezas fizeram com o Cristo que iniciou profanado num alto que não era de confiança. E onde estava a confiança, por que deixaram o Mestre e carregaram a fé? Não foi assim que recomendei esse lugar.
Depois de longas e longas espiadelas pelos arredores, deixo o cimo e vou degustando a descida numa lentidão de quem perde alguma coisa. Onde eram as estações de via-sacra? Não vejo marco nenhum. É verdade, mato não precisa de vias-sacras. Mato reza sempre ao sopro do vento nas manhãs fagueiras, nas noites de lua ou na escuridão enigmática de inverno. Vento sempre reza, Seu Clero! Sabia não? E nas faldas do serrote, misteriosamente desaparece a multidão que acompanhava os atores nas semanas santas. Brigas de padres não permitiram a sequencia do teatro da paixão no lugar apropriado. E lá da outra margem do rio, dos quintais da Rua Antonio Tavares, volto-me, imaginariamente aponto para a igrejinha do serrote e digo que ali estive. Nada resolvi para o morro da Goiabeira. Mas por certo as boas energias irão fazer muito por mim. Não pretendo deixar de visitar de vez em quando o cimo sagrado do VELHO CRUZEIRO.


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