quinta-feira, 28 de março de 2019

FAZENDO SABÃO


FAZENDO SABÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.081

PENEDO. IDENTIFICAÇÃO NA FOTO.
Onde tem sabão não pode haver sujeira. E num mergulho em nossa história interiorana, descobrimos que esse produto é bastante antigo por essas bandas. O primeiro padre de Santana do Ipanema era penedense. Mesmo tendo nascido em bairro pobre, conseguiu estudar na Europa até que veio para o nosso sertão e sertão pernambucano como evangelizador. Descobrimos que o seu bairro  de nascimento, em Penedo, chamava-se Seboeiro. Também não sabemos se ele ainda existe com o mesmo nome. Seboeiro era o homem que fabricava sabão. Ignoramos que tipo de sabão era fabricado no Penedo, mas lembramo-nos dos mais velhos falando em tal sabão-da-terra.  Não importa se o sabão já vem sendo usado desde os tempos da Babilônia.
Bem essa era a terra do padre Francisco José Correia de Albuquerque. Mas em Santana do Ipanema, também havia a Rua do Sebo. Nada provado, mas a dedução era que havia fábrica de sabão nessa rua, cujo sebo de boi (matéria-prima) ficava exposto na frente da fábrica. Deduzimos assim que o sabão era um produto importante para os primórdios da civilização em Alagoas, desde seus primeiro núcleo habitacional. Como havia o Seboeiro, havia o marceneiro, pedreiro, sapateiro, alafaiate, ourives e outros profissionais que muito contribuíram para a expansão das cidades do São Francisco e do sertão das Alagoas. Hoje o sabão é fabricado das mais diferentes formas e até o nome mudou para detergente.
Em nosso Sertão de 1960, fazer sabão era coisa pejorativa e nem sempre à frase era pronunciada em todos os ambientes. Significava xumbregar (namoro bolinando nas partes Íntimas). Em Santana do Ipanema, mesmo, havia o Hotel Central, de dona Maria Sabão. Naquele último quarto de século XX, ainda havia certo ar de riso, ao se ouvir pela primeira vez: hotel de Maria Sabão. Mas esse caso particular não nos interessa, apenas o produto de limpeza, propriamente dito, que fazia parte da economia de 1.700, de 1.800... E por aí vai. Tudo indica que o valor doméstico do produto, equivalia ao sabão moderno.
Mas o sabão dos anos 60 ainda está em voga nas esquinas das cidades.





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quarta-feira, 27 de março de 2019

PORQUE SERTANEJO GOSTA DE CHUVA


PORQUE SERTANEJO GOSTA DE CHUVA
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.080

(FOTO: BLOG DO BERNARDINO).
Enquanto as chuvas são temidas nas capitais, são comemoradas com ênfase nas zonas rurais do país. E se nas capitais causam transtornos, com certeza a culpa é do próprio homem e não da natureza. O problema vai desde as administrações pífias em favor dos problemas urbanos, a má educação populacional. Casas surgem nos lugares mais insalubres, contribuindo com os deslizamentos de barreiras e as enchentes. Nem existe planejamento e a desordem é geral. Por outro lado, mesmo havendo rigoroso recolhimento do lixo, o povo continua jogando tudo descartável no meio da rua e nos córregos, entupindo galerias e provando o próprio veneno durante as enxurradas. Esses são apenas alguns dos problemas das cidades grandes.
Mas por que o sertanejo gosta tanto de chuva? Porque a terra é quem alimenta pessoas e indústrias. Não importa se o sertanejo é da roça, comerciante na cidade, dono do agronegócio, estudante, rico ou mendigo... Todos já nasceram marcados pelo fenômeno que significa fartura e no mínimo comida na mesa. A chuva que vem mansa faz brotar o grão, mitiga a sede de animais e humanos que comemoram a vinda desde as primeiras nuvens mensageiras. Em nosso sertão nordestino plantam-se o milho, feijão, algodão, fava, mandioca, palma e frutas que abastecem os mercados locais e indústrias, no caso da mandioca e do algodão. Sem chuva na terra, a fome toma conta dos lugares sem irrigação. É o instinto quem avisa: trovão nos ares, fartura na terra.
E mesmo estando na capital, o sertanejo alegra-se com as chuvas e lamenta suas faltas no sertão. Foi assim que, conversando com um quitandeiro em Maceió, ele dizia: Essas bananas, professor, vêm do sertão, das bandas do Xingó. As batatas vêm do sertão, da área irrigada. As cebolas chegaram do sertão pernambucano... E assim hoje em dia são as áreas irrigadas do interior que abastecem as capitais. Como o citadino não abraçar a causa sertaneja que preenche sua dispensa? O sertão alagoano está em festa, companheiro. Chuva por todos os lugares. Ontem pela manhã foi uma zoada só na revoada de espanta-boiadas pelo rio Ipanema.
Deixem farrear homens e bichos.


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