sexta-feira, 3 de maio de 2019

O CUSCUZ DA VELHA


                 O CUSCUZ DA VELHA
         Clerisvaldo B. Chagas, 3 de abril de 2019
             Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
            Crônica: 2.104


Civilização do milho, o Nordeste brasileiro continua levando seus usos e costumes do sertão para o litoral. São inúmeros os pratos regionais desse produto originário das Américas. Entre as comidas costumeiras do (Zea mays), está o cuscuz, o mais popular de todos. Rico em proteína, potássio e gordura, o milho sustenta o sertanejo há séculos. Até certo tempo atrás, após a espiga ralada, a massa era colocada em um pano dentro da cuscuzeira. O cuscuz fumegante aromava toda a casa e saía em forma de montanha. Com mais moderno modo de fazer, o cuscuz sai arredondado, pois no lugar do pano, tem-se um dispositivo vazado, arredondado por onde sobe o vapor. Essa iguaria invadiu as capitais nordestinas e até São Paulo onde existem vários lugares especializados no tema.
Existem muitas histórias, piadas, brincadeiras sobre o cuscuz sertanejo de cada dia. Hoje a massa já vem industrializada, cabendo ao usuário medir a quantidade, colocar numa vasilha, acrescentar metade d’água, sal, misturar e aguardar por uns cinco minutos. Terminado o prazo coloca-se na cuscuzeira no recipiente vazado. Um pouco d’água no fundo da cuscuzeira vai ferver e, em carca de dez minutos no fogo, o bicho estará cheirando nos quatro cantos da casa. Pode ser servido de várias maneiras, a mais tradicional, porém, é com leite. Conhecido como comida forte é bom para as longas caminhadas, trabalhos ou viagens. Em Santana do Ipanema tem lugares que servem o cuscuz com carne de bode. Em Maceió, na Serraria, tem a Casa do Cuscuz.
 Pois a velha Totonha, sertaneja dura de embarque, conseguiu chegar facilmente aos 97 anos de idade. Adoeceu, e ficava muito pensativa ao receber visitas. Uma delas ousou perguntar se a mulher tinha medo de enfrentar o outro mundo. A velha Totonha respondeu com a maior desenvoltura: “Não tenho medo de morrer não, minha ‘fia’; somente fico desgostosa em deixar o cuscuz com leite”.
E o cuscuz vai com tudo: com leite, com carne assada, piaba torrada, torreiro, pilombeta frita, charque, linguiça e... Deixe-me parar por aqui para não ter que falar igual à velha Totonha.
Ah, Sertão macho da gota serena!







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quinta-feira, 2 de maio de 2019

O QUE É ISSO?


O QUE É ISSO?
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.103
(FONTE: AQUINA COZINHA)
                                       
Visitando uma comunidade serrana, fui recebido pelo líder, cuja residência me fez lembrar um palácio de personagens bíblicos. Notei muitas goiabeiras nos arredores e o líder confirmou que era o que mais havia por ali. Indaguei, então, porque não criar uma cooperativa incentivando o plantio da goiaba com uma fabriqueta de doce. Geração de emprego e renda para os moradores da serra e seus arredores. Goiaba no sertão dá até nos monturos e quintais. Várias mulheres trabalhariam na fábrica e homens também nas diversas atividades que exigem mão de obra. O líder comunitário desconversou, saí frustrado com a liderança sem frutos. Entretanto, essa comunidade é conhecida pelo vício da embriaguez, brigas e arruaças.
Visitando outras comunidades estive em um vale onde a água escorre dia e noite pela estrada, inverno e verão. Essa água é proveniente de fontes do alto de uma das serras. Nos arredores bebi água mineral dali mesmo e ouvi relato da maravilhosa qualidade do líquido. Cheguei a visitar sem profundidade os rochedos que cercam os olhos d’água. Perguntei, então, aos moradores se alguém já havia pensado em criar um “cintirão verde” naquele vale para abastecer, permanentemente, Santana do Ipanema de verdura. A resposta também foi evasiva, semelhante ao do líder comunitário do outro sítio.
Por fim, discorrendo sobre o potencial de determino povoado em relação ao caju, imaginei também uma fábrica de doce do produto que seria uma potência para o estado todo. Quantos empregos diretos e indiretos não seriam criados no povoado? Ora, presente estava um amigo, engenheiro agrônomo, que me disse mais ou menos por aqui assim: “Eu me ofereci para fazer funcionar essa ideia. Marquei uma palestra no lugar e não apareceu um só pé de pessoa”.
Então, a frustração de quem enxerga longe diante de quem nada vê, é muita doída. E quanto à reação indolente dos lugares apontados, ainda hoje estou tentando entender, mas como não sou especialista no assunto fico apenas matutando, pois, pensando mesmo é desgastante.
Ontem passou a procissão da Festa do Bairro São José, homem que nunca se escorou com trabalho...



                                                                                                   
                                                                                                  

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