segunda-feira, 6 de junho de 2022

 

PILÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.712

 



Antigamente, sobre uma dama bem feita se dizia: “tem corpo violão”. Contudo, também se falava: “cintura de pilão”. É que o velho pilão sertanejo tem duas bocas, cinturado no meio. E na zona rural toda mulher queria ter cintura de pilão. Mas os padrões vão mudando com o tempo, assim como tem mudanças na maneira de pensar de cada indivíduo. E se for mudança de pensar entre gerações, a mudança simples vira descomunal. Mas se formos falar desse assunto, dá uma discussão geral na política, na igreja, nos ateus, nos revoltados com a vida e assim por diante. Vamos falar apenas do pilão e da cintura, antes cobiçada. Não, não precisa apertar o cinto para ler o artigo. O padrão da mulher, atualmente é o que ela quiser, bem como o do marmanjo.

Ora, muito bem. Até os meados do Século XX, Era quase obrigatório um pilão em cada casa de fazenda, de roça, de sítio. É que muitas comidas eram feitas em casa e não dispensavam o amigo pilão. Feito de madeira de lei, rígida, tal como a sucupira, o pilão era feito artesanalmente e com apenas uma talhadeira. Com o surgimento de maquinário mais adiantado, já se podia fazê-lo em tornos de carpintarias. Tem altura de aproximadamente 70 centímetro e possui uma peça solta chamada “mão de pilão”, de 60 centímetros em média. Bem conservado vai para netos e bisnetos.  No pilão pila-se café, arroz, milho, paçoca, e mil coisa das fazendas. Possui uma boca para cima e sua base é a outra boca. Bem cinturado, o pilão representa mesmo uma coisa bem feita, valiosa e atraente. Não lembro de ter visto um pilão no Museu de Santana que possui uma pedra-mó, de moer milho para xerém.

O pilão antigo da zona rural foi desaparecendo graças aos produtos industrializados. Tudo já vem pronto: é o milho desolhado, é o café torrado, é o arroz sem casca... Todos partiram para o comodismo e o pilão foi ficando esquecido e muitas vezes usado como ornamento com plantas no jardim. Aí surgiram os pilões pequenos, torneados, para pilar tempero e coisas miúdas da cozinha, mas até o tempero já vem pronto fazendo desaparecer também esse e outros modelos de pilões pequenos e maiores. Mas que é um artesanato bonito de se vê, não se pode negar. Já vi vário modelos de pilões pequenos ornamentando a casa, as prateleiras, as estantes e mesmo o centro... E como fica bem realçando o bom gosto da casa.

 

 “Vem cá cintura fina

Cintura de pilão

Vem cá cintura fina

Vem cá meu coração... (Gonzaga)

 

PILÃO (FOTO: GALERIA ALFHAVILE).

 

 

 

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2022/06/pilao-clerisvaldob.html

domingo, 5 de junho de 2022

 

 RIACHINHOS

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica:2.711

 



Nessas ocasiões de cheias também os riachinhos são valorizados. Aquele riacho minúsculo que passa na fazenda, tão seco que quase não define o leito em tempos de estiagem, ressurge vivo e atuante com produção de água, pasto na várzea, impedindo passantes, engordando o gado.  É a fazenda que tem uma "vazante (várzea, baixada, baixio, ipueira) avaliada em tempo seco por compradores de terra. Estar aí a Defesa Civil monitorando rios, riachos e riachinhos que podem causar tragédia em lugares habitados. Os riachos conhecidos e anônimos de Santana do Ipanema surgem nessa época como protagonistas do tempo chuvoso, notadamente aqueles que passam perto de habitações rurais e citadinas.

Ah! Como tinha razão o nosso querido mestre da Geografia Alberto Agra: “Para nós mais vale um riachinho em nossas terras do que o rio Amazonas nas terras alheias”. Assim o riacho do Bode, tão pequeno, tão acanhado, forma o grande açude da cidade. O pequeno riacho Salobinho forma barragem particular em sua foz. O riacho Tigre alimenta o córrego Camoxinga E o débil riacho Salgadinho invade casarios da Floresta represado pelo rio Ipanema. Vão umedecendo os terrenos, a campineira onde pastam o carneiro, o bode... O novilho, o boi de carro.  O Nordeste pode não ser a terra onde corre leite e mel, mas com certeza onde nascem os riachinhos como lágrimas divinais.

E vendo a chuva mansa cair sem parar na minha rua, vem à memória a minha dificílima descida acompanhando o riacho Ipaneminha na serra do Ororubá, no município de Pesqueira, PE. Início de nascentes, tão pequeno, tão límpido, murmurando por entre árvores frondosas; e eu, deixando aquele fio d’água bebê passar tão fininho sob minhas pernas numa felicidade sem fim. Mão em concha bebendo aquele líquido maravilhoso formador primário do meu querido rio Ipanema, tão amado em nossa distante Alagoas. Um momento solene em que eu e o meu fiel companheiro João Soares (Quen-Quen) desejamos a presença de todos os santanenses naquele encantado da mata.

Riachinhos, riachinhos! Vocês têm a inocência dos humanos, crianças embaladas pelas mãos de DEUS.

Riacho (Foto: Bianca Chagas).

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2022/06/riachinhos-clerisvaldo-b.html