CHIBATA NO LOMBO (Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010) No Brasil , os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação ...

CHIBATA NO LOMBO

CHIBATA NO LOMBO

(Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010)
No Brasil, os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação da República. Um ano depois, contudo, voltaram à legalização. Entre os castigos impostos estavam as 25 chibatadas que levaram à revolta dos marinheiros. Esse levante passou à história com o nome de “Revolta da Chibata” e teve início na noite de 22 de novembro de 1910. Os dois navios de guerra mais importantes do Brasil, os encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo”, ficaram sob o domínio dos revoltosos. Ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, os marujos ─ comandados pelo sergipano João Cândido ─ negociaram com o presidente Hermes. Com as promessas de Hermes da Fonseca, os homens depuseram armas. Fazendo papel de homem sem palavra, o presidente ignorou o que havia prometido inclusive anistia. Muitos foram expulsos da Marinha; 16 morreram por sede, calor em sufocamento nos subterrâneos da ilha das Cobras; nove foram fuzilados entre 105 destacados para a Amazônia. João Cândido, marujo preto e comum, escapou da morte na ilha, mas foi internado no Hospital dos Alienados como louco e indigente. Só em 1912 veio a absolvição que não devolveu a vida àqueles que tombaram.
Por aí se ver, que a falta de palavra na ética nacional vem de longe. Alagoas também tem algo a ver com a chibata. Em torno dos anos 60, entre os vários candidatos havia um chamado Ari Pitombo. Baseados em sua fama, os adversários diziam como slogan de campanha ao contrário: “Quer levar chibata no lombo, vote em Ari Pitombo”. O símbolo do açoite não estava somente na Zona da Mata dos Senhores de Engenho. Achava-se presente também no Sertão dos Coronéis fazendeiros que ─ igualmente aos Senhores de Engenho do Nordeste e aos Barões do Café do Sudeste ─ cometiam atrocidades medievais.
Quais as diferenças de 1910 para 2010 (cem anos depois)? Dirigentes continuam com a mesma palavra de Hermes da Fonseca e a população sem um João Cândido para defendê-la. As chibatadas da Marinha, dos Ari, dos Coronéis... Continuam mais ativas do que nunca. Agora não mais trançadas com agave ou caroá, mas sim com a matéria-prima corrupção que é muito flexível e abrangente. Está nos taturanas, nos gabirus, nos Arruda, nas prefeituras, câmaras e Senado (Deus salve a minoria), matéria diárias dos jornais. Esse látego de fogo enraizado na cultura do rato, do catita, da ratazana, continua. A corrupção é a mãe da safadeza que atua às costas do nativo. É como se os políticos (não os corretos), dissessem após as vitórias da seleção brasileira de futebol: “Agora, povo, se ajoelhe que lá vai CHIBATA NO LOMBO”

MATUSALÉM SOLTEIRÃO DO CD “SERTÃO BRABO” – DEZ POEMAS ENGRAÇADOS (Clerisvaldo B. Chagas. 3.3.2010) Matusalém já maduro Também era ignorant...

MATUSALÉM SOLTEIRÃO

MATUSALÉM SOLTEIRÃO
DO CD “SERTÃO BRABO” – DEZ POEMAS ENGRAÇADOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.3.2010)

Matusalém já maduro
Também era ignorante
Não era comerciante
Vivia emprestando a juro
Tipo solteirão pão-duro
Não gostava de querela
Olhava de retrevela
Pra Osóra Bitulina
Todo dia na esquina
Via o rebolado dela

Na quina da padaria
Todo dia ele ficava
Pra vê quando ela passava
Sem nunca dá ousadia
Se ela olhava nem via
Matusalém na esquina
Ele ligava as turbina
Mas o motor era fraco
Ficava que nem macaco
Pra os lado de Bitulina

Na segunda ela passou
Com fi’ de Zé Vaqueiro
Na terça com um boiadeiro
Na quarta não passeou
Mas na quinta desfilou
Com Luís do Caminhão
Na sexta com Bastião
No sabo com o delegado
Vestido branco colado
Domingo com Zé Negão

O veio pra ser visado
Com sua cara de fole
Comprou chapéu aba mole
De derrubador de gado
Um cinturão de sordado
Um jaquetão do Nordeste
Comprou pra fazer um teste
Duas botas de vaqueiro
Um zocle de motoqueiro
Ficou parecendo a peste

Dez da noite Bitulina
Vestida na maior bossa
Cinta fina, perna grossa
Chegou perto da esquina
Mas vinha com João Buzina
Um ricão da burguesia
Que lhe disse assim: “vigia
Tome aqui um bom trocado
Pra você ficar ligado
Beba uma cerveja fria”

Matusalém se danou-se
Com o engano de João
Meteu os zocle no chão
Puxou a roupa e rasgou-se
Passou um gay agradou-se
Lhe disse: “meu bem, meu papa”
Precisou tomar garapa
Depois de surra moderna
Inda hoje vira à perna
Quando se alembra do tapa

Matusalém com paixão
Foi à casa de Muzumba
Mode encomendar macumba
Porque tava sem ação
Queria botar cambão
No seu amor verdadeiro
Depois de gastar dinheiro
Quase morre sem futuro
Viu Bitulina no escuro
Com Muzumba macumbeiro

Já com a ideia tonta
Igual cachorro buldogue
Tomou uns dois ou três grogue
Amolou faca de ponta
Depois bebeu mais da conta
Foi procurar sua paca
Pra ele só arataca
Pois Osóra quase preta
Fugiu com Janjão Marreta
Pras banda de Arapiraca

Matusalém foi pra casa
Triste que só bacurau
Quebrou a cama de pau
Jogou a roupa na brasa
Feito cavalo de asa
À rua toda abalou
Tirou as calça e mostrou
Já num beco sem retorno
Chamava o povo de corno
Veio a poliça e levou

Matusalém hoje em dia
De mulher não quer saber
Quando o dia quer morrer
Na quina da padaria
O gay Suzana Maria
Com vestido vaporoso
Vem atrás do seu pintoso
Vão beber lá na bodega
Ou no bar curtindo um brega
Do lourinho Arly Cardoso.

FIM

ORELHAS EM PÉ (Clerisvaldo B. Chagas. 2.3.2010) No sertão do Nordeste, quem lida no campo conhece todas as manhas dos animais. E para que...

ORELHAS EM PÉ

ORELHAS EM PÉ

(Clerisvaldo B. Chagas. 2.3.2010)

No sertão do Nordeste, quem lida no campo conhece todas as manhas dos animais. E para quem constantemente convive com os bichos domésticos, mais ainda. Boi urrando e cavando é desafio. Cachorro parando e olhando para trás durante a jornada, aguarda o dono. Cão uivando na madrugada é tragédia. Rãzinha rapando, vem chuva urgente. Acauã cantando, anuncia à seca. E ainda existem centenas de outros sinais. Deus passou aos homens a capacidade de prever coisas através do comportamento de animais, plantas e posição dos astros. Um deles, dentro dos comuns e corriqueiros, é a desconfiança do burro, jumento ou cavalo. Orelhas em pé: alerta urgente! A observação rápida muitas vezes salva o indivíduo de uma cobra, de um coice, de uma mordida ou mesmo de uma queda no arranque no animal.
Os jornais brasileiros não deram muito destaque à visita da secretária de estado americana Hillary Clinton a América do Sul. Talvez as notícias sobre terremotos, cheias e as mais tolas sobre entretenimento, comecem a valer agora mais de que uma visita ianque, como no passado. O que estará tangendo a secretária de Obama para essas bandas do Hemisfério Sul? Uma tentativa de manchar a evidência de Lula pelas nações irmãs? Uma velada advertência a Hugo Chávez? Um apoio formal e provocativo a Uribe? Não nos parece no momento, nenhuma dessas alternativas. No Uruguai o encontro na posse do presidente eleito José Mujica. No Chile, talvez, um encontro com o novo eleito mandatário Sebastian Piñhera e, na Argentina um esquentamento nas relações políticas com Cristina Kirchner. E no Brasil? O clima da situação chilena com todos voltados para aquele país, não foi bom para Hillary. Parece até a morte do dissidente Zapata que roubou o brilho de Lula na ilha de Fidel.
Para nós, as andanças de Hillary Clinton, é muito mais de sondagem como balão de ensaio. Não cremos que Barack Obama tenha ainda uma política definida para a América Latina. Enquanto os Estados Unidos estavam voltados para a Palestina, o Irã e as desastrosas guerras de Iraque e Afeganistão descuidaram-se dos movimentos libertários do Sul e do crescimento do Brasil no cenário mundial. Vendo sua economia do jeito que anda e enfrentando conflitos na Ásia, a nação do Norte ouve agora sua presença rejeitada no centro-meridional do continente. E como foi dito, sem uma política para a América Latina, a não ser a antiga e clássica exploração, o governo daquele país está sem planos. Sua presença na Colômbia continua sem sentido, tanto para americanos quanto para nós. Vista por essa ótica, nesse exato momento, a secretária viajante nos parece uma alma penada vagando sem sentido. Mas não nos enganemos. Essa mulher (politicamente não é boa coisa) demonstra ser bem diferente do marido. Apesar da situação chilena que empana a sua visita, fiquemos como os burros: alertas de ORELHAS EM PÉ.