ORELHAS EM PÉ
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.3.2010)
No sertão do Nordeste, quem lida no campo conhece todas as manhas dos animais. E para quem constantemente convive com os bichos domésticos, mais ainda. Boi urrando e cavando é desafio. Cachorro parando e olhando para trás durante a jornada, aguarda o dono. Cão uivando na madrugada é tragédia. Rãzinha rapando, vem chuva urgente. Acauã cantando, anuncia à seca. E ainda existem centenas de outros sinais. Deus passou aos homens a capacidade de prever coisas através do comportamento de animais, plantas e posição dos astros. Um deles, dentro dos comuns e corriqueiros, é a desconfiança do burro, jumento ou cavalo. Orelhas em pé: alerta urgente! A observação rápida muitas vezes salva o indivíduo de uma cobra, de um coice, de uma mordida ou mesmo de uma queda no arranque no animal.
Os jornais brasileiros não deram muito destaque à visita da secretária de estado americana Hillary Clinton a América do Sul. Talvez as notícias sobre terremotos, cheias e as mais tolas sobre entretenimento, comecem a valer agora mais de que uma visita ianque, como no passado. O que estará tangendo a secretária de Obama para essas bandas do Hemisfério Sul? Uma tentativa de manchar a evidência de Lula pelas nações irmãs? Uma velada advertência a Hugo Chávez? Um apoio formal e provocativo a Uribe? Não nos parece no momento, nenhuma dessas alternativas. No Uruguai o encontro na posse do presidente eleito José Mujica. No Chile, talvez, um encontro com o novo eleito mandatário Sebastian Piñhera e, na Argentina um esquentamento nas relações políticas com Cristina Kirchner. E no Brasil? O clima da situação chilena com todos voltados para aquele país, não foi bom para Hillary. Parece até a morte do dissidente Zapata que roubou o brilho de Lula na ilha de Fidel.
Para nós, as andanças de Hillary Clinton, é muito mais de sondagem como balão de ensaio. Não cremos que Barack Obama tenha ainda uma política definida para a América Latina. Enquanto os Estados Unidos estavam voltados para a Palestina, o Irã e as desastrosas guerras de Iraque e Afeganistão descuidaram-se dos movimentos libertários do Sul e do crescimento do Brasil no cenário mundial. Vendo sua economia do jeito que anda e enfrentando conflitos na Ásia, a nação do Norte ouve agora sua presença rejeitada no centro-meridional do continente. E como foi dito, sem uma política para a América Latina, a não ser a antiga e clássica exploração, o governo daquele país está sem planos. Sua presença na Colômbia continua sem sentido, tanto para americanos quanto para nós. Vista por essa ótica, nesse exato momento, a secretária viajante nos parece uma alma penada vagando sem sentido. Mas não nos enganemos. Essa mulher (politicamente não é boa coisa) demonstra ser bem diferente do marido. Apesar da situação chilena que empana a sua visita, fiquemos como os burros: alertas de ORELHAS EM PÉ.
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