UM PERSONAGEM DA MINHA RUA Clerisvaldo B. Chagas , 26/27 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.236 ...

UM PERSONAGEM DA MINHA RUA


UM PERSONAGEM DA MINHA RUA
Clerisvaldo B. Chagas, 26/27 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.236

RUA ANTÔNIO TAVARES. (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).
Ao ver na Internet o apelido nada agradável de certa pessoa da minha infância e adolescência colocada rudemente aos pés da sua filha, no Face, resolvi fazer essa crônica.
Chamava-se João Barbosa Filho, era marceneiro, morava e trabalhava quatro casas após a de meus pais; entre o vizinho José Urbano e o soldado Joaquim Manoel. Seu João Barbosa era um homem alto e magro e poderia contar com mais de sessenta anos de idade. Sua casa pobre com oficina na entrada oferecia serviços de marcenaria a quem dela precisasse. Na época eram imprescindíveis profissionais como marceneiros, sapateiros, flandrileiros e tantos outros eiros. Portanto, as tendas ou oficinas estavam sempre lotadas de encomendas, principalmente em tempos de bons invernos.
Seu João, ali na Rua Antônio Tavares, era um ótimo profissional e homem trabalhador. Nunca se ouviu dizer que o cidadão fosse metido em encrencas. Sobre isso, tinha a sua própria filosofia. De vez em quando bebia, se muito ou pouco não sei não me lembro. Também não me recordo quanto tempo passava quando chegava à distração. Depois Seu João mudou-se para um ponto entre o antigo clube Sede dos Artistas e a atual clínica ortopédica no Bairro Monumento, hoje espaço murado. Ganhou o apelido de João Cachaça. Quando bebia fazia o trajeto de casa à oficina, sempre murmurando alguma coisa e, entre elas, a frase famosa da sua vida: “João Barbosa Filho, quanto mais bebo, mais respeito”. E de fato era muito respeitoso.
Todos da rua gostavam do marceneiro. Não estou bem seguro, mas devido à situação, sua filha (não sei se tinha mais de uma) foi adotada, estudou com dignidade, tornou-se professora e diretora de escola. Muito me orgulha em falar do seu sucesso, respeito e amizade. Honrou a todos com sua força, inclusive à Rua Antônio Tavares onde seu pai foi exemplo de homem de bem. Quanto à bebida, todos bebem diante de problemas da vida.  Chamar Seu João Barbosa Filho de João Cachaça, fora a intenção, não o desabona em nada. Agradecidos estão os milhares de alunos que passaram até agora pelas mãos da sua filha professora e a sociedade santanense. Orgulhe-se, mulher, de seus pais, assim como estou orgulhoso de você, minha colega de profissão.

SANTANA DO IPANEMA: O RENASCER DA RÁDIO CORREIO Clerisvaldo B. Chagas, 25 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano ...

SANTANA DO IPANEMA: O RENASCER DA RÁDIO CORREIO


SANTANA DO IPANEMA: O RENASCER DA RÁDIO CORREIO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.235
RÁDIO CORREIO DO SERTÃO (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

Houve muita tristeza no Sertão quando a rádio pioneira encerrou suas programações. Inaugurada em 29 de janeiro de 1979, a Rádio Correio do Sertão tem a sua própria história dentro da história sertaneja. Foi a grande novidade da época que revolucionou a comunicação e a convivência no semiárido alagoano. Todavia, a tristeza cedeu lugar à alegria, após a notícia de que a Emissora retornaria ao espaço de gravata e colete. Não estava morta, mas apenas hibernando para voltar em grande estilo. É que foi publicada no Diário Oficial da União (segunda 23) a sua adaptação de AM para FM. “Com a decisão, o veículo informativo de Santana do Ipanema prestará melhores serviços com qualidade de som  na frequência 100.9 mega-hertz (MHz)”.
Portanto, no próximo mês a Emissora estará completando 41 anos de existência. Sua migração para FM poderá deixá-la em pé de igualdade e até ultrapassar a concorrência, dependendo apenas dos seus próprios méritos. A migração foi assinada pelo Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Carlos Alberto Flora Baptistucci.
As emissoras de rádio são de suma importância nos interiores nordestinos, aonde as notícias só chegavam a cavalo. Hoje em dia elas proliferam até mesmo como rádios comunitárias, deixando mais informadas as populações que também divulgam os seus interesses.
No caso da Rádio Correio de Sertão, implantada em Santana do Ipanema, ergueu-se novo conceito social que iria modernizar o semiárido e azeitar o progresso de muitos outros empreendimentos. Pertencente à família Bulhões, a emissora também serviu a muitos neófitos que se tornaram posteriormente grandes profissionais da comunicação. Não existe sentimento maior do que a alegria, com a notícia da Fênix Sertaneja. Portanto, o esforço pela migração deve ter sido grande como enorme foi a surpresa positiva da notícia.
Parabéns aos Bulhões, aos ouvintes cativos da Rádio Correio do Sertão e ao povo santanense.




O MENDIGO ESPERTO Clerisvaldo B. Chagas, 24 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.234 O MENDIGO (FO...

O MENDIGO ESPERTO


O MENDIGO ESPERTO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.234
O MENDIGO (FOTO: B. CHAGAS).

Não havia opção. Fiquei no pé do muro naquela nesga de sombra, aguardando a abertura do consultório. O ponteiro resfolegava para o meio-dia, numa temperatura de queimar tijolo. Junto ao cadeirante, sem uma perna, mais observador do que linguarudo, era mesmo que não ter ninguém para conversar, em quase uma hora de espera. Como eu sempre via o sujeito no mesmo lugar pensei tratar-se de um vigia. No fiapo de sombra só nós dois e o vazio de voz. Aproveitei o limão para fazer a limonada do dito popular. Observei que o cabra não era vigia de coisa nenhuma, mas um pedinte viciado e esperto com lugar cativo.  Devia fazer o ponto há anos, pois conhecia todos os que moravam na viela e os trabalhadores das imediações.
Quando não falavam com ele, o próprio se adiantava no cumprimento e assim ia pingando moedas e papel na sua mão. Passou a madama, o empregado, o catador de ferro, as moças... E de repente um do seu nível, suado, celular à mão, veio trocá-lo pelo aparelho similar do cadeirante. Conversas, vantagens, torna, cada figura querendo levar vantagem sobre a outra. A troca chegou muito perto, mas ficou para a próxima rodada. Ao passar do meio-dia o cadeirante puxou o aparelho e telefonou para um familiar mandado que providenciasse o seu almoço. Deu o lugar onde se encontrava seu cartão de crédito e fez outras recomendações. Hum!... Que chique! Por nada nesse mundo ele abandonaria o posto para almoçar.
Macaco velho, escolado, conhecia de sobra o tempo do lucro e do prejuízo. Enquanto aguardava a próxima vítima, perdão, novo cliente, balançava com as duas mãos as moedas que tiniam bonito perto dos ouvidos. Perguntei para firmar certeza nos futuros dizeres, como seria o nome da viela sem placa indicativa. “Viela Três Marias”, respondeu sem muito boa vontade sobre a Travessa Itatiaia. “O senhor conhece o filho do cangaceiro Corisco?” Indaguei. “Sim, senhor, mora lá no fundo da rua, é o Dr. Silvio Bulhões”. Calou-se.
Defronte o consultório abriu. Entrei e fui atendido. Ao retornar à rua continuava lá a estátua grudada do cadeirante. Não julguei nada e nem cabia julgar coisa alguma. Simplesmente rodeei o homem e zás! Uma foto de costas para a próxima crônica. Para que filosofar a vida? Respirei fundo... E fui.