sexta-feira, 21 de agosto de 2009

PINGANDO SANGUE

PINGANDO SANGUE
(Clerisvaldo B. Chagas. 21/22.8. 2008)
Aos professores alagoanos para reflexão nas assembléias

Quando Moisés, no deserto de Sin, tocou na pedra de Horeb, a água jorrou para mitigar a sede da multidão e dos rebanhos. O milagre de Deus também fez mudar o nome do acampamento de Rafidim para Tentação, segundo o livro do Êxodo. Se Moisés mudou o nome do lugar, mais adiante é o próprio Deus que chama “água da contradição”, quando o mesmo Moisés precisou tocar à pedra duas vezes ao invés de uma. Novamente jorra água para o povo incrédulo que não tolerava o sofrimento. Nem toda a assistência do Criador aos refugiados do Egito, impediu o fraquejar do comandante.
A Educação no Brasil nunca teve nenhum valor para os dirigentes políticos. As conquistas suadas, sofridas, martirizadas, tentam servir de fermento para uma longa continuidade. Os que estão no poder passaram pelas bancas escolares e muitos pelas mãos dos que continuam desvalorizados e clamam nos gabinetes, nas ruas, nas clínicas médicas à realidade dos seus direitos. As pedras, os monumentos, os insensíveis — agora com barrigas de prosperidade — viram às costas para os mestres que os iluminaram. Como se sente um professor que foi político votou contra as conquistas dos colegas, caiu do poder e volta a pedir voto de antigos companheiros? As autoridades, principalmente municipais e estaduais, devem se sentir como os imperadores romanos nas orgias e na gula dos banquetes, olhando com ironia para a plebe esfomeada. As mais esfarrapadas desculpas saem dos privilegiados, para não dividirem o bolo fabricado com o dinheiro dos desassistidos. Essa luta infinita dos mestres pela sobrevivência é uma vergonha nacional, para os responsáveis manipuladores dos cofres e das chaves. Profissão pensante nobre, gigantesca, vítima dos executores, algozes, carrascos que só enxergam a frente, a cupidez do ouro e as manobras enxadristas dos cargos eletivos. Quanto ganha um edil, um deputado, um governador... Um prefeito? Mas professor não. Professor é para viver massacrado, pensativo e silencioso. Escada para muitos crápulas que ao invés das grades cinzentas das detenções, comem, dormem e passeia mangando introspectivamente das antigas luminárias. Muitos nada são; apenas bajuladores, capachos, homens das “norminhas” que ficam contra as justas reivindicações para serem agradáveis a patrões esculachados. Como se sente a sociedade vendo a multidão de mestres às ruas, entes tão respeitados pelos pais e guias dos seus filhos?
Marcham os professores nessa profissão espinhosa sem glória nenhuma. Lutas e mais lutas por coisas tão poucas que os faraós se recusam a conceder. Homens e mulheres que pelejam como os do deserto do Sin, procurando uma fonte para saciar a dignidade e só encontram a pedra. Não a pedra de Horeb que jorrou água em abundância, mas a pedra da injustiça, da incompreensão, da falta de patriotismo e da igualdade que ao ser tocada pelo cajado do Magistério, ao invés de soltar água fica PINGANDO SANGUE.

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