NEM SEI SE DELFIM SOUBE
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.11.2009)
Parece que existe na humanidade uma tendência natural de não querer assumir culpas. É em casa, no trabalho, no lazer, seja aonde for. A criança diz que a culpa foi do irmãozinho, o adulto se escora no camarada, o soldado fala que recebeu ordens. Se a tendência, então, é natural, ninguém deveria ser chamado de mentiroso. O que de fato existe por trás da negação do feito? A vergonha de ter fracassado? O medo do castigo? O prazer de acusar terceiros? Lá no paraíso mesmo, onde tudo teve início, Adão eximiu-se da desobediência, alegando ser culpa de Eva. Por sua vez, a primeira mulher falou que a verdadeira culpada era a serpente. Ninguém perguntou a serpente por que fez a tentação. Vê-se por aí que a célebre frase: “Eu mesmo não fui”, vem desde a criação do homem. E se a criança se defende, o jovem aponta para o lado, o adulto nega. Erros assumidos podem ser as coisas mais difíceis da vida. Imaginem a política: os de baixo condenando os de cima; os de cima acusando os de baixo.
Há muitos anos, nós, os poetas, conversávamos nos degraus da Matriz de Senhora Santa Ana, em Santana do Ipanema, Alagoas. Entre eles estava uma das maiores figuras do repente nordestino, Geraldo Amâncio. Geraldo contava muitas histórias de cantadores, principalmente do Ceará. Uma estrofe de um desses casos permaneceu na minha cabeça, mas não lembro o nome do autor e nem o do seu parceiro. A cantoria teria acontecido no tempo em que Delfim Neto era ministro. A inflação estava sem freios e o Brasil passava uma época muito difícil. Todos os setores sociais sofriam com as mazelas da Economia. Pois bem, o povo brasileiro resolveu culpar o ministro tanto pela inflação quanto pelos outros males do País. Até briga de vizinhos seria culpa de Neto. O ódio era grande e voltado para o ministério. Baseado nisso ─ segundo meu amigo Geraldo Amâncio ─ um homem aproximou-se da peleja lá em terras cearenses e, revoltado com a situação pediu um tema trava-língua em décima: “Se não der fim a Delfim/Delfim dá fim à nação". Como o mote também afetava os cantadores, os dois se engalfinharam com versos bonitos, até que um deles deixou para a posteridade:
“Tamo na segunda etapa
Do tempo do realismo
Vai chegando o comunismo
Desse aí ninguém escapa
Atiraram até no papa
Mas em Delfim Neto não
Que falta faz Lampião
Pra atirar em cabra ruim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim à nação”
NEM SEI SE DELFIM SOUBE.
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.11.2009)
Parece que existe na humanidade uma tendência natural de não querer assumir culpas. É em casa, no trabalho, no lazer, seja aonde for. A criança diz que a culpa foi do irmãozinho, o adulto se escora no camarada, o soldado fala que recebeu ordens. Se a tendência, então, é natural, ninguém deveria ser chamado de mentiroso. O que de fato existe por trás da negação do feito? A vergonha de ter fracassado? O medo do castigo? O prazer de acusar terceiros? Lá no paraíso mesmo, onde tudo teve início, Adão eximiu-se da desobediência, alegando ser culpa de Eva. Por sua vez, a primeira mulher falou que a verdadeira culpada era a serpente. Ninguém perguntou a serpente por que fez a tentação. Vê-se por aí que a célebre frase: “Eu mesmo não fui”, vem desde a criação do homem. E se a criança se defende, o jovem aponta para o lado, o adulto nega. Erros assumidos podem ser as coisas mais difíceis da vida. Imaginem a política: os de baixo condenando os de cima; os de cima acusando os de baixo.
Há muitos anos, nós, os poetas, conversávamos nos degraus da Matriz de Senhora Santa Ana, em Santana do Ipanema, Alagoas. Entre eles estava uma das maiores figuras do repente nordestino, Geraldo Amâncio. Geraldo contava muitas histórias de cantadores, principalmente do Ceará. Uma estrofe de um desses casos permaneceu na minha cabeça, mas não lembro o nome do autor e nem o do seu parceiro. A cantoria teria acontecido no tempo em que Delfim Neto era ministro. A inflação estava sem freios e o Brasil passava uma época muito difícil. Todos os setores sociais sofriam com as mazelas da Economia. Pois bem, o povo brasileiro resolveu culpar o ministro tanto pela inflação quanto pelos outros males do País. Até briga de vizinhos seria culpa de Neto. O ódio era grande e voltado para o ministério. Baseado nisso ─ segundo meu amigo Geraldo Amâncio ─ um homem aproximou-se da peleja lá em terras cearenses e, revoltado com a situação pediu um tema trava-língua em décima: “Se não der fim a Delfim/Delfim dá fim à nação". Como o mote também afetava os cantadores, os dois se engalfinharam com versos bonitos, até que um deles deixou para a posteridade:
“Tamo na segunda etapa
Do tempo do realismo
Vai chegando o comunismo
Desse aí ninguém escapa
Atiraram até no papa
Mas em Delfim Neto não
Que falta faz Lampião
Pra atirar em cabra ruim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim à nação”
NEM SEI SE DELFIM SOUBE.
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