A FOME, A SEDE E OS
MANDACARUS
Clerisvaldo
B. Chagas, 14 de maio de 2012.
Vamos retornando aos
tempos de seca de D. Pedro II, das décadas de 1920-1930, do ano de 1970.
Ninguém sabe quando será solucionada a questão da água e da comida no semiárido
nordestino que permita o enfrentamento da seca com dignidade. Devido ao
conforto citadino alcançado, a população urbana muitas vezes nem sabe o que
está se passando no campo. Mas quem se afasta da cidade que tem água na
torneira, salário à vontade, víveres à venda em todos os recantos, pode
contemplar o sofrimento e o desespero de quem planta e cria. Quanto mais nos
afastamos para o Alto Sertão, mais negra é a cara do drama que parece não ter
fim. O Sol queima a terra e os vegetais brilhando num azul bonito e devastador.
O solo vira um campo imenso de poeira sem grama que assusta a qualquer leigo em
trânsito. Em inúmeros lugares o gado não tem abrigo, contra o Sol abrasador
onde árvores peladas, cinzentas, agonizantes, viram garranchos. O boi emagrece,
a vaca não dá mais leite e a maioria das reses trambeca de fome. Quem tem algum recurso manda buscar na Zona da
Mata, o bagaço de cana (cujo preço se tornou proibitivo) numa tentativa quase
inútil de salvar da fome o esquelético rebanho. Quem não tem como adquirir o
bagaço, vai vertendo lágrima e registrando a tristeza, a impotência, a
vergonha, de ser mais um filho enjeitado do Brasil.
É
verdade
que muito já foi feito pelo Nordeste que conseguiu crescer em ritmo chinês, mas
os caldeirões de gemidos em relação às longas estiagens não saíram do fogo e
fervem no desumano. Cisternas, açudes, poços artesianos, barreiros fazem parte
de medidas que auxiliam o sertanejo sedento, mas é preciso por em práticas
soluções sérias, criativas eficientes e modernas que garantam o alimento para o
povo e para o gado. Sabemos que em alguns países, o período sem pasto no campo
durante três meses, nem boi nem gente morrem de fome e nem de sede. Por que não
copiar as medidas de bons resultados? Enquanto isso vamos lendo um novo livro
vivo dos Fabianos, das Baleias do romance de Graciliano ou das secas dos
romances de Clerisvaldo. E como se diz por aqui, é de cortar coração, o drama do ausente inverno. Enquanto continuar
morrendo pessoas e animais nesse Nordeste, não se pode dizer com certeza que o
país está devidamente integrado. As mães da seca sabem como ninguém sobre a
amargura desse último dia13. É resistir, mesmo entre A FOME, A SEDE E OS
MANDACARUS.
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