TRATO DE SAPATEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2012.
Crônica Nº 904
Desde as primeiras cidades
do mundo que os artistas contribuem para o desenvolvimento local. Quebrador de
pedras, ferreiro, alfaiate, funileiro, pedreiros, sapateiros, barbeiros e outros,
mesmo com nomes diferentes. A sociedade, em geral, sempre precisou desses
profissionais chamados artistas ou mestres. Alcancei com facilidade esses
homens constantemente solicitados por todos. Acontece que a eficiência dos serviços
prestados quase sempre não coincidia com o prazo estabelecido entre usuário e
profissional. Dentre os diversos tipos de artistas o pior na palavra era o
sapateiro. Mandava-se fazer um serviço pelo sapateiro e se ouvia sempre uma
frase que ficou dos anais do folclore nordestino: “Amanhã tá pronto”. O cliente que acreditasse! Cliente, não. Essa é
uma palavra bonita e recente trazida de longe para nós. Era freguês mesmo que
se dizia. E assim o coitado do freguês, rico ou pobre, caminhava por vários “amanhãs”
até a casa do sapateiro para não perder de vez seus sapatos avariados. Por
causa dessa disposição singela e mentirosa do bate sola, foi criada a expressão
que se tornou comum, quando qualquer pessoa falhava nos seus compromissos. “É trato de homem ou de sapateiro?”.
De fato é decepcionante uma
democracia sem moral e sem punição, principalmente quando as promessas partem
da classe política. Deveria ser registrada pela Justiça, toda promessa de
campanha dos candidatos, do vereador ao presidente da república. Quando se fala
em Educação e Saúde e baba desce dos que pretendem alisar, enquadrar e perfurar
o dinheiro do povo. Desarmado o palanque com a vitória do engodo, o eleito vai
gargalhar às escondidas diante do uísque escocês e da água de coco dos
abestalhados. Os professores passam a sofrer pressão de todos os lados e os
longos rosários de greve jamais sensibilizam a massa de fezes que comanda
naquele momento. O médico vive a angústia do trabalho cansativo em inúmeras
unidades, para assegurar a sua própria sobrevivência. Recentemente estive numa
fila de um único médico, ficando com a senha 107 e, muitos outros clientes
vieram depois de mim. Uma situação pior de que os velhos campos de batalhas da
II Grande Guerra.
Dos que prometeram tudo para
Saúde e Educação, nenhum foi preso ainda pelas promessas feitas abertamente. E
nesse caso de falta de palavra, de não honrar compromissos, pode colocar aí
mais uns cinquenta anos à frente, se a Ciência descobrir antídoto para a banda
podre do cidadão. Enquanto isso, chorando, gemendo, suspirando, vamos vendo a
transferência para eles, do TRATO DE SAPATEIRO.
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