A MORTE
COMANDA OS TANQUES
Clerisvaldo B.
Chagas, 26 de dezembro de 2013
Crônica
Nº 1112
FILA DOS PIPEIROS À INSPEÇÃO, DOMINGO PASSADO EM SANTANA DO IPANEMA. Foto: (Clerisvaldo). |
Vivendo dias difíceis
na estiagem prolongada, o Sertão de Alagoas quis amenizar as dores. Parte do
Agreste, seu vizinho geográfico, também sofria às agruras das chuvas
escondidas. Movem-se autoridades, cantam as acauãs, padecem os sertanejos. Nos
garranchos transformados da fazenda, orneja o jumento, escondem-se os sapos,
disfarçam-se as rãs. Acovardam-se as brisas que não embalam o facheiro, o
mandacaru, as touceiras de alastrados. Comandam os ares secos o gavião, o
carcará em busca dos viventes pequenos. Corre a seriema, escapa o preá, emboca
o mocó na macambira.
No braseiro diurno
matador, na calma das noites tenebrosas, nas horas infantis das madrugadas, roncos
de motores rompem os ares. São caminhões-pipas salvadores contaminados em busca
de vítimas angustiadas. Ignorantes, inocentes, mal-intencionados, dirigem os
motores que procuram gente.
O enchimento de
hospitais com internações e óbitos, levaram
ao ar as denúncias da televisão às autoridades que dormiam em berço esplêndido,
até o estouro da bomba no Fantástico. O nome do Exército foi citado, causando
perplexidade à população que sempre apostou na eficiência e seriedade das
Forças Armadas. Depois das eras de ditaduras e denúncias às mais diversas, as
Forças começaram a se firmar no conceito do povo, assim como outras
pouquíssimas instituições nacionais que têm crédito nas ruas do Brasil. Qualquer
coisa que envolva dinheiro em movimento público não pode deixar de ser
fiscalizada com rigor, pois, se nos próprios países que alcançaram altos índices
no respeito à coisa pública, ainda existe falha, quanto mais em terras caetés.
Foi preciso que o ronco dos motores, pneus em farofa e tanques envenenados, ceifasse
a vida de 37 sertanejos e um berro fogoso da grande Imprensa para que a
seriedade voltasse às nossas plagas.
Apesar de todo respeito
do cidadão, o exército saiu arranhado desse lamentável episódio. Sobre os
governantes nem se fala! Todo mundo já conhece o estado em que nasceu, vive e
sofre, sem esperança alguma no horizonte.
E hoje, apesar de
passar nas estradas caminhões com pipas que parecem novas, fica uma desconfiança
ainda latejante e o sertanejo diz baixinho: A MORTE COMANDA OS TANQUES.
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