O CARRO
DE LAMPIÃO
Clerisvaldo B.
Chagas, 26 de fevereiro de 2019
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.067

Até
pouco tempo, pertencendo ao grupo dos Porcino, não passava ele de um simples
Virgulino Ferreira da Silva, cabra de Antônio Porcino. Como também o eram seus
irmãos (...) desviados em 1918, da profissão de tropeiro a de matadores de
gente.
(...)
Em 1926, Lampião achou de fazer umas visitas a quase todos os municípios e
distritos sertanejos. Entrou em Olho d’Água das Flores, com 106 cabras bem
montados, a corneta tocando na frente. Percorreu outros distritos e ameaçou
beber água do Ipanema dentro mesmo de Santana. A cidade preparou-se para
recebê-lo. Em todos os becos e bocas de estradas, as sacas de lã formavam trincheiras
à espera do Rei do Cangaço. Dia e noite cruzavam as ruas homens e soldados
fuzis e rifles ao ombro, cartucheira na cinta e medo no coração. O menor ruído,
o mais leve sinal era bastante para que as trincheiras se enchessem de homens.
Em um desse dia, o sol queimava a caatinga e banhava a cidade de luz. Ao lado
do serrote do Cruzeiro levantou-se a poeira e veio vinda estrada afora, direção
à rua. Um grito ecoou pela cidade inteira:
--
‘Lampião!’
Corriam homens em todas as direções. Mulheres
e meninos tremiam dentro de casa. Os ferrolhos dos fuzis e alavancas de rifles
faziam lacolaco atrás das sacas de lã (...). O carro de boi desceu a ladeira,
as palhas da tolda reluzindo ao sol. Vinha para a cidade uma família santanense
que corria do grupo de cangaceiros. Os homens se recolheram. Arrefeceu o pavor
geral. O riso invadiu a cidade. E, quando o carro foi entrando, já se dizia
pilhericamete:
-- Vai entrando o carro de Lampião.
Isto aconteceu. Isto em vi. (22).
Extraído
do livro:
CHAGAS,
Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião
em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 150-151.
Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/02/o-carro-de-lampiao.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário