NÓS E OS
RIACHOS
Clerisvaldo B.
Chagas, 26 de fevereiro de 2019
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.068
RIO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS). |
Certa
vez escrevemos sobre o isolamento das nossas paisagens, sobretudo dos nossos
riachos. Pequenos, médios, alongados, tão humildes no verão, tão alegres no
inverno. Esquecidos pela humanidade tornam-se invisíveis como pessoas idosas
nos recantos da casa. Somente os fatos relevantes negativos ou positivos,
fazem-nos brilhar nos noticiários e nos interesses dos que buscam. Veias de uma
rede que alimenta os grandes rios que nutrem os bravos oceanos. Exemplificamos
um desses riachos da nossa terra, conhecido como João Gomes. Quando não havia
ponte sobre ele no trecho Santana do Ipanema – Olho d’Água das Flores, bem que
o nosso riacho tinha prestígio. No período chuvoso descia violento
interrompendo o trânsito por vários dias seguidos. Aí sim, todos falavam sobre
ele com respeito danado e medo de afogamento.
Foi
às margens do João Gomes que nasceu o escritor Oscar Silva, tão bravo na sua
sobrevivência quanto o riacho que o viu nascer. Mais tarde escreveria, em
contexto, que nenhum geógrafo do Brasil o conheceria e nem iria conhecê-lo. Seu
conterrâneo tornou-se geógrafo e o conheceu. Mas depois da ponte, de fato nunca
mais houve manchete, assim como as eternas do riacho Ipiranga. Mas se o riacho
João Gomes pensasse como gente, o que diria do colega de Minas Gerais, o
córrego do Feijão? No Nordeste chamamos riacho, no Sudeste, córrego. Então, é
melhor ser humilde e ter a honra de ter originado um filho escritor ou ter
ganhado a fatalidade que ocorreu no Brumadinho? Tem a fama para cima, tem a
fama para baixo. E, não podemos esquecer o poeta que disse: “Água corrente/água
corrente/teu destino é igual/ ao destino da gente”.
E
o meu Sertão continua repleto de capilares, de veias, de artérias, alimentando
os grandes, os famigerados, os mitológicos, pavões atrativos do mundo. Fiquemos
assim com a modéstia incondicional do João Gomes, do Camoxinga, Bola, Tenente,
Salobinho, Desumano, Farias, Tigre, Jacaré que nutrem o Capiá, o Traipu, o
Ipanema, o Riacho Grande... Suportes missionários do “Velho Chico”,
nutricionista do Atlântico.
“Água
corrente/água corrente...”.
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