DEIXE-QUE-EU-CHUTO
Clerisvaldo B.
Chagas, 5 de fevereiro de 2019
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.054
A
notoriedade está no rico e no pobre. Mas nem sempre a fama leva à riqueza,
permanecendo no indivíduo como destino. Em Santana do Ipanema, conheci o maior
pandeireiro regional. Conhecido como Pedro Aleijado (puxava uma perna) era
alegre, farrista, piadista e, sempre metido nos meios dos grandes da cidade.
Também conhecido como “Pedro do Pandeiro”, “Pedro-mão-de-aço” e “Pedro-deixe-que-chuto”,
interagia com todos e serviu a muitos famigerados que vieram cantar em Santana
e precisaram de um panderista. Bebia muito e vendia mel de abelha. Tanto é que nem
levava mais em conta as brincadeiras, ele mesmo era um feroz concorrente da
abelha papa-terra. Perguntaram ao seu filho menor: “Onde está seu pai,
menino?”. O garoto respondeu: “Está no quintal fazendo mel”. A fama de Pedro
correu mundo, mas terminou sua vida tão pobre como iniciara.
Conheci e fui amigo de Ferreirinha. Poeta,
compositor, cantor tipo sertanejo, talento reconhecidamente versátil.
Ferreirinha apresentava-se em muitos palanques de Alagoas, Bahia e Pernambuco.
Além disso, era pescador e conhecia bem a flora, possuindo bom receituário para
inúmeras doenças. Quando solicitado, cozinhava coletivamente para grupos
religiosos e trabalhadores. Ferreirinha fez parte da AGRIPA – Associação
Guardiões do Rio Ipanema – ocasião em que compôs o Hino dos Guardiões. Colega
de Associação, eu o considerava o mais completo deles. Ferreirinha nunca alcançou um patamar de
finanças compatível com o seu talento. Cercado de amigos e familiares, o poeta
morreu vitimado por câncer, deixando muita comoção na cidade onde era quase uma
lenda.
E
sobre talentos populares, em Santana do Ipanema, resta o zabumbeiro conhecido
por Mariá. Todos os forrozeiros da região o consideram como o melhor de todos.
Mariá foi ou é gari e pelo visto não encontrou ainda a sua sorte grande igual
ao anão convidado por Luiz Gonzaga para formar seu trio, ganhar dinheiro e fama
pelo Brasil inteiro. Assim vamos resgatando valores que em sua terra ficam
invisíveis em relação à recompensa e visíveis devido à necessidade da prestação
de serviços. Impressionantes são os valores pagos aos de fora por qualquer
munganga nos palanques.
Difícil
é formular hipóteses sobre sorte, oportunidades, profecias... Mas talentosos e
pobres filhos da terra continuam, sendo enxergados apenas na precisão.
Ê
Brasil “véi” de meu Deus.
Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/02/deixe-que-eu-chuto.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário