FREI DAMIÃO E O MEU
NORDESTE
Clerisvaldo
B. Chagas, 30 de maio de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.118
FREI DAMIÃO. (FOTO: DIVULGAÇÃO). |
Frei Damião de
Bozzano gostava de pregar no Sertão das Alagoas. Fazia sermões, confessava, celebrava,
estava sempre à frente dos desfiles. Conseguia arrebanhar multidões de devotos
jamais vistos em outros tipos de eventos. Quando estava atendendo filas
infindáveis, recebia ofertas em dinheiro vivo – que jamais contava –
colocando-as de imediato no seu bolso fundo. Em uma dessas ocasiões, o frei
acabara de receber mão cheia de cédulas. Antes de colocá-las no bolso, o
próximo fiel pediu uma ajuda financeira. Damião transferiu a quantia recebida,
imediatamente, para as mãos do pedinte. Este também nem chegou a contar e
disse: “é muito pouco, meu padrinho”. Conforme a ocasião, o freio sabia dar
esporros, mas dessa vez apenas meteu a mão nas mãos do avarento, arrebatou o
que dera, guardando tudo no sua batina. Voltou-se para o imediato da fila.
Outra ocasião, em São
José da Tapera, uma senhora confessou-lhe que o marido era muito bruto. Estava
com medo de ser agredida fisicamente e precisava de socorro. Frei Damião
aconselhou-a a deixar o marido e viver com os filhos em outro lugar. A senhora
respondeu que assim não poderia fazer. Perdendo a paciência, o frei a empurrou
dizendo: “Então, morra peste”. Esse caso foi a nós relatado pela própria
senhora do acontecido.
Uma das vezes em que
Frei Damião de Bozzano chegou a Santana do Ipanema, foi na década de 60. Aonde
chegava fazia chover. Não foi diferente em Santana que vivia prolongada
estiagem. Uma procissão de automóveis e caminhões foi recebê-lo nas imediações
de Olho d’Água das Flores. Quando a grande comitiva adentrou ao município de
Santana teve início chuva prolongada seguida por uma cheia no rio Ipanema. Perdi
carona nos veículos e atravessei o Ipanema no início da cheia, como menino,
chorando de medo. À noite houve sermão na Matriz. No Cachimbo Eterno e Rua
Prof. Enéas (Rua de Zé Quirino), forró topado. Os bailes acabaram com invasões
de potós e muita gente queimada pelos bichos. Diziam que havia sido castigo
pela falta de respeito ao Santo do Nordeste.
Foi um desadoro no
Sertão.
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