VISITANDO
ÀS FAZENDA
Clerisvaldo
B. Chagas, 16 de junho de 2020
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
No alpendre de todas as fazendas sertanejas nordestinas, teve lugar
garantido o “banco pela-porco” ou “banco de pelar porco ou ainda simplesmente o
“pela-porco”. Trata-se de um banco em forma de pranchão, entre 4 a 5 metros de
comprimento, com largura também variável, em média, 40 cm. É feito de madeira
nobre entre craibeira e baraúna, muitas vezes passando dos cinco centímetros de
espessura, quando novo. Sua durabilidade vai para mais de duzentos anos, o dono
morre, o banco fica para netos e bisnetos. Não é fácil fazer conserto e ele vai
se deteriorando com o uso e com a longevidade. O seu nome vem do fato em que
era usado como lugar para pelar com água quente, o porco abatido na fazenda.
Ele é quem recebe o viajante cansado como primeiro contato externo da
casa. Nele os seus donos contemplam os arredores, no estio e, nos tempos
chuvosos, observam e sentem as chuvaradas cantando no telhado e chegando no
terreiro. Avista-se dali quem se aproxima da moradia e é usado para várias
tarefas domésticas como debulhar feijão- de-corda, por exemplo.
É respeitado por todos os visitantes e ladrões que sempre os deixam em
paz.
Os bancos já acomodaram os fundilhos de Lampião, forças volantes,
vaqueiros e rastejadores.
Móvel tradicional rústico e multiuso.
Não sabemos dizer se existe algum exemplar no Museu Darras Noya, em
Santana do Ipanema.
O banco pela-porco é o móvel e o lugar mais querido e respeitado da
casa-grande. E se quer saber, mesmo com todo modernismo, continua em voga nas
casas sertanejas.
Foi num banco
pela-porco
Que comecei meu
namoro
Ela com saia rodada
Tecido da cor de ouro
Eu em
traje de vaqueiro
Perneira e chapéu de couro.
Talvez o banco mais notável de Santana do Ipanema tenha sido o do
alpendre da casa do senhor Lulu Félix, no Bebedouro onde o doido Justino tinha
sentadas. Lulu era conhecido como contador de casos, mentia com arte para
divertir a todos. Justino, barbudo que fora jogador de futebol do Ipanema,
diziam os mais velhos um terror para a criançada.
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