ABRINDO
O LIVRO DA HISTÓRIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 24 de junho de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.331
Alvino consertava
sombrinha; Zé Preto e Joaquim vendiam mangalhos na feira; Tributino consertava
tarrafas; Dona Antônia era lavadeira; Zefinha, engomadeira; Maria Lula
vasculhava casas; Mário Nambu, caçador; Alípio bebia cachaça; Seu Tô
retelhava residências; Caçador, cantava;
Genésio era sapateiro; Otávio, marchante; Lourdes, macumbeira; Tina, rapariga;
Zé Alma Dadinho e pai, sapateiros; tudo era gente da beira do rio, braço
extensivo da cidade, entre as Ruas São Paulo e a de Zé Quirino. Uma página
virada na história santanense, cheia de pobreza e vida. Anos 50-60, marcha
lenta para a Santana rumo Século XXI. Esfarelando o geral da apresentação:
Zé Preto construiu um
oratório na Pedra do Sapo, a pedra grande em forma de sapo que demarcava as
cheias no Ipanema. Os vândalos destruíram o oratório, deixando só a escadaria.
Mário Nambu, grande atirador no voo, caçava por encomenda. Maria Lula,
abastecia sua pobre residência transportando água do rio em pote de barro com
rodilha, carregado à cabeça. Sempre contratada para vasculhar as casas com
vassoura da palha e vara comprida. Galega tipo alemã, ficava muito vermelha
quando ingeria “pinga”. Seu Tô, moreno, calmo, era o retelhador número um de
Santana. Chapéu único, tipo polícia montada do Canadá, ainda hoje faz falta em
tempo de inverno. Alípio era beberrão. Diziam que ele fora jogador do time
Ipanema, quebrara uma perna e se dedicara ao vício da embriaguez.
Esses personagens fazem
o santanense voltar a bater na mesma tecla: MEMORIAL DO RIO IPANEMA. Temos
abrigo ficando ocioso, escola fechada, ao abandono, matadouro desativado,
qualquer um desses imóveis poderia abrigar o MEMORIAL. Está faltando a
disposição de uma entidade, de intelectuais, de um grupo disposto de quatro ou
cinco pessoas que tomem à frente do empreendimento. Ali você encontraria
réplica das canoas do Juá, tarrafas, Jequis, muito artesanato ribeirinho,
fotografias e mil outras peças que fariam bastante sucesso entre os seus
visitantes. Os acomodados ficam apenas aguardando uma iniciativa da prefeitura.
Não movem uma palha, em favor do resgate do maior acidente geográfico do sertão
e pai de Santana. E olhe que temos vários cursos superiores na cidade. Dizer
mais o quê? Até São João sem festejo pede o MEMORIAL DO RIO IPANEMA.
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