terça-feira, 23 de junho de 2020

ABRINDO O LIVRO DA HISTÓRIA


ABRINDO O LIVRO DA HISTÓRIA
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.331

Alvino consertava sombrinha; Zé Preto e Joaquim vendiam mangalhos na feira; Tributino consertava tarrafas; Dona Antônia era lavadeira; Zefinha, engomadeira; Maria Lula vasculhava casas; Mário Nambu, caçador; Alípio bebia cachaça; Seu Tô retelhava  residências; Caçador, cantava; Genésio era sapateiro; Otávio, marchante; Lourdes, macumbeira; Tina, rapariga; Zé Alma Dadinho e pai, sapateiros; tudo era gente da beira do rio, braço extensivo da cidade, entre as Ruas São Paulo e a de Zé Quirino. Uma página virada na história santanense, cheia de pobreza e vida. Anos 50-60, marcha lenta para a Santana rumo Século XXI. Esfarelando o geral da apresentação:
Zé Preto construiu um oratório na Pedra do Sapo, a pedra grande em forma de sapo que demarcava as cheias no Ipanema. Os vândalos destruíram o oratório, deixando só a escadaria. Mário Nambu, grande atirador no voo, caçava por encomenda. Maria Lula, abastecia sua pobre residência transportando água do rio em pote de barro com rodilha, carregado à cabeça. Sempre contratada para vasculhar as casas com vassoura da palha e vara comprida. Galega tipo alemã, ficava muito vermelha quando ingeria “pinga”. Seu Tô, moreno, calmo, era o retelhador número um de Santana. Chapéu único, tipo polícia montada do Canadá, ainda hoje faz falta em tempo de inverno. Alípio era beberrão. Diziam que ele fora jogador do time Ipanema, quebrara uma perna e se dedicara ao vício da embriaguez.
Esses personagens fazem o santanense voltar a bater na mesma tecla: MEMORIAL DO RIO IPANEMA. Temos abrigo ficando ocioso, escola fechada, ao abandono, matadouro desativado, qualquer um desses imóveis poderia abrigar o MEMORIAL. Está faltando a disposição de uma entidade, de intelectuais, de um grupo disposto de quatro ou cinco pessoas que tomem à frente do empreendimento. Ali você encontraria réplica das canoas do Juá, tarrafas, Jequis, muito artesanato ribeirinho, fotografias e mil outras peças que fariam bastante sucesso entre os seus visitantes. Os acomodados ficam apenas aguardando uma iniciativa da prefeitura. Não movem uma palha, em favor do resgate do maior acidente geográfico do sertão e pai de Santana. E olhe que temos vários cursos superiores na cidade. Dizer mais o quê? Até São João sem festejo pede o MEMORIAL DO RIO IPANEMA.


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