VIAJE COMIGO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.319
CARRO DE BOI. (CRÉDITO: FRONTIER). |
No
sertão nordestino, todo boi de carro, vacas e touro de fazendas têm nomes.
Esses nomes são inspirados em plantas, em outros animais, na paisagem, na
aparência da rês ou no que vier à cabeça. No caso de boi de carro, nunca saiu
da lembrança alguns desses nomes. Lá no povoado Pedrão, (´ ) município de Olho
d’Agua das Flores, onde eu passava minhas férias de criança, o carreiro Ulisses
cuidava pacientemente das parelhas que puxavam o carro de boi. É costume, no
sertão alagoano se usar no carro apenas
duas parelhas, diferentemente do que vimos em outras regiões com até mais de
oito animais; nunca pude entender tanto exagero. Pois bem, os dois bois de trás
que puxam diretamente o veículo são chamados “bois de coice”; e os dois da
frente que ajudam os de trás através de peça de madeira chamada cambão e
corrente, são denominados “bois de cambão.
Como
quem anda de carro de boi uma vez nunca esquece, quanto mais eu que viajei
tanto nesse tipo de veículo Santana – Pedrão via município de Olivença (antigo
Capim). Os bois de coice chamavam-se Ouro Branco e Paraná. Um era branco, outro
amarelo. A parelha de cambão também
tinha nome: Caçula e Sombrante. Sempre achei simpatia nessas denominações, mas
nunca indaguei ao carreiro Ulisses, qual o significado da palavra “sombrante”.
O carro de boi de tolda (esteira de pipiri amarrada aos fueiros com folhas de
coqueiro Ouricuri); os ruídos dos ferros das rodas nos lajeiros, minha tia
Delídia a reclamar dos solavancos da viagem, são coisas que permanecem na
memória. A passagem do veículo nos riachos do sertão, era alguma coisa mágica,
divina e doce. E o cantar suave do eixo nos cocões, parecia um salvo-conduto para
as estradas arenosas da caatinga.
Tentando
lembrar o roteiro, o carro saía de Santana pelo subúrbio Bebedouro/Maniçoba e
lá adiante descia para a região do sítio Jaqueira, proximidades do rio Ipanema
e, por ali, em algum lugar, atravessava o rio seco chiando na areia
grossa. Do outro lado entrava no
município de Olivença por ele continuando até chegar diretamente ao Povoado
Pedrão sem passar pela sede de Olho d’água das Flores. No povoado, entrava
pelos fundos, margeando a bela igreja branca do lugar. Veja como os simples nomes de bois dá um
romance! Ulisses era um carreiro preto, observador, paciente e irônico.
Temos
ainda a história da primeira vaca adquirida por meu pai a qual deu o nome de
Rosa Branca. Nunca vi animal tão formoso. Sua cria, tão bela quanto a mãe,
foi-me dada em forma de presente pelo meu pai e se chamava “Cambraia”. Ainda
tem as aventuras do nosso Touro ”Barriquinha” um turino terror dos outros
touros de Santana. Mas aí são outras histórias com nomes de bois, vacas e
garrotes.
I
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