segunda-feira, 10 de maio de 2021

 

O SOLTEIRÃO DA VOLTA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.530


 

O rio Ipanema entra na cidade de Santana pela periferia onde foi construída uma barragem, hoje assoreada. Ao passar pela barragem em cerca de 800 metros, faz uma volta e desce ruma ao São Francisco. Essa curva do rio sempre foi chamada “Volta do Ipanema” e que depois ficou apenas “Volta”. Atualmente a referência está em desuso e a nova geração talvez nem saiba disso. Pois bem, um dos escritores santanenses da família Monteiro, escreveu que visitou a Volta, quando rapaz e deparou-se com uma casinha solitária naquele lugar, descobrindo que era habitada por um homem solteiro chamado Satuba. Travara diálogo com ele e ficara sabendo sua vida.

Satuba contou que amava muito a uma senhorita, mas por não ser correspondido, resolvera trocar o amor à jovem pelo amor à Natureza. Viera morar ali na Volta onde era muito feliz. Tinha o Sol da manhã, o perfume das flores, o canto dos pássaros e a paisagem toda que o cercava. O futuro escritor fora embora pensando no caso de Satuba, mas não fala mais sobre ele em seus escritos. Embora o caso tenha acontecidos há muitas décadas, também fiquei curioso com a referência “Volta” naquelas páginas. Conhecendo bem o rio Ipanema, resolvi visitar a Volta dos tempos passados.

Manhã convidativa, saí pela Rua Nair Amaral, Bairro São José, chegando até a parte final da via com acesso ao rio. Contemplei o longo areal do rio seco e iniciei a travessia contemplando as craibeira novas que nasceram nas rachaduras das pedras para se tornarem as rainhas do Ipanema. Craibeira, árvore símbolo de Alagoas. Na “Volta”, não encontrei vestígio algum da casa do personagem de Monteiro. Havia apenas uma residência nova de alpendre, cujo fazendeiro aproveitara a foz do riacho Salobinho, afluente do Ipanema, onde fizera barragem, desviando a foz do riacho. Como era bem perto do Matadouro dei um pulinho até ali. Matadouro fechado não vi pelos arredores “nem um pé de pessoa” com diz o sertanejo. Sim, os pássaros estavam ali, o Sol, o mundo, mato perfumado, paisagem bucólica e bela, conferiam com as desculpas do solteiro romântico do escritor.

Não encontrei vestígios da história, mas diante do cenário ribeirinho e da ausência de humanos, compreendi perfeitamente a solidão de Satuba, o solteirão da Volta.

SEGUI PELA RUA NAIR AMARAL (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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Um comentário:

  1. Caro escritor Clerisvaldo, Esta denominação de a "VOLTA" trouxe-me lembranças tão boas da infância. Pois a primeira casa que fica depois da ponte da barragem (lado esquerdo de quem vai no sentido Poço das Trincheiras) pertencia a minha tia Emília Soares, esposa de Otacílio Bezerra (marchante e ex-volante que combateu em Angicos contra Lampião). Voltando aos nomes tempos, o nome NAIR AMARAL fez-me acudir nas reminiscências, a quem do passado estaria sendo atribuída o nome desta rua? Pensei numa professora que tínhamos mas era NARAIR. Quero quer que este nome esteja, salvo engano, grafada errado, talvez queiseram homenagear o famoso empresário da terra do fumo: MAIR AMARAL.

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