O
OURIVES
Clerisvaldo
B. Chagas, 5/6 de janeiro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.636
Já
dissemos que a Rua Antônio Tavares foi a primeira de Santana do Ipanema, após o
quadro comercial. Apelidamos a via de Rua dos Artesãos, pois havia inúmeros
deles. Artesãos que trabalhavam fazendo candeeiros, bicas (calha), sapatos,
selas, sofás, colchões, malas, capotas... E assim, sucessivamente. Certa feita
chegou à rua um preto alto e caladão e se estabeleceu na parte baixa, primeiro
trecho da rua de quem vem do comércio. Logo ficamos sabendo seu negócio:
trabalhava com ouro. O ourives logo demonstrou que entendia profundamente da
arte, conquistando bela freguesia. Era um mestre! Fabricava várias peças de
ouro, mas era muito procurado para confecções de alianças, cada uma mais
perfeita do que a outra. Naturalmente ensinava o ofício aos filhos e um deles
acompanhou fielmente a arte do pai: O cidadão Maurílio.
Um
dos filhos do ourives dedicou-se ao futebol. Era muito bom de bola e chegou a
jogar no Ipiranga. Parece que não tinha muita afinidade com a arte do pai.
Minhas alianças de casamento saíram daquelas mãos bem treinadas. No desenrolar
da vida, a família mudou-se de Santana.
Há bem pouco tempo parei de súbito em Maceió, na Rua Senador Mendonça ao
reconhecer o artesão da minha juventude, Maurílio Ourives. Era ele sim: Preto
comprido e fino, do mesmo jeito do passado.
Não ousei me apresentar e puxar conversa. Conversa para quê? O homem era
sisudo igual ao genitor, poderia não querer saber de conversa. Uma placa
indicava onde era o seu atelier. Maceió foi quem ganhou incorporando ao seu
cotidiano, um artesão de altíssima qualidade.
É
isso que os alunos gostam e aprendem no extraclasse. Visitar uma indústria
grande ou simplesmente uma fabriqueta. Entrevistar um artesão demostrando sua
arte, um museu, uma organização social... No caso do ourives que poderia ser
um, quanto interesse despertaria no jovem com o encanto do trabalho! Poderia
até depois querer seguir a mesma carreira do artesão ou entrar no ramo das
joias ou no comércio das pedras preciosas. Isso foi o que conversamos ontem com
amigos em visita. Uma avaliação da prática no ensino antigo e monótono de
apenas entre quatro paredes. Pois o exemplo de hoje vai para o amigo Maurílio:
brincos, anéis, alianças... A vida é uma joia animada.
Viva
a vida!
Assim
seja.
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