quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

 

O CASAMENTO NA ROÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.645




 

Zé Mulato não queria passar vergonha. Deveria seguir a tradição da zona rural. Não era rico, mas conhecido como barriga-cheia (pessoa equilibrada financeiramente).  E como não era todo dia que casava uma filha, sim, faria uma festa para ninguém botar defeito. Mandou abater o maior e mais gordo porco da fazenda; Galinhas, capãos, patos e guinés; um carneiro de 15 quilos e fez avaliação se precisaria matar um boi para assegurar a demanda. Um carro de boi chegou da “rua” repleto de bebidas e descarregado na ampla dispensa por trás da casa. Dona Creusa Mulato, sua esposa, trouxe as mais famosas cozinheiras dos arredores para o preparo dos quitutes.  Outras pessoas vieram para ajudar a abater os animais.  Da cidade, foram convidados o padre e suas comadres da Igreja.

A sobrinha de Dona Creuza, Tereza, que havia chegado recentemente de São Paulo, tomou à frente da parte do cartório, da Igreja, do vestido da noiva e de coisas semelhantes. Foi contratado um sanfoneiro que ainda se dizia parente de Luiz Gonzaga.  Enfim, dentro de um mês de corre-corre, estava tudo preparado para o grande dia. Inúmeros cavaleiros acompanhariam os noivos a cavalo e após o retorno da Igreja, teria início a festança em que Mulato calculara em três dias. Um cabra mal-encarado, sobrinho do pai da noiva, estava encarregado da segurança; esse nem bebia nem fumava, era só de olho duro em possíveis malfeitos.

A festança durou os três dias previstos por Zé Mulato. Forró dia e noite. Pela tradição, a noiva só poderia dormir com o noivo após a festa. O que coincidiria com os três dias previstos. Mas, devido o alto efeito da cachaça, não havia vigilância sobre eles. E acontece que após o cair da tarde, quando começavam a chegar as primeiras sombras da noite, ninguém via mais a noiva... Nem o noivo. Será que estavam rezando! Bucho tinindo de tanta comida e cabeça nos pares do forró, quem iria querer saber da noiva que não fosse a sua. E como tudo seus mistérios, até Zé Mulato e Creusa caíram no sapateado da sanfona. Os noivos estavam cansados de tanta espera.

A prima Tereza lembrou-se que ali pertinho havia um belíssimo arvoredo. Mas...Pensando bem...

Arvoredo não fala.

 

 


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