OS
IMPERADORES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de
2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3. 163
E se Otávio era imperador romano, em Santana do Ipanema, tivemos dois Otávios
de destaque local. Naturalmente não eram imperadores de Roma, mas imperavam de
outras formas. Eram o Otávio Magro e o Otávio Marchante, apelidos já
incorporados aos nomes de batismo. Otávio Magro morava na Rua Nova, casado com
dona Beatriz. Possuía uma Salgadeira na Rua Antônio Tavares, onde imperava
absoluto. Salgadeira era o lugar onde se colocava mantas e mantas de carne de
boi, em cochos de madeira, para, através do sal, transformá-las em carne-de-sol.
Funcionava na esquina do segundo beco da rua, no sentido Comércio - Rua São Pedro. Mantas de carne no cocho,
mantas de carnes já prontas, penduradas nos tornos de metal. Era chegar o
cliente, pedir a quantidade desejada e, Otávio Magro, geralmente caladão, magro,
alto, cabelo escorrido, passava a faca enorme amoladíssima na manta que parecia
manteiga, embrulhava, entregava e recebia o dinheiro.
O outro, o Otávio Marchante, andava com uma
faca na bainha pendurada na cinta. Falava muito grosso e era casado com dona
Carmelita. Morava na Rua Prof. Enéas e depois na Rua Antônio Tavares. Era
considerado o torcedor número 1 do Ipanema Atlético Club. Durante as partidas
de futebol, ficava rodeando o campo e gritando para quem quisesse ouvir: “Aí é
Joaozinho! Aí é Lau! Bola rasteira, meninos! “. Lau e Joãozinho eram jogadores
adorados pelo povo, principalmente da torcida que comparecia ao estádio Arnon
de Melo em dia de jogo com o CSA, CRB, Penedense, CSE, Capelense e mesmo com
times de Água Belas ou de outras cidades, em amistosos.
A Salgadeira de Otávio Magro, foi a única que
conheci em Santana do Ipanema, ao fechar, até o presente momento, ninguém teve
a ousadia de fabricar carne-de-sol daquela maneira. Quanto ao Otávio Marchante,
ficou bem marcado em vários trabalhos literários, porém o velho time Ipanema,
não resistiu às más administrações sucessivas, cansou, tombou na caminhada
abraçando o mesmo destino do seu maior rival na cidade o Ipiranga. Então é de
se perguntar, “Sem fábricas, sem futebol e sem esperanças, como se desenvolve
uma cidade interiorana? “
Deus salve o rei
ESTÁDIO ARNON DE MELO EM 2013.(FOTO: B.
CHAGAS/LIVRO 230).