segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

ALAGOAS: TURISMO REPETE COLONIZAÇÃO



ALAGOAS:TURISMO REPETE COLONIZAÇÃO
Clerisvaldo B, Chagas, 29 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.049

(SISTEMA CHESF/DIVULGAÇÃO)
       Notícias sobre turismo em Alagoas, nessa época do ano, são sempre auspiciosas. É aquela eterna citação de percentagem ocupacional dos hotéis da capital.  Nas praias da cidade, principalmente em Pajuçara, Jatiúca, Ponta Verde, é apresentada uma verdadeira babel de visitantes, pelas origens das Cinco Grandes Regiões Geográficas. Os atrativos principais para os viajantes são as praias mais bonitas do Brasil. Depois da caprichada urbanização naquela área e a intensa divulgação das belezas da orla, o fluxo turístico tem aumentado sensivelmente e no comércio praieiro é só comemoração. Mas também são procuradas outras fontes como museus, gastronomia, passeios lagunares e mesmo compras e visitas ao Comércio local. Atualmente o Turismo faz parte da cabeça econômica do estado.
       O sertão alagoano foi conquistado através do rio São Francisco. As expedições exploradoras e colonizadoras chegaram pela foz do Grande Rio, navegaram à montante e ocuparam gradativamente toda a região sertaneja. Somente muito depois foram surgindo com imenso sacrifício estradas para a capital. Atualmente, após centenas de anos no marasmo, o turismo vai chegando também seguindo as pegadas dos colonizadores, no sertão. Penedo, que sempre reinou só na área turística do interior, vai dividindo espaço com outros municípios ribeirinhos. Depois das filmagens da Globo em Piranhas, houve um despertar gigantesco para a hidrelétrica de Xingó, cânions da região, e roteiro para a fazenda Angicos onde foram assassinados Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros em1938.
       A tendência é que a expansão turística de Piranhas continue através de Pão de Açúcar, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado e Belo Monte, na área de caatinga. Mas nada vem de graça e será preciso muito empenho de prefeitos interessados em atrativos mínimos para os visitantes. Enquanto isso o Sertão mais distante do rio não acena uma palha para essa atividade. Parece dormindo em relação aos dólares e, ao que parece, está aguardando mais cem anos para que o Turismo venha após a consolidação no São Francisco. Não se considera o turismo religioso, de fazendas, de trilhas, de escaladas, religioso e gastronômico... Nada, absolutamente nada. Esta visão medieval é irritante e só deságua no umbigo dos coronéis
       Arre!  Quanto  egoísmo nos feudos!

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domingo, 27 de janeiro de 2019

LAMPIÃO: SURRA, ESTUPRO E PRAGA DE CANTADOR

LAMPIÃO: SURRA, ESTUPRO E PRAGA DE CANTADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.039

       08/09.01.1927. Cacimbinhas (AL). Lampião, “passando na casa de um roceiro o intimou a arranjar-lhe dois contos de reis. Muito longe de possuir essa quantia, saiu uma filha do agricultor peregrinando tentando arrecadá-la, mas só conseguiu setecentos mil reis. Louco de raiva, o bandido disse: ‘Eu vou aceitar essa porcaria, mas você, seu peste, fica deveno o resto – um conto e trezentos. E se quando eu vortar esse dinheiro não tiver contado, não fica ninguém vivo aqui’. Virgulino reuniu os cabras e já ia embora quando ouviu a moça dizer: ‘Eu só sinto é ver meu pai, velho e sacrificado, trabalhando para dá dinheiro a ladrão! Mas isso só vai servir para ele comer de pinto magro nas profundas do inferno!’. Lampião respondeu: ‘Como é a história, égua da peste?! Espere aí que eu vou te amostrar uma coisa!’ – e saltou do cavalo embaixo. A infeliz não conseguiu escapar. Teve as vestes rasgadas, foi estuprada e levou uma surra com chibata de couro cru de duas pernas de tanger animais.
       O cantador Manoel Nenen era um admirador de Lampião. Como tinha seus rasgos de valentia, o repentista dizia que só um monstro era capaz de fazer o que o bandido fez com a moça, inclusive de gente que ele gostava. E que gostaria mesmo de pegar Lampião na ponta do punhal. Não podendo, recolheu-se para fazer um ritual de pragas. Demorou-se ou não, Lampião tombou onze anos depois. Após a tragédia de Angicos, o célebre repentista de Viçosa, cidade da Mata Alagoana, cantou alguns versos, entre eles, estes:

Eu tava com raiva dele
Esta praga lhe roguei
Tu hás de ser degolado
Tu vais ver se eu me enganei
E assim o peste pagou
As mil bramuras que fez”. (42).

       Extraído do livro:
     CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 179-180-181.


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