LAMPIÃO:
SURRA, ESTUPRO E PRAGA DE CANTADOR
Clerisvaldo B.
Chagas, 26 de janeiro de 2019
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.039
08/09.01.1927.
Cacimbinhas (AL). Lampião, “passando na casa de um roceiro o intimou a
arranjar-lhe dois contos de reis. Muito longe de possuir essa quantia, saiu uma
filha do agricultor peregrinando tentando arrecadá-la, mas só conseguiu
setecentos mil reis. Louco de raiva, o bandido disse: ‘Eu vou aceitar essa
porcaria, mas você, seu peste, fica deveno o resto – um conto e trezentos. E se
quando eu vortar esse dinheiro não tiver contado, não fica ninguém vivo aqui’.
Virgulino reuniu os cabras e já ia embora quando ouviu a moça dizer: ‘Eu só
sinto é ver meu pai, velho e sacrificado, trabalhando para dá dinheiro a
ladrão! Mas isso só vai servir para ele comer de pinto magro nas profundas do
inferno!’. Lampião respondeu: ‘Como é a história, égua da peste?! Espere aí que
eu vou te amostrar uma coisa!’ – e saltou do cavalo embaixo. A infeliz não
conseguiu escapar. Teve as vestes rasgadas, foi estuprada e levou uma surra com
chibata de couro cru de duas pernas de tanger animais.
O
cantador Manoel Nenen era um admirador de Lampião. Como tinha seus rasgos de
valentia, o repentista dizia que só um monstro era capaz de fazer o que o
bandido fez com a moça, inclusive de gente que ele gostava. E que gostaria
mesmo de pegar Lampião na ponta do punhal. Não podendo, recolheu-se para fazer
um ritual de pragas. Demorou-se ou não, Lampião tombou onze anos depois. Após a
tragédia de Angicos, o célebre repentista de Viçosa, cidade da Mata Alagoana,
cantou alguns versos, entre eles, estes:
Eu tava com raiva dele
Esta praga lhe roguei
Tu hás de ser degolado
Tu vais ver se eu me enganei
E assim o peste pagou
As mil bramuras que fez”. (42).
Extraído
do livro:
CHAGAS,
Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião
em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 179-180-181.
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