SANTANA:
BARRAGEM AO CONTRÁRIO
Clerisvaldo B. Chagas,
31 de janeiro de 2019
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.051
BARRAGEM ASSOREADA. (FOTO: B. CHAGAS). |
Como
sempre, agora é o momento de se apontar barragens sem garantias por todos os
recantos do país. Não importa se a barragem é para contenção de rejeitos
minerais, de abastecimento d’água ou para qualquer outra finalidade. No Brasil
sempre que acontece algo grandioso, a procura de defeitos em coisas semelhantes
vira uma espécie de modismo. Em Alagoas, a Imprensa se apressa em apontar
barragens por todos os lugares, mais para mostrar serviços de que para qualquer
outra coisa. Até que serve de certo modo, mas quando a grande mídia deixa o
assunto de lado, tudo vai esfriando, e nada dá em nada, volta-se à rotina.
Ligeiramente são estendidos mapas de barragens do estado, alguém fala de uma ou
de outra, depois a novidade pula e tudo como antes.
Lá
na minha terra existe uma grande barragem assoreada. A exploração de areia,
patrimônio do povo santanense, é explorada abertamente no leito seco do rio
Ipanema e ninguém dá um pio. Riqueza desenfreada na lapidação do mineral do rio
que enriquece duas ou três pessoas e, o povo não vê um centavo da exploração.
Assim tudo vai acabando como acabou a barragem abandonada pelas autoridades.
Agora são os particulares explorando a areia do rio e acabando com o lençol
freático. Pobre rio Ipanema, atacado por todos os lados sem piedade. Além do
que foi dito acima, os esgotos domésticos e fossas despejando diretamente para
o rio, torna o trecho urbano do Panema um lugar execrável, fonte de inúmeras
doenças que vão desaguar nos postos de saúde e no hospital da cidade.
Além
disso, tudo se joga no rio e seus afluentes Salobinho, Salgadinho e Camoxinga. Penicos,
sofás, geladeiras, camas, animais mortos e o que mais vier a sua imaginação. Há
muito isso tudo já foi denunciado no livro “Ipanema, um rio macho” e até hoje
nenhum arremedo de reação. Os particulares não movem uma agulha contra os
descasos com o rio Ipanema, os políticos fazem de conta que são surdos e as autoridades...
Nem, nem. Mas as tragédias de outros estados são tão bem acolhidas que até
surgem páginas de luto. Enquanto isso o rio Ipanema vai gemendo, gemendo,
gemendo, como jumento sem mais forças com a carga.
Triste
povo que não limpa seu quintal.
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