terça-feira, 16 de julho de 2024

 

FESTA DE SENHORA SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.077

 



Mal terminou a Festa da Juventude, entra a Festa da Padroeira Senhora Santana, em Santana do Ipanema. O novenário propriamente dito tem início no dia dezessete, porém, a abertura acontece sempre no dia dezesseis com a tão esperada Procissão dos Carreiros.  São centenas de carros de boi que saem do Parque de Exposição Isaías Rego, a cerca de 2 km da cidade, em direção ao centro de Santana do Ipanema. Eles veem pelo asfalto ou pelo acostamento da AL–130, sempre escoltados por viaturas da Polícia Rodoviária. O carro de boi da frente conduz a as imagens de Senhora Santana, a padroeira, e seu esposo São Joaquim. Geralmente as imagens são conduzidas pelo padre da Paróquia nesse carro da frente, usando chapéu de couro, símbolo do homem rural nordestino e sertanejo.

A tão aguardada Procissão dos Carreiros já chegou perto dos 2.000 carros de boi no trajeto Parque-Centro, porém essa participação vem encolhendo ano a ano. Ou é falta de disposição de carreiros ou falta de carros na região. Sempre aparecem os curiosos para a contagem dos carros de boi e, teremos que aguardar a procissão para vê se sai algum resultado. Ao chegar ao centro da cidade, a procissão segue até o Largo Padre Bulhões, onde na praça multiuso, às margens do riacho Camoxinga, recebem as bênçãos da Igreja. Nem é preciso dizer que veem carreiros do Sertão inteiro para participar do evento religioso. Muitos acampam no Parque, um dia antes, num encontro saudoso e afetivo. A priori, Isaías Rego, nome do Parque, foi comerciante com armarinho, padaria e, fazendeiro em Santana do Ipanema.

O Carro de boi, mostra ter sido o primeiro veículo pesado do Brasil, desde os tempos coloniais. Foi feito para transportar volumes maiores de mercadorias, onde antes só existia o jumento, o burro e o cavalo. Só foi substituído com o advento do caminhão, dos primeiros caminhões que rodaram em nosso território. Ainda hoje existem regiões no país que utilizam ainda esse tipo de transporte, principalmente em zonas rurais nos sertões nordestinos e na Região Centro-Oeste. Ver um carro de boi hoje em dia, é se encher de saudosismo e melancolia nos que viveram a plenitude desses carros artesanais e manufaturados.

Não há quem conte no mundo as infindáveis histórias do carro de boi.

PROCISSÃO DOS CARROS DE BOI EM SANTANA DO IPANEMA (CRÉDITO: ALAGOAS NANET).


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segunda-feira, 15 de julho de 2024

 

O PANEMA NA FESTA DA JUVENTUDE

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.076

 



Enquanto a festa em Santana acontecia, o rio Ipanema deslizou de Pernambuco e ficou praticamente lado a lado no seu leito normal. Um ditado santanense antigo, do município, diz que “quando o rio Ipanema bota cheia o inverno será bom”. Esse ano nem precisou a cheia do Ipanema acontecer porque o inverno já estava sendo chamado de excelente.  Nunca tínhamos visto um tempo invernoso assim, chuvas fininhas, tanto de dia quanto de noite, intercalada de sol e céu nublado. Portanto o rio Ipanema veio apenas confirmar a riqueza que estar acontecendo no Sertão. Por outro lado, graças a Deus não foi confirmado o outro provérbio de Santana, tão antigo quanto as origens da cidade “Panema quando bota cheia leva um”. Não temos notícias de nenhum afogado até o presente momento.

Na foto da crônica, através da grade de proteção da ponte General Batista Tubino, vê-se em primeiro plano o Poço dos Homens e em segundo plano a continuação da cheia repentina. Desta feita, o rio não encontrou casa construída no seu leito, nem oficina debaixo da ponte e nem rua ocupando a sua calha. Por isso passou tranquilo sem mexer com ninguém. Suas águas já baixaram bastante e daqui a uma semana, já estará fornecendo peixes para as famílias pescadoras costumeiras, àquelas que gostam de peixe com farinha e assim alimentam os buchos das crianças.  Os primeiros dias de cheias fazem a limpeza do lixo jogado ali pelos humanos e, os dias seguintes assentam o barro, a areia e outras impurezas que as águas transportam. É ocasião de pesca e de banho.

E mesmo com muitas festas e barulhos nas ruas de Santana, o rio Ipanema continua tranquilo, sereno e sinuoso como nos velhos tempos da nossa juventude. A Pedra do Sapo, lá no Minuíno, ainda hoje marca a intensidade das cheias em: pequena, média ou grande de acordo com as águas aos seus pés, à sua cintura, ao cobrir a sua cabeça. A ponte engoliu as negras canoas compradas em Pão de Açúcar, formulou o progresso da margem direita e incentivou suicídios aos fracos na sua baixa murada. Diante de ruídos de motores, foguetórios, sons de paredões e gritos alucinados, o rio Ipanema escorre invisível e sereno cumprindo seu destino de mais importante acidente geográfico do Sertão alagoano.

Orgulho sertanejo!!!

RIO IPANEMA VISTO PELAS GRADES DA PONTE, EM PLENA FESTA DA JUVENTUDE. (FOTO: B. CHAGAS). 2024.


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