LAMPIÃO PULA, MAS NÃO SOBE Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2012 Lampião , com sua personalidade complexa, embora não risse aber...

LAMPIÃO PULA, MAS NÃO SOBE

LAMPIÃO PULA, MAS NÃO SOBE
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2012



Lampião, com sua personalidade complexa, embora não risse abertamente, variava muito de humor. Gostava de mandar recados espirituosos tanto para os coronéis fazendeiros, autoridades militares em geral, quanto para governadores. A confiança em dizer tudo que queria a quem desejasse dizer e na hora do desejo era alimentada pela vaidade oriunda do êxito dos seus combates. Assim, à medida que aumentava a confiança em si mesmo e na fama que se expandia com certa velocidade, ia ficando mais saliente nas suas frases catadas pelo povo. Usava o nome ou prenome dos indivíduos para os chistes baratos de cada dia. Para o tenente Bezerra, mesmo, chefe das volantes em Alagoas, deixou um recado irritante e até certo ponto merecido: “Diga ao tenente que não tenho medo de boi velhaco quanto mais de bezerra”.

Acreditamos ter sido em 1926, quando descia do Ceará, Pernambuco, em direção a Alagoas, enganado com a patente de capitão, armado até os dentes que aconteceu o fato.

Deslocavam-se de Santana do Ipanema o sargento Tenório e o cabo Jacinto em direção a Mata Grande e Água Branca, extremos do oeste alagoano. Os dois militares levavam o soldo dos companheiros que atuavam por àquelas bandas. Ambos a cavalo, iam sempre encontrando fugitivos em sentido contrário, que avisavam dos avanços de Lampião rumo a Santana do Ipanema. O sargento era comedido, mas o cabo, arrogante, cheio de piadas e imprudência que só se encontram nos malucos. À boca da noite ambos pararam em uma casa e o cabo foi pedir guarida para o pernoite, enquanto o tenente foi ao mato. Parte da cabroeira de Lampião chegou a casa com os mesmo propósitos, avistando os dois cavalos amarrados. O cabo Jacinto foi preso e acabou-se a arrogância. Uma batida foi feita no escuro, mas o sargento escapulira de lá mesmo de onde estava. Lampião chegou em seguida e indagou “por que esse macaco ainda está vivo?”. Eliminado o cabo Jacinto, Lampião arrancou suas divisas e as colocou no bornal. Entre um a três dias depois, O bandoleiro invadia a vila de Olho d’Água das Flores e mandava as divisas para o governador do estado Costa Rego, com a sua nova tirada humorística: “Diga a ele que eu salto riacho quanto mais rego”.

Lampião não temia boi velhaco. Virgolino era acostumado a escalar arvoretas como imbuzeiro, goiabeira, pereiro ou angico que é um troço cheio de nós dificílimo de abraçar. Não conhecia o loureiro ou louro, árvore originária do Mediterrâneo, cujas folhas serviam de coroas para os vencedores gregos e romanos. E assim, um pouco mais de dez anos após dizer que não tinha medo de Bezerra, desse mesmo animal levou um coice para sempre na grota dos Angicos. E como mandara um recado para o, então, governador Costa Rego dizendo que saltava riacho quanto mais rego, muito bem o rego ele saltou. Mas na hora de subir a árvore não era mais o pé de imbu. À nova árvore do palácio, governador Osman Loureiro que ele não conhecia, não conseguiu subir. Salta riacho e rego, mas não sobe no Loureiro. Que coisa feia! LAMPIÃO PULA, MAS NÃO SOBE.

LAMPIÃO, LUCENA E A CIDADE Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2012 Mesmo antes de 1920, o sargento José Lucena de Albuquerque Mara...

LAMPIÃO, LUCENA E A CIDADE

LAMPIÃO, LUCENA E A CIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2012


Mesmo antes de 1920, o sargento José Lucena de Albuquerque Maranhão (Zé Lucena) já atuava contra o banditismo. Trabalhando em Viçosa, Zona da Mata alagoana e região de Água Branca, no extremo oeste do estado, ia aos poucos, o sargento duro, sério e determinado, mostrando sua coragem aos sertanejos. Ao chegar a década de 20, Lucena consolidou a sua bravura, principalmente ao receber do governo Costa Rego a incumbência de varrer o território de toda a sorte de bandido que perturbava a sociedade, como cangaceiros, valentões e ladrões de cavalos. Com a revolução de 30 houve reveses na vida disciplinada de Lucena, quando chegou a ficar na detenção. Renascido das cinzas, voltou à zona sertaneja com carta branca e muito prestígio, assumindo o comando do recente 2º Batalhão de Polícia com sede em Santana do Ipanema, em 1936. Em Santana, o chefe político, primeiro professor da cidade, senador e coronel Enéas Araújo, já não existia. A outra força civil e econômica, coronel Manoel Rodrigues da Rocha, também não estava mais vivo. Era o coringa com seu reinado absoluto, desde a morte do coronel, em 1920, o padre Bulhões que mandava em tudo em Santana do Ipanema. Lucena juntou-se a ele numa parceria unha e carne no equilíbrio esdrúxulo entre a espada e a batina.

O batalhão era a sede de todas as forças volantes, espalhadas em pontos estratégicos do sertão, tendo Lucena como comandante absoluto e o tenente João Bezerra como chefe dessas volantes, não deixando de comandar, porém, a sua própria organização. Inflexível cumpridor do dever e reconhecido como um dos mais bravos oficiais do Nordeste a perseguir Lampião, deram-lhe o apelido de inimigo número um em Alagoas, do bandido Virgolino Ferreira. Apesar de chefes de volantes valentes e resolutos como Porfírio, Joaquim Grande, Calu e depois um aspirante Francisco, Lucena foi tolhido em suas ações pelo jogo duplo do tenente Bezerra que se tornou amigo e coiteiro de Lampião. Com o cabeça do cangaço, o chefe das volantes vivia a jogar baralho, a comer buchada e a fornecer munição, quando disso mais precisava Virgolino, espremido entre Sergipe e Alagoas, acossado pelo Nordeste inteiro. Após a denúncia forçada dessa situação vexatória do Velho Bié das Emendadas e o aperto de “pocar o cocão”, do governo estadual, vai chegando o início do fim para Lampião.

Lucena, tendo agora o verdadeiro herói de Angicos nos calcanhares de Bezerra (espião, honesto e duro aspirante Chico Ferreira) e o tenente Joaquim Grande deslocado para a zona das Emendadas, quebra-se a corrente Bezerra-Lampião. O prenúncio é o ataque pressionado de Bezerra a fazenda Patos, o ataque de Gato e Corisco a Piranhas e uma sucessão de combates menores, ─ agora inspecionados de perto por Lucena ─ até o epílogo do todo poderoso Lampião em Sergipe, na Grota dos Angicos, em 28 de julho de 1938. De longe os repórteres perguntavam sobre LAMPIÃO, LUCENA E A CIDADE.




FERNANDES LIMA Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2012           Não. Não queremos falar sobre o indivíduo em si, sua personalidade ...

FERNANDES LIMA

FERNANDES LIMA
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2012

          Não. Não queremos falar sobre o indivíduo em si, sua personalidade de homem público na história das Alagoas. Estamos nos referindo, na verdade, a comprida lagarta cinza que nos conduz ao centro de Maceió. Lagarta essa que na capital alagoana é responsável por uma grande dose diária de nervoso do trabalhador. Os condutores dos milhares de veículos que por ali trafegam, quando não levam o chamado credo na boca, pronunciam sonoros palavrões de coleções diversas. O mínimo descuido do motorista que fala mal da sogra ou da ponte que caiu, poderá levá-lo ao embrulho das ásperas discussões, aos degraus das delegacias ou mesmo ao esbranquiçado muro de cemitério. Enfrentar um calibre 38 na boca do caixa, não é raridade para os que dão ou sofrem desde os famigerados triscas a coisas mais sérias que infernizam a hora e a vez. A passagem obrigatória diária pelo trecho vai fazendo parte do termômetro do humor santificado. Além da fila, congestionamento e batidas, os sons de veículos socorristas vão berrando nos seus ouvidos como programados filmes fantasiosos japoneses da nova geração.
          Planejam soluções; por cima, por baixo, de lado, enquanto o tempo avança sem aguardar as finais “peiticas” políticas, arrepiadoras de cabelos. Mas as montadoras que estão no Brasil não querem saber sobre esse importante departamento e não param a produção de novas máquinas em busca de recordes extraordinários e de lucros formidáveis. A última novidade é um projeto para engolir o canteiro central da avenida com seu jardim quilométrico e um assentamento “bacana” de trilhos de ferro para o chamado metrô de superfície. Ninguém ignora mais que uma das soluções para o trânsito avassalador, é o transporte coletivo de qualidade, principalmente nas grandes metrópoles. Não custa nada perguntar ao leitor esperto, se após essa realização, não impossível, as fábricas irão dar um tempo na produção de carros de passeio. Com o poder aquisitivo em ascensão, cada pessoa desse país almeja possuir seu próprio transporte, provado ser um dos três primeiros desejos do homem moderninho. Como, então, solucionar esse problema em definitivo, substituto dos fogosos cavalos de sela dos séculos XIX e XX?
          Conhecemos vários profissionais taxistas do interior no engano da capital. A Fernandes Lima sempre foi citada como fator número um na desistência da profissão ou no retorno às origens. Mas a avenida acima não é hoje sozinha a culpada do estresse no tráfego de Maceió. Tem outras vias construídas para desafogar e que estão agora sendo chamadas “Fernandinhas”. Você pode até dormir com elas, mas que estão ficando “cabulosas”, não tenha dúvida. As curvas estão no padrão que você gosta, porém, os inconformados dizem que o buraco é mais embaixo. Bem, questão de buracos já pertence à outra repartição. Quer arranjar um caso com as Fernandinhas ou fica com a mãe mesmo, a encrenqueira Avenida FERNANDES LIMA?